Quero
falar do estouro da segunda obra de minha conterrânea, amiga e ex-catequista, de dupla cidadania (brasileira e norte-americana) e não de agruras humanas que precisam ser evitadas daqui para a frente e
sempre.
Além
da escabrosidade de Brumadinho, temos outras e milhares até que ocorrem não só
neste país, mas também no mundo. Aqui no Brasil, principalmente, há um estouro
de humilhação decretado sobre umas profissionais que merecem ser adoradas mas estão
sim, sendo achincalhadas. Digo achincalhadas porque eu próprio já fui escarnecido
em duas escolas de nossa região. Saí delas de cabeça erguida, mas chateado com
a nossa situação cultural. Numa das escolas rasgavam livros como não se faz sequer com lixo, esse já pode ser reciclado quando o povo é civilizado.
Não
vou discorrer sobre tristezas, mas, apenas expor uma comparação, porque aqui,
agora, estou me referindo ao êxito alcançado por minha querida catequista, que
ela própria conta nas páginas 129 e 130. Narra que foram elas (Conceição e Lúcia) saudadas, glorificadas, fato ocorrido no ano de 1951. Vou
transcrever apenas um trecho do livro para que todos sintam mais palpável a
informação:
“A
POPULAÇÃO DE SÃO SEBASTIÃO HOMENAGEIA DUAS JOVENS PROFESSORINHAS
—
Quando voltamos para São Sebastião, após o término de nossos estudos em Ferros,
tivemos a surpresa agradável de sermos homenageadas pelos conterrâneos. Fomos
recebidas com muito carinho. Todos se reuniram e se dirigiram à nossa casa na
rua Bonfim, com banda de música. Pessoas simples, amigas, amadas por todos nós,
foram nos dar boas-vindas e desejar-nos um futuro amplo e feliz”.
Viram?
Sentiram? Década de 1950 numa pequena vila do Estado de Minas Gerais
saudou duas professoras formadas, que chegaram para substituir as leigas. Elas foram buscar
conhecimentos e a terra natal se rejubilava, se sentiu orgulhosa por isso. Comemorou feliz da vida, com fogos e banda de música (e também marujada, que ela não mencionou).
Se o ato fosse filmado na época, se alguém guardasse as películas, se agora
apresentasse para a geração atual, o que
ocorreria?
Respostas:
primeiramente, perguntariam se “Era o governador do Estado, o presidente da
República, algum famoso deputado ou senador ou ministro que chegavam a São
Sebastião?” Depois outra pergunta: “Ou seria a chegada triunfal do Papa Pio XII ao
arraial?” Ninguém esperaria a resposta. Então, conteríamos a curiosidade de outras pessoas assim: “Não. Apenas duas professoras que se formaram, duas filhas de
Lulu Garcia e Dona Isaura, que chegaram com diplomas nas mãos e conhecimentos
para transmitir e foram trabalhar na escola local”.
Aí a
diferença: o que era uma professora antigamente? E o que é hoje? Não vou tomar
o tempo de cada um. Deixo a resposta a estas duas últimas questões para o
leitor, para ele próprio matutar com os seus botões e fechos-ecleres. E acrescento
mais três questões simples:
—
Que povo é o mais sábio, o de hoje ou o da década de 1950?
— O
professor perdeu o prestígio por culpa própria ou por que a cultura do povo se
degradou?
—
Não temos mais solução para este problema?
Por
enquanto é só. O sucesso será maior quando todos lerem o livro de Maia. De
minha parte, agora a missão é aguardar a edição em inglês, a cargo do genro da
autora, Tomas Eldridge, o Tom, e, depois, a terceira obra que já tem assunto
estourando por aí.
E me
desculpem por usar o verbo estourar. É para contrabalançar ao momento em que
vivemos. Para cada tristeza, uma grande alegria de contraponto. Maia é a nossa alegria. Abraço
a todos.
José Sana
Em 29/01/2019
(Foto: Geraldo Quintão)
(Foto: Geraldo Quintão)