Não
sou profeta. Talvez venha ser no futuro. A bíblia prevê, por não sei qual
autor, capítulo tal e versículo também tal (não aprecio decorar leis, quanto
menos sagradas, prefiro acreditar nelas e segui-las), que “vossos filhos
profetizarão”. Mas não é este o meu caso e vou deixar aqui apenas como evidência estarrecedora. Eis
o óbvio para este quase profeta: a Vale vai embora do Sistema Sul (região
mineira), cujo polo mineral está em Itabira há quase 77 anos.
Aliás,
a empresa já anunciou, por meio de seu presidente, Flávio Schvartsman (o mesmo
que chorou ontem durante a tarde inteira deste fatídico 25 de janeiro, numa
reportagem sobre a tragédia de Brumadinho), que em 2028 a mineradora encerraria suas atividades no Sistema Sul. Contudo,
porque o ser humano gosta de teimar muito e de sentir-se naquele pensamento retrógrado
chamado “me engana que eu gosto”, autoridades itabiranas e até mesmo
representantes menos graduados da empresa começaram a inventar um monte de
motivos para negar o anúncio presidencial.
Apareceram
os preguiçosos e medrosos com as justificativas divididas meio a meio entre infundadas
e aceitáveis, usando argumentos próprios
para esquinas, botecos e velórios, mais ou menos os seguintes:
-
podemos melhorar a qualidade do minério de ferro do Sul e quase igualar o
percentual ferrífero ao de Carajás, que roubou a nossa liderança;
- as
instalações industriais de Itabira são caríssimas e não podem ser desmanchadas
a bel prazer de abandonar semi-riquezas espalhadas em Conceição do Mato Dentro,
Morro do Pilar, Mariana, São Gonçalo do Rio Abaixo e outros setores minerários;
-
ainda há grandes reservas na região, que podem ser “enriquecidas” se levadas a
instalações de concentração que não poderão ficar ociosas;
- o
itabirito duro acaba de ser chamado de terceira safra do minério de ferro, cuja
usina entrou em funcionamento recentemente em Itabira. E por aí vai...
É de
se notar que apenas o presidente da grande empresa e uma meia dúzia pingada de
diretores defenderam seus pontos de vista, enquanto parte menos votada da
mineradora ficou dando asas aos políticos que temem ter que enfrentar sozinhos
a onça da realidade, qual seja de dar uma guinada de 360 graus na vocação
econômica.
É
certo que o prefeito Ronaldo Magalhães já está negociando com a Vale e também
anda cuidando de fazer parceria com chineses na busca do caminho para
consolidar a Universidade Federal, criar o Parque Científico e Tecnológico e
tornar tangível o Aeroporto Industrial. Com certeza, ele e sua equipe estão trabalhando com planos A, B e C, é claro, para se ter mais segurança.
Mas
o solitário Schvartsman, que derramou lágrimas ao vivo e a cores nesta terrível
sexta-feira, parece que a ele restou se manter
apenas cantando, mesmo e apenas no
banheiro, ou emitindo som inaudível no apelo da melodia de Tim Maia, “Me dê
motivos”. O diretor-presidente cantava,
sim, até mesmo quando nada tinha a fazer nos fins de semana e, sem esperar,
dentro da angústia que demonstrou ao
Brasil inteiro, que o motivo de sair de Itabira e do Sistema Sul estava
decretado por uma ocorrência brutal e que nunca mais será esquecida na história
da grande mineradora nascida em Itabira, em 1942. Motivo, sem tirar nem pôr nenhum
substantivo, adjetivo, advérbio ou uma metáfora: Brumadinho, onde mortes
incontáveis estão sendo multiplicadas por números quase infinitos.
Agora,
gente brasileira, mineira e de Itabira, a saída é ter coragem, tornarmos machos
e fêmeas de verdade e não covardes e
preguiçosos, e arregaçarmos as mangas. O
objetivo: partir para salvar Itabira
economicamente, e a região, porque já
acordamos, pelo menos aqui e sabemos que as oito barragens ameaçadoras não
podem mais receber toneladas desta bomba atômica cruel chamada rejeito de
minério de ferro.
José
Sana
26-01-2019
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