sábado, 25 de janeiro de 2020

AU REVOIR


Antigamente eram dois apenas, biblicamente falando: Adão e Eva.
Em mais um tempinho, ou tempão, porque o primeiro casal viveu cerca de mil anos, aportaram-se mais dois no mundo: Caim e Abel. Somaram-se quatro.


Mas Caim matou Abel e o censo mundial ficou em três cabeças, ou seja, a caída se registrou em 25%.


Segundo a bíblia, Adão gerou mais filhos e, entre outros: Set, Cainan, Enós, Malaleel, Jared, Henoc, Matusalém, Lamec, Sem, Cam e Jafé. Noé apareceu e, crescido e velho, mas forte e idealista, construiu a tal arca de que tanto falam. E não havia Climatempo para avisar que vinha toró por aí. Quem avisou a Noé a vinda do chuvão? Ele guardou o segredo da ordem divina para que salvasse as origens, por pares naturais.  Morreu todo mundo não socorrido no dilúvio e salvaram-se os  resgatados. Acho que nós éramos da turma que se aglutinou na abençoada arca. E estamos aí.


Hoje, 25 janeiro de 2020, estima-se que a população do mundo tenha chegado a 7,7 bilhões, aproximadamente, de acordo com os ditos entendidos. As Nações Unidas preveem que a ralé humana chegará  a até 11,2 bilhões em 2100. Quem viver verá.


Conclusão: quanto mais gente, mais poluição, mais doenças, mais problemas, mais desafios. Peste, fome, guerra, desgraça, horror, terrorismo – quem inventou tantos substantivos não fui eu, nem você. E ainda os bordaram com os piores adjetivos. Quem não se ateve ao fato, acorde que o relógio despertador está tocando sem parar. É hora de fazer alguma coisa, planejar, executar, agir.




Há bem pouco tempo — e eu estava neste mundo já — a poluição terrestre se resumia de pequenas cutucadas nos barrancos a gambiarras construídas em beiras de córregos e rios.  Tinha um ou outro probleminha cuja culpa caía, irremediavelmente, no próprio ser que ergueu a sua choupana em lugares impróprios. O lixo nem era conhecido desses incautos terrestres, nós os cegos.


Córregos e rios fluíam livremente. As nascentes mandavam com limpidez a água cristalina para as casas, recolhido o H²O em bicas. O homem não tinha Saae/IT, nem Copasa/MG, nem Cedae/RJ, nem Sabesp/SP, e vivia muito melhor. O aumento populacional incontrolável (primeiro problema) gerou o nascedouro dessas companhias fornecedoras do conhecido e chamado precioso líquido.


O mundo perdeu o freio. O Brasil disparou sem contenção, mais que a média mundial, em desafios. As populações se concentram em pontos nos quais o dinheiro circula mais (segundo problema: esse é, na prática, o deus do mundo). Muitas terras no Mato Grosso, Amazonas e estados do Nordeste ficaram e permanecem praticamente abandonadas. O Brasil tem estados, a exemplo do Acre, que nada produzem. Moradores acreanos (ou acrianos), como outros na vizinhança, vivem exclusivamente das merrecas enviadas pela União.


Estamos nos maiores pontos de concentração dos aglomerados urbanos do país. Cada um levanta o seu barraco onde pode, de acordo com o seu poder aquisitivo, com materiais de primeira, segunda, terceira categoria e até de papel e tábua podre. Os espertos fazem aterros e vendem para os distraídos e de poder aquisitivo baixo. Os barrancos dos pontos ocos são cobertos com lonas de há muito tempo, que nada resolvem. Onde era vegetação natural não sofre ameaças, mas noutros lugares concentram-se os riscos.


O novo problema, dos maiores (o terceiro), é o tal lixo. Segundo dados oficiais, o Brasil produz 11.355.220 milhões de toneladas de escória plástica por ano. Cada brasileiro tutela 1 kg desse lixo plástico por semana. Essa média dobra por habitante quando se incluem outras sujeiras. Os detritos entopem bueiros e provocam transbordamento de regatos, córregos e rios. Outros fatores, lembremo-nos do criminoso asfalto, provocam as enchentes, que arrastam e matam  tudo e todos os que aparecem pela frente.


A chuva foi inventada por Deus para molhar a terra e dar vida a ela. Daí surge a alimentação de toda a raça global. Existe, desde os tempos bíblicos, ou melhor, a criação operada por Deus. Ela reveza com o sol no processo de adubagem normal do solo e do subsolo. Tanto a rejeitaram que “sua excelência” (deveria ser chamada assim e não os políticos) passou e se estacionar retida por um bom tempo em algum ponto da atmosfera. Como exemplo, vê-se claramente que o sol era e é de “rachar catedrais”, como diz o linguajar popular. Fim de dezembro e início de janeiro, meses recentes, ninguém suportava se expor a ele por muito tempo, nem nas praias ou beiras de piscinas. Fechado em quatro ou mais paredes, o morador passou a depender do ventilador ou do ar-condicionado. Mas o metido a inteligente não via, principalmente os adoradores do mar, das piscinas e os amantes da vida mansa e imediata, o perigo diante de si.


Em tempão retida, onde quer que fosse, fez a chuva tomar um rumo fácil de ser afirmado, enquanto cair, cair, cair era e é o seu sonho normal e natural. “Chove chuva” — não cansou de cantar Jorge Benjor com a sua bela voz, mostrando a beleza e a necessariedade dela, que merece por vezes e por pessoas lúcidas ser chamada de bênção, até de “linda de morrer”. Ou viver.


Armada a arapuca pelo próprio ser humano — esse não planejou as populações; construiu em ribanceiras e encostas; entupiu a passagem da água com lixos de todas as classificações possíveis; desmatou o quanto ambicionou; enfim, fez o que quis e o que não lhe mostrava resultados negativos imediatos — até que setores especializados em meteorologia anunciaram para um mero fim de semana, mixos quinta, sexta e sábado, talvez domingo — que haveria catástrofe no seio das moradias do impertinente, cego, surdo, doido, burro, tolo, idiota e babaca criminoso ser humano.


O resto nada mais preciso acrescentar porque nós mesmos preparamos o nosso meio-fim, sabendo que o fim total está prestes a vir, talvez já. Não adianta, também, chorar o leite derramado, a armadilha nossa para nós mesmos só teria um jeito de ser desmontada: a conscientização geral. Mas o incorrigível habitante do globo terrestre sabe pouco, ou nada do meio-tudo ou do  tudo-total e, infelizmente, o sonhado milagre não vai ocorrer.


Encerrando este texto, só tenho um toque a dar aos raríssimos que me leem e pouco em mim acreditam, e o faço numa linguagem muito conhecida pelo mundo afora, escrita em francês: “Au revoir ou même plus jamais!”


José Sana
Em 25/01/2020

5 comentários:

  1. Excelente alerta! Tomara que surta algum efeito!

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  2. Texto saboroso, mesmo com o final sem esperanças...

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  3. FANTÁSTICO. O GRITO ENSURDECEDOR DAS PALAVRAS COM ENCAIXE E SINCRONIA,...
    ASSIM TEMOS UMA GRANDE SINFONIA REAL E QUE POUCOS VÃO OUVIR NA SUA PLENITUDE...
    PARABÉNS ZÉ DO BURRO...E QUE DE BURRO NÃO TEM NADA.

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  4. FANTÁSTICO. O GRITO ENSURDECEDOR DAS PALAVRAS COM ENCAIXE E SINCRONIA,...
    ASSIM TEMOS UMA GRANDE SINFONIA REAL E QUE POUCOS VÃO OUVIR NA SUA PLENITUDE...
    PARABÉNS ZÉ DO BURRO...E QUE DE BURRO NÃO TEM NADA.

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  5. FANTÁSTICO. O GRITO ENSURDECEDOR DAS PALAVRAS COM ENCAIXE E SINCRONIA,...
    ASSIM TEMOS UMA GRANDE SINFONIA REAL E QUE POUCOS VÃO OUVIR NA SUA PLENITUDE...
    PARABÉNS ZÉ DO BURRO...E QUE DE BURRO NÃO TEM NADA.

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