segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

FIM DO GLOBO MAZELA E CHEGADA DO PLANETA PAZ

O mundo está seguindo endiabrado, atropelando rios,  mares, rochas e montanhas, sem plano, sem destino. Diria o poeta que somos uma nau sem rumo. Quer mais evidências? Só preciso agora mudar o nome deste planeta. Retirem Terra e acrescentem Mazela. Estamos no Planeta Mazela.

Um dia perguntei a um delegado de polícia  se ele sonha em acabar com o crime definitivamente. Sabem o que ele me respondeu? “Cê tá doido, moço! Acabar com o crime e de que eu vou viver? E o leite das crianças? O produto que paga o meu salário chama-se desgraça!” Antes de encerrar o papo, perguntei a ele qual a função da polícia. Ele foi taxativo: “É uma controladora, só isso”.

Minha ficha caiu. Imaginei-me questionando um médico sobre algo parecido, só mudando  de crime para doença, e  já antecipei um retruque imediato:  “Cê tá doido?”  Eu próprio me coloquei no lugar dele e completei: acabar com doenças, hospitais, médicos, enfermeiros, quantos ficariam sem emprego, sem dinheiro, morreriam de fome? Acabam-se laboratórios, universidades, pesquisas, equipamentos, investimentos em projetos, tudo.

Mas a  ficha não caiu apenas por causa de crimes e doenças. Continuei perguntando de mim para mim: e o jornalismo, os impressos, rádios, televisão, internet, o que seria deles sem crimes e sem doenças? Não existiriam repórteres, gente informando, prestando serviços, máquinas registrando e uma parafernália de objetos.




Para que informar que tudo é paz? A paz nunca é notícia, só alguns doidos e o papa falam nela e sonham com ela. E a mencionam porque existem conflitos, desentendimentos, corrupção, roubos,  traição, safadeza, discórdia, guerra. Diria que haveria uma só manchete no último jornal do mundo assim estampada: “A paz chegou. O jornal acabou”.

Muitas fábricas fechariam suas portas e demitiriam milhões de funcionários. Param de fabricar armas de fogo, canhões, mísseis, armas nucleares. Não existem  mais desavenças porque quem manda agora é a paz. E cadê o terrorismo? Gato comeu. O Oriente Médio seria uma falta de graça de desanimar, sem homens-bomba, sem ataques destrutivos, sem perigo. Vejam só que substantivo chato sumiria do dicionário: perigo. Adeus, seu tira-prazeres!

O meio ambiente se transformaria num ambiente inteiro. Aí, sim, ninguém cogitaria de se prevenir, podem poluir, sujar, porque tudo é um equilíbrio só. Para que prevenção se somente coisas boas acontecem? Não há mais enchentes, nem ciclones. Para completar, é o fim de terremoto, maremoto, furacão, tornado, tsunami.  e chuvas de granizo. Não há desabrigados, portanto, não se requer profissionais para cuidar deles.

Aí entra o cidadão formado em ciências contábeis, ou os auditores, e estufam o peito. Ah, esses têm função! Diria que sim, talvez, mas se não existe mais a pobreza, não há mais a necessidade de fechar o balanço. Queiram ou não, o débito sempre empatará com o crédito, sem a necessidade de inserir contas de perdas e danos, ou prejuízos no meio.

Se não existe nem crime, nem doença e a preguiça comanda mais da metade das populações, vamos dar uma merecida aposentadoria para os financistas. Afinal de contas, a falta de dinheiro é que cria muitos pesadelos em nossas vidas. Agora tudo é mansidão, alegria, riqueza, abundância, fortunas e já enfiamos o pé no traseiro da tristeza.

Alguém  me  sopra  no ouvido e pergunta se o  esporte termina também. A dedução  é simples e natural. Se sumiram a fome, a doença, o crime; se não há tristeza, acabou, irremediavelmente, a aflição, a mágoa, o pesar, consequentemente, não há mais derrota, só vitória. Diria que dois times de futebol entram em campo e ambos vencem sem empatar. Inimaginável, mas é o novo mundo que desejamos. Dormimos nas arquibancadas. Ou não?

Querem saber de mais alguma coisa? Vou terminar por aqui porque estava sonhando com um mundo diferente e deu nisto: fiquei sem assunto. 

José Sana
Em 27/01/2020

2 comentários:

  1. Boa noite amigo, parabéns, mais uma crônica linda e para refletir. Você consegue provar que o mundo em que vivemos é do jeito que deve ser. Um abraço.

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