sábado, 25 de junho de 2022

No decorrer da vida


No quase mesmo sentido captado de Nelson Rodrigues (1912-1980), o título do livro mencionado aqui tem muito  de “A vida como ela é”, ou seja, não esconde felicidade e dor no mundo, embora que no escritor e teatrólogo seja pura ficção e  na estreante literária, verdade intocável e insofismável. Estou me referindo à obra de Maria Raquel Penido Rosa, “No decorrer da vida” (BH: Rona Editora, 184 p. R$ 35,00), irmã da premiada Rosemary Penido de  Alvarenga, que lhe deu uma mãozinha familiar por conta de problema de saúde.



Tão logo começou a circular entre amantes da literatura itabirana a onda promissora de "memórias de uma economiária", corri para buscar, ler e devorar, como sempre fiz com as obras de Rose Penido. Minha curiosidade, clara e  inquestionável, é explicada:

— Maria Raquel, que conheço do trabalho na Caixa Econômica Federal;  também por seu marido, Maurício, um gentleman; idem pelo sogro, Rosinha (in memoriam), com quem batia papos antológicos em sua loja; 

— por ser, inegavelmente, uma mulher corajosa e determinada, comprovadamente;

— por descrever quase exatamente o tempo de minha chegada e permanência (que continua)  em  Itabira  nas décadas de 1970, 80, 90 e, então, relatar fatos checados por mim em vários tópicos;

— por incluir alguns  personagens de meu conhecimento, descritos com clareza, seriedade e, às vezes, bom humor...

... tudo faz-me retornar ao passado recente de Itabira e me remete à nossa história.

Quem leu  “No decorrer da vida” com atenção segue entendendo o sentido de viver e extrai o contexto que se apreende: lutar incansavelmente, sem temer obstáculos e sacrifícios, fórmula infalível no ciclo que termina com vitórias e créditos, sempre.

Aos 70 anos, comemorados no lançamento de sua obra, Maria Raquel ensina, emocionantemente, com realismo e ponderação, até tristeza, como se deve viver, com felicidade e dor, as agruras da vida. Além de todos os que hoje a amam, seus ascendentes serão orgulhosos da ancestral que tiveram e amaram.

As narrativas de sua jornada vêm do enfrentamento do câncer, vencido, e o Mal de Parkinson, que encara sem lamentos e até mesmo se revela como professora de vida. Enfim, com Raquel se aprende a viver em cada linha e entrelinha.

Neta, filha, esposa, mãe e avó, ela descreve a trajetória de sua família, não deixando de mostrar também o seu espírito comunitário, recheado de esforços, como no caso dos mutirões colocados em prática também como exemplo, e das campanhas de socorro aos menos favorecidos pela sorte.

Raquel não precisa usar uma improvável falsa modéstia para dizer que é uma mulher bonita. Quem  assina esta conclusão é o seu marido,  esse quem a escolheu como companheira “na alegria e na tristeza”, para além da vida e para além da morte.

José Sana

Itabira, 24/06/2022

3 comentários:

  1. Foi um excelente comentário entré muitos emocionantes.

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  2. Parabéns José Sana pelo belíssimo e verdadeiro comentário.

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  3. Obrigada pelo carinho! Suas palavras são de muita cultura, citando Nelson Rodrigues, e, admiração pela minha família.

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