No quase mesmo sentido captado de Nelson Rodrigues (1912-1980), o título do livro mencionado aqui tem muito de “A vida como ela é”, ou seja, não esconde felicidade e dor no mundo, embora que no escritor e teatrólogo seja pura ficção e na estreante literária, verdade intocável e insofismável. Estou me referindo à obra de Maria Raquel Penido Rosa, “No decorrer da vida” (BH: Rona Editora, 184 p. R$ 35,00), irmã da premiada Rosemary Penido de Alvarenga, que lhe deu uma mãozinha familiar por conta de problema de saúde.
Tão
logo começou a circular entre amantes da literatura itabirana a onda promissora de "memórias de uma economiária", corri para buscar, ler e devorar, como sempre
fiz com as obras de Rose Penido. Minha curiosidade, clara e inquestionável, é explicada:
—
Maria Raquel, que conheço do trabalho na Caixa Econômica Federal; também por seu marido, Maurício, um gentleman;
idem pelo sogro, Rosinha (in memoriam), com quem batia papos antológicos
em sua loja;
—
por ser, inegavelmente, uma mulher
corajosa e determinada, comprovadamente;
—
por descrever quase exatamente o tempo de minha chegada e permanência (que
continua) em Itabira
nas décadas de 1970, 80, 90 e, então, relatar fatos checados por mim em
vários tópicos;
—
por incluir alguns personagens de meu
conhecimento, descritos com clareza, seriedade e, às vezes, bom humor...
...
tudo faz-me retornar ao passado recente de Itabira e me remete à nossa
história.
Quem
leu “No decorrer da vida” com atenção segue entendendo o sentido de viver e extrai o contexto que se apreende: lutar
incansavelmente, sem temer obstáculos e sacrifícios, fórmula infalível no ciclo
que termina com vitórias e créditos, sempre.
Aos
70 anos, comemorados no lançamento de sua obra, Maria Raquel ensina,
emocionantemente, com realismo e ponderação, até tristeza, como se deve viver,
com felicidade e dor, as agruras da vida. Além de todos os que hoje a amam,
seus ascendentes serão orgulhosos da ancestral que tiveram e amaram.
As
narrativas de sua jornada vêm do enfrentamento do câncer, vencido, e o Mal de
Parkinson, que encara sem lamentos e até mesmo se revela como professora de
vida. Enfim, com Raquel se aprende a viver em cada linha e entrelinha.
Neta,
filha, esposa, mãe e avó, ela descreve a trajetória de sua família, não
deixando de mostrar também o seu espírito comunitário, recheado de esforços,
como no caso dos mutirões colocados em prática também como exemplo, e das
campanhas de socorro aos menos favorecidos pela sorte.
Raquel
não precisa usar uma improvável falsa modéstia para dizer que é uma mulher
bonita. Quem assina esta conclusão é o
seu marido, esse quem a escolheu como
companheira “na alegria e na tristeza”, para além da vida e para além da morte.
José
Sana
Itabira, 24/06/2022
Foi um excelente comentário entré muitos emocionantes.
ResponderExcluirParabéns José Sana pelo belíssimo e verdadeiro comentário.
ResponderExcluirObrigada pelo carinho! Suas palavras são de muita cultura, citando Nelson Rodrigues, e, admiração pela minha família.
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