Disseram também os senhores de engenho e do dinheiro que é “uma canoa furada”, mas agora embarcam na mesma canoa. Pode?
A
exemplo da regra geral, que propõe mudanças de comportamento e ideias em nossas
vidas, depois de eleito e reeleito vereador em Itabira, com novos ambientes —
educação, trabalho e sociedade — senti que seria o momento de pensar e repensar
a minha função no mundo. Ou melhor dizendo, saí à procura de resposta à pergunta: o que estou fazendo por
aqui nesta terra desconhecida, onde nem fui apresentado?
Nas
trilhas de buscas, iniciadas dentro de mim, deparo-me com várias dúvidas e
ocorre um esclarecimento ao meu jeito contra tudo e contra todos desprezado,
finalmente. A análise começou da raiz com um esclarecimento só meu: sou um
indivíduo capitalista, liberal, socialista ou comunista? Esclareci, então, como primeira dúvida um
motivo externo.
Uma
das razões consiste no seguinte fato: o padre de nossa paróquia e
os seus seguidores (eu fui também, inclusive coroinha) pregavam em altares,
esquinas, botecos e salões de barbeiro, que fulano, sicrano e beltrano não
podiam receber votos nas mixurucas urnas do arraial. O trio seria de esquerda
amaldiçoada, garantiam.
Em
contraposição, porque olhavam para este
adolescente desprezado com cara condenatória, fiz campanha exatamente a
favor dos que faziam parte da lista
negra, ou vermelha, da chamada elite do lugar. Antes disso, nos meus 14-15
anos, acompanhei pelos jornais (meu avô e meu pai assinavam até “Tribuna da
Imprensa”, do perseguido Hélio Fernandes). Esse ocupava uma ponta de iceberg do
acontecimento que culminou com dois nomes: Revolução de 1964 e/ou Golpe
Militar.
Anos
antes, na década de 1960, em Brasília, o então ministro cubano “Che” Guevara
fora condecorado por Jânio Quadros, presidente que empunhava uma vassoura como
emblema e que renunciaria sete meses
depois da posse. A medalha agitadora chamava-se “Grã Cruz da Ordem Nacional do
Cruzeiro do Sul”.
O
ato da condecoração, muito comentado mundo afora e fartamente debatido nos altares da Igreja
Católica, era aplaudido pelo arcebispo de Olinda (PE), Dom Hélder Câmara,
considerado ateu completo. Como indício, escreveu o colunista de O Globo,
Nelson Rodrigues, em 1968: “Dom Hélder só olha para o céu para ver se leva o
guarda-chuva”.
A
debandada de atos institucionais chovia em Brasília, meu primo Zé Flávio e eu
chegamos a ser presos duas vezes numa só noite-madrugada: uma, por politicagem,
empanturrados como bandidos no Dops (Departamento de Ordem Política e
Social) e outra por vadiagem, embora eu
trabalhasse de repórter no Diário de Minas e de revisor no Estado de Minas. Meu
primo tinha cargo na Viação Venda Nova, depois Viação Serro.
Em
1974, com a ditadura em pleno apogeu, o deputado Ulysses Guimarães lançou-se
candidato a presidente da República, com Barbosa Lima Sobrinho de vice, chapa
sem perspectiva de vitória no Colégio Eleitoral, dominado pelo partido do
governo, a Aliança Renovadora Nacional (Arena). Guimarães chamou-se
“anti-candidato, que disputa a anti-eleição” (Fonte: Agência Senado).
Filio-me,
a convite de Marcos Evangelista Alves, Gabiroba, no MDB, candidato-me a
vereador, obtenho 693 votos, em 15 de novembro de 1972,
primeiro lugar na cidade, o segundo no município. José Braz Torres Lage, da
Arena, partido do governo, alcança exatos 700 sufrágios.
“Comunismo
é coisa infernal”. Esta continuou sendo
a mais nova chamada de assunto na sociedade brasileira, principalmente
entre os cristãos. Além de Guevara e Fidel Castro, apareceram outros, como Mao
Tsé-Tung e Nikita Khrushchov, cujos nomes eu rabiscava nos muros e eles próprios, nomes difícil
grafia, denunciavam-me como “único alfabetizado”, diziam meus inimigos.
Os
padres e seus seguidores não eram os mesmos, mas a Igreja, sim. Resolveram virar
a casaca para socialistas/comunistas. Quer dizer, tomaram a expedição anti-Cristo, da Nova Ordem Mundial (NOM),
adotaram a bíblia chamada “Teologia da Libertação”, despistando no Evangelho.
Conclusão,
caso sigamos a lógica, a turma moralista me promove à condição correta do ser
humano e, infelizmente, assumem ser eles, sim, amigos do capeta.
José
Sana
14/12/2022
(OBS.:
No terceiro capítulo vou contar como os padres embarcaram em canoa furada e não
estão nem aí com a satanização do cristianismo.
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