quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

SOCIALISMO É DITADURA... E QUER CHEGAR AO COMUNISMO (Capítulo 1)

Quando eu era adolescente, na vilazinha de São Sebastião do Rio Preto, contaminado pela política brasileira, buscada na culta Conceição do Mato Dentro, declarava-me comunista.

O motivo consistia no seguinte fato: o padre local e os seus seguidores (eu fui também, inclusive coroinha) pregavam em altares, esquinas, botecos e salões de barbeiro, que fulano, sicrano e beltrano não poderiam receber votos nas mixurucas urnas do arraial. Teriam ficha de esquerda amaldiçoada.

Em contraposição, porque olhavam para este adolescente desprezado com cara de tacho, fiz campanha exatamente a favor  dos que faziam parte da lista negra, ou vermelha, da chamada elite do lugar. Antes disso, nos meus 14-15 anos, acompanhei pelos jornais (meu avô e meu pai assinavam até Tribuna da Imprensa, do perseguido Hélio Fernandes). Esse uma ponta de iceberg do acontecimento que tinha dois nomes: Revolução de 1964 e Golpe Militar.

Na época, em Brasília, o então ministro cubano “Che” Guevara foi condecorado por Jânio Quadros, presidente que renunciaria sete meses depois da posse. A medalha chamava-se Grã Cruz da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul. Foi precisamente após o ato que Jânio proibiu brigas de galo e uso de maiôs nas praias.

O ato da condecoração, muito comentado no mundo, foi fartamente debatido nos altares da Igreja Católica, que combatia tenazmente a esquerda, embora tolerasse o arcebispo de Pernambuco, Dom Hélder Câmara, para muitos um ateu completo. Como prova, escreveu o colunista de O Globo, Nelson Rodrigues, em 1968: “Dom Hélder só olha para o céu para ver se leva o guarda-chuva”.

A debandada de atos institucionais chovia em Brasília, meu primo Zé Flávio e eu chegamos a ser presos pelo então DOPS (Departamento de Ordem Política e Social) duas vezes numa só noite: uma, por politicagem e outra por vadiagem, embora tivesse um cargo tipo bico no jornal Estado de Minas, no setor de revisão, nas madrugadas da Rua Goiás.

Em 1974, com a ditadura em pleno apogeu, o deputado Ulysses Guimarães lançou-se candidato a presidente da República, ele e Barbosa Lima Sobrinho,  sem perspectiva de vitória no Colégio Eleitoral, dominado pelo partido do governo Aliança Renovadora Nacional (Arena). Guimarães chamou-se “anti-candidato, que disputa a anti-eleição” (Fonte: Agência Senado).

Fim deste capítulo, quando me inscrevo no MDB e me candidato a vereador, tendo obtido 693 votos, em 15 de novembro de 1972, primeiro lugar na cidade, o segundo no município. José Braz Torres Lage, da Arena, partido do governo, obteve exatos 700 sufrágios


Na próxima narrativa desta breve história vou contar como os ditos intelectuais, a Igreja Católica e eu trocamos de posições: eles assumiram o lugar de esquerdista, isto é,  de socialistas/comunistas, e eu fiquei do lado oposto, menos mal para as nossas vidas.

 

José Sana

Em 7 de dezembro de 2022.

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