Ao chegar a Itabira, saiba que somos o último exemplo que você nunca deve seguir: tape ouvidos, olhos e boca. E tenha piedade de nós...
O tempo do
topa-tudo já passou. Tivemos também a época do sonha-tudo. Agora, a questão
chama-se tapa-tudo. Tudo mesmo, ouvidos, olhos e bocas. O povo vai para as
inaugurações de obras sem futuro para bater “palmas de contentamento”. A cidade
se enche de pracinhas, melhor engambelo para quem, realmente, está tapando tudo
e dizendo de si para si: “Sou itabirano, sou otimista, sou quase cristão e aí
vem o milagre nos salvar”. Fazer o quê? Aceitar que dói menos, meu amigo.
ANDRÉ VIANA: CIDADE FANTASMA VEM AÍ
O mundo está carente de coragem e limpo de corajosos. Se Jesus Cristo aqui voltasse, como dizem os cristãos de todas as crenças, seria de novo preso, maltratado, açoitado, crucificado outra vez. Ele está aí, no meio de nós, tentando convencer os cabeças de bagre, magoando-se com a quantidade de burros que não servem nem para cangalhas, nem com baixeiros e barbicachos, esporas e chicotes.
Em 30 de junho
de 2023, em entrevista a mim, descontraidamente mas constrangendo-se em soltar
a língua, o presidente do Sindicato Metabase de Itabira, André Viana Madeira
disse o seguinte: “As minas de Itabira ficaram fechadas durante 12 dias,
interditadas de 5 a 17 de junho de 2020; a Vale relatou em seu site uma perda
de produção inferior a um milhão de toneladas de minério de ferro; aí, tivemos um ensaio sobre o que será a
exaustão definitiva, o caos, a corrida do prefeito à Justiça procurando uma
saída, faltava dinheiro nos cofres públicos”.
Agora, de novo, André Viana vai à tribuna da
Câmara, no teatro da Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade, em noite de
homenagens e “faz um discurso forte”, segundo um dos órgãos que têm espaço de
credibilidade na região, o Diário de Itabira”. Conhecedor das causas e funções
da empresa em que se encontra como
membro também do Conselho de Administração da Vale e cita nominalmente o termo “cidade
fantasma”. E rasgou o verbo.
CONCLUINDO O ÓBVIO INEGÁVEL
Concluindo o que faltava dizer: infelizmente, o caminho é o da construção de um terrível “bolsão de pobreza”, que até a própria Vale tentou combater a partir de sua criação, em 1942. Não há substituto para o fechamento de mina, perguntem até ao próprio secretário de Meio Ambiente, Denes Martins da Costa Lott. Em livro, Denes mostrou o seu ponto de vista negativo.
Saibam a verdade e imaginem que sem a mineração a receita da Prefeitura cairá de R$ 1 bilhão por ano para, no máximo R$ 250 milhões. E fica a pergunta para cada um dos itabiranos que vivem na cidade: a única esperança será inspirar-se na lenda “Phoenix”. Diz a quimera que a “Phoenix” é um pássaro que, quando morre, pega fogo até virar pó. Um tempo depois ele renasce das próprias cinzas, novinho em folha.
Uma terceira opção é chamar os irracionais que têm até
vergonha de nós para um tapar o ouvido, outro os olhos e, finalmente, a boca. E
seja feita a vontade de Deus. Vamos colocar uma placa na entrada da cidade: “Seja
bem-vindo à ‘cidade tapa-tudo’, mas tenham piedade de nossa vergonha eterna,
amém”.
José Sana
24/09/2023
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