sábado, 18 de maio de 2013

A fila dos "véi"

De uns tempos  pra cá o que mais se popularizou por aí foi a “fila dos véi”. É o que mais se falam nas esquinas, botecos, velórios e salões de beleza, embora a fila seja também das gestantes, lactantes, mulheres com criança no colo, por aí. Chamam de “véi” todos os seres humanos que estão na faixa acima dos 60.

Pois é. A fila dos véi, depois de se notabilizar como a solução da compreensão do governo diante dos problemas dos idosos, supôs-se que fosse superar o grave defeito governamental de corrigir os vencimentos dos aposentados em níveis abaixo do salário mínimo. Quem recebe acima de três salários mínimos tem um outro índice, tão pequenininho que não é visto senão com lupa. Como exemplo, enquanto a garrafinha de água mineral passou de R$ 1,00 para R$ 2,00, ou seja, 100% de aumento, a remuneração dos véi não consegue nem chegar nos 7%, uma vergonha que não pode sequer ser pensada por um ou uma presidente da República sem que a sua consciência doa até arder.

Então, a fila veio para compensar o que o governo não quis fazer. Ou seja, o véi entra na fila de uma lotérica (só paga contas de água, luz, telefone e algumas mais em caso de apostas), quando chega no seu final é depenado de cabo a rabo. E eu, que não me acho tão velho assim, apesar de plenamente classificado como véi, sou obrigado a curtir essa doce presença diante de outros colegas, ou menos ou mais decadentes. Dos 30 dias do mês, pelo menos em quase a metade deles tenho que ir para uma lotérica. E vou a um bairro da quase periferia, no Caminho Novo, mais precisamente à Estrela da Sorte, do meu amigo Marcim do Abílio.

Lá, não demoro nem um segundo a decidir em qual fila devo entrar. Se tem três véis na fila dos véi, eu prefiro pegar o rabo de uma compridona que avança para a rua Prefeito Virgilino Quintão. Porque não é somente pagar e receber, mas fazer um “juguim” e conferir o outro que venceu. Têm uns ou umas que tiram um saco de moedas e começam a contar. Outros ou outras precisam digitar uma senha para receber alguns centavos e levam pelo menos meia hora para cada tecla. Quando se pensa que o véi será despachado pelas simpáticas funcionárias, eis que elas começam uma ladainha para vender um jogo a mais, uma fatia de bolão. E são tantas loterias que correm que eu nem me atreveria a citar uma, pois nem entendo dessas duplas e triplas. Só cito a Mega Sena, que sempre está acumulada, dizem as más línguas que é foco de denúncias contra um bando de falsificadores. Não entro nesse pormenor, pelo menos nem acredito, porque senão não estaria sempre fazendo o meu juguim.

A maldita fila virou um calvário para os véi apressados. Dizem as próprias vítimas que “essa fila não anda”. Alguns já fizeram a conta: o atendimento a um véi na sua única fila chamada de “preferencial” demora o tanto que pelo menos oito são despachados na fila dos “normais” no mesmo  tempo. Os “anormais”, portanto, congestionam qualquer agência lotérica devido à sua lentidão corriqueira de fazer as contas e contar o dinheiro. Ao lado deles, há as mulheres que arrumam meninos emprestados para ganhar preferência. Essas nem percebem que a tal preferencial fila é mais lenta que tartaruga andando de ré. Então, não vale a pena, já é certo que a fila dos normais anda mais depressa  que a dos anormais.

Não se sabe que dia haverá duas filas dos véi numa só agência. Talvez nem haverá, mas o dia a dia das agências já mostra que urge o aparecimento de uma mudança. O sujeito aposenta-se rapidamente, já com a cabeça bem  branca, apesar de a idade não ter avançado, entra por ironia na fila dos véi e contribui com a sua compridez. Duvido que a maioria pense que a fila dos véi é o pior lugar em que se deve se meter hoje em dia. Muitos seguem pensando que é o contrário. Assim os véi levam mais tinta ainda na vida, pois a primeira lata na cara eles tomam por ser véi e a segunda por ser inserido no pior lugar, numa fila de tartaruga preguiçosa.

Não tenho por enquanto sugestão para salvar essa pátria aí dos véi tripudiados. Acho que os véi têm que continuar penando mesmo, porque se eles voltam depressa para casa, suas patroas, ou véias, estão os esperando para xingar a sua falta do que fazer com aquele notável e desagradável apelido de rabujento.

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