Sorte,
segundo o Houaiss, é substantivo feminino que significa força invencível a que
se atribuem o rumo e os diversos acontecimentos da vida; destino, fado. O
azarado é o contrário, mas pode ter, ironicamente, uma tremenda sorte de
ser azarado. O Rubinho ganhou poucas corridas. Ele é infeliz? Não me parece
ser, pois tem uma família unida, amigos, saúde e dinheiro.
De
um de meus preferidos escritores, Nelson Rodrigues (1912-1980), guardo muitas
frases interessantes. “Com sorte você atravessa o mundo, sem sorte você não atravessa a rua”; “Sem sorte não se come
nem um Chicabom; você pode engasgar-se com o palito ou ser atropelado pela
carrocinha”; “Sem sorte Napoleão Bonaparte teria sido morto, atropelado por uma
carrocinha de Chicabom”; “Sorte não é defeito”.
Complementando
Nelson Rodrigues, quantos herois de guerra receberam medalhas às vezes pela
coragem, bravura, caráter firme, mas no final sobrou apenas a sorte como sua companheira?
Mas, será que alguém pecou por ter sido beneficiado pela sorte? Há um
pensamento que diz: “A sorte persegue os bons”. Convenhamos, então, dizer que
os que vivem malhando a sorte não perceberam ainda que essa senhora, também
chamada de estrela, fado, felicidade e ventura poderia não gostar dos que a
malham. Não é o meu caso, graças a Deus, amo-a, sem nenhum preconceito, como o
dos azarados que a maldizem. No meu caso, conto sempre com essa ótima companhia
ou companheira.
Não
vou estender muito, estou cada dia mais me resumindo, tentando não atrapalhar o
leitor. Apenas quero lembrar que, nesta quinta-feira abençoada o Galo Forte de
Minas Gerais, ou “O Time de Minas”, como o chamam os seus admiradores de outros
estados e de muitos países, foi premiado na mega-sena do futebol. Incrível: aos
48 minutos do segundo tempo, a um do encerramento do jogo, o empate de 1 x 1
daria e deu a classificação ao Clube Atlético Mineiro diante da aguerrida
equipe do Tijuana do México. Acrescente-se: esse time que desclassificou o
poderoso Corinthians dentro do Pacaembu. Mas o gol, àquela altura, daria o
lugar na semifinal da Libertadores à equipe visitante.
Sorte
do Victor? Sim. Sorte do Galo? Também sim. Mas muita gente deve não ter
observado que nos treinos do Galo durante a semana foi incluído um capítulo
especial, de portas fechadas, em que Cuca treinou cobranças de pênaltis. Aí,
Victor, o grande goleiro do Galo, deve ter-se forçado a fazer a tentativa
tradicional e pouco usada, de pular para um canto fechando o meio com os pés.
Sei que essa é uma pose de inteligência porque a fiz na mocidade, quando defendia as cores do São
Sebastião Futebol Clube. Saindo o gol, seria a comemoração do Tijuana, de sua
torcida no México, além de milhares de “secadores” espalhados por aí. Não
haveria tempo para o Galo empatar de novo, cujo empate de 2 x 2 levaria à
disputa de pênaltis.
Mas
a sorte do Cuca que treinou lances de penalidades tanto para chutadores quando
defensores; a sorte do Victor que aplicou o que se assimilou; a sorte nossa, da
torcida, que acreditamos aconteceu de uma só vez quando levamos as máscaras do
pânico (ver imagem). Assim, tenho que concluir: além de sorte não ser defeito
e, mais do que tudo, se transformar em virtude, ela espelha a luta da
capacidade contra a incompetência, do otimismo contra o pessimismo e da vida contra a morte.
P.S.:
Para dizer apenas que o gol do Tijuana, comprovado agora pelas repetições do
lance pela TV, foi antecedido por duas falhas seguidas do árbitro chileno
Patricio Polic: pênalti em Jô e fala violenta em Ronaldinho, infrações não marcadas; no
contra-ataque, a equipe visitante marcou o seu primeiro gol, totalizando três
erros grotescos de sua excelência maledicente.
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