Sempre
tivemos governos insensíveis. Os legisladores tentaram legitimar as decisões do
alto com base na representatividade artificial. Somos 200 milhões de
brasileiros e os que elegemos vêm da força do poder econômico ou das igrejas
prostituídas. Mesmo assim, os espertos ou incautos tentam dizer que o voto
livre e secreto resolve. Como resolve, se todas as decisões são originárias do
voto comprado? Pior que o sufrágio comprado do povo é o mensalão usado para
acabar com o último dever dos pseudo representantes do povo. Assim, além de pagarmos muitos impostos, ainda arcamos
com um custo de vida altíssimo, muito pela especulação principalmente.
Tudo
errado não só no Brasil, mas no Planeta Terra. Mais espertos que os espertos
são os aproveitadores, que ficam apenas fazendo chover no molhado, procurando
eleger outra tropa para o lugar da antiga tropa. Os distraídos vão caindo no
conto da alternância. E de alternância em alternância, tudo não fica apenas
como antes, mas a cada etapa vai piorando. Sempre mais porque a evolução não
espera os atrasados: o rio fica mais caudaloso, o mar o traga e aumenta a sua
impulsão e vão sendo levados todos os
preguiçosos e/ou cegos de olhos abertos.
Enquanto
isso, apesar das mostras que eram ocultas, ocorria a revolução silenciosa
dentro do ser humano e se exalava também silenciosamente nos mercados,
supermercados, esquinas, pracinhas, salões de beleza, barbearias e velórios. No
advento da internet, esse silêncio começou a gemer, depois roncar e, finalmente
rugir como um tigre de verdade. Para pular das redes sociais para as ruas
faltou a “revolução dos centavos”, em São Paulo, que ainda é tentada a ser
seguida pelos governos espertos. Muitos pensam que a solução é somente reduzir
o preço das tarifas de transporte coletivo. E não é isso, até a minha cadela
preferida, a Vidinha, já sabe de tudo. Diz-me Fernando Silva que o seu
Chiquinho já empunha bandeiras e cartazes contra tudo e contra todos.
Enquanto
o tigre ruge nas ruas, os governos se reúnem em Brasília já tremendo de medo. A
chefe-mor veio a público anunciar o plebiscito. O povo aguardou e leu e
concluiu: esse golpe é mesmo uma fraude, ou na mais ingênua das interpretações,
uma quase certeza de que os nossos governantes ainda não entenderam a voz das ruas. Muito precipitada a decisão da
ilustre Dilma Rousseff, que tentou abafar uma voz silenciosa e ensurdecedora transformada
em canhão de reclamações e queixas.
Dizem
os técnicos em política, ou os chamados cientistas, que falta foco na voz das
ruas. Só se negam a entender que não há como estabelecer objetivo comum numa revolução
silenciosa de décadas, em que o povo já vinha engolindo sapos de pernas abertas.
O transporte coletivo massacra em qualidade e custo e em quantidade; os impostos
são irreais, além de mais cruéis do mundo; a infraestrutura urbana é caótica;
a educação definitivamente está fora dos eixos
a olhos claros para qualquer cego ver ; a saúde virou um salve-se quem
puder; a segurança se perdeu totalmente no meio das respostas violentas dos
próprios irresponsáveis; no mundo dos aposentados, que deveria estar em calmaria
ainda perdura o silêncio, mas ele vai se extrapolar; a discrepância entre os
salários é incrível e, em todas as camadas políticas os nossos falsos
representantes, como se não bastasse essa incongruência, estão aquinhoando
rendimentos de até 40 vezes mais que a média do país.
Poderia
haver um esforço
maior para contrabalançar as
horripilantes deficiências, mas não há. A contrapartida do poder chama-se
corrupção, vista claramente em todos os momentos, a todo o instante denunciada
pela imprensa e que não acaba mais. Os poderosos continuam abusando, do pequeno
município ao mais abastado, e de vereadores, prefeitos, deputados, senadores,
secretários e ministros à cúpula
brasiliense. Diante disso, aí está uma conclusão que deixa todos encurralados: ninguém
nunca planejou uma revolta desse estilo. Nem os cientistas e nem o mais
ignorante dos seres.
Então,
qual é o foco? Não há o que pedir mais, chorar mais, gritar mais. Só há um
caminho: primeiro a reflexão, depois o “mea culpa”. E agora me retorno ao meu
inesquecível Ginásio São Francisco, de Conceição do Mato Dentro, onde vivi dias
marcantes da adolescência no até então chamado curso ginasial, hoje
simplesmente fundamental. O diretor, Frei Isaías da Piedade, disciplinador
emérito, tinha momentos de extremo brilhantismo. Vez por outra ocorria um furto
entre os ginasianos, alguém reclamava que lhe tinham surrupiado algum valor em
dinheiro ou objeto.
O
Frei, cara fechada e sempre do alto de sua autoridade máxima, chamava todos à
capela e iniciava o seu aperto nos alunos. Fazia um preleção que abrangia ética
e religião e, principalmente, sem ser muito definido, uma lei chamada retorno.
Ao fim do discurso, deixava a sua sentença: quem furtou do colega não teria mais
vida de consciência tranquila, mas tinha uma oportunidade. Deveria esse
ladrãozinho ir à capela, no silêncio da noite ou mesmo nos momentos de estudo do
internato franciscano, depositar sobre o altar o total do furto. E assim,
estaria perdoado.
Eis então, a minha sugestão: que os ladrões depositem sobre o
altar de suas consciências ou bancos, em contas organizadamente anônimas, pelo
menos a metade do que roubaram e que outras reformas sejam feitas. Todos
estariam perdoados mas definitivamente proibidos de roubar mais ou de legislar
em causa própria. E que, a partir daí se restabeleça a justiça social neste
rico Brasil.
A revolução silenciosa passa, então por um caminho íngreme e espinhoso, mas se estaciona na chamada ação
“mãos limpas”. Agora ou nunca!
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