quarta-feira, 3 de julho de 2013

Da revolução silenciosa às mãos limpas

Sempre tivemos governos insensíveis. Os legisladores tentaram legitimar as decisões do alto com base na representatividade artificial. Somos 200 milhões de brasileiros e os que elegemos vêm da força do poder econômico ou das igrejas prostituídas. Mesmo assim, os espertos ou incautos tentam dizer que o voto livre e secreto resolve. Como resolve, se todas as decisões são originárias do voto comprado? Pior que o sufrágio comprado do povo é o mensalão usado para acabar com o último dever dos pseudo representantes do povo. Assim, além  de pagarmos muitos impostos, ainda arcamos com um custo de vida altíssimo, muito pela especulação principalmente.

Tudo errado não só no Brasil, mas no Planeta Terra. Mais espertos que os espertos são os aproveitadores, que ficam apenas fazendo chover no molhado, procurando eleger outra tropa para o lugar da antiga tropa. Os distraídos vão caindo no conto da alternância. E de alternância em alternância, tudo não fica apenas como antes, mas a cada etapa vai piorando. Sempre mais porque a evolução não espera os atrasados: o rio fica mais caudaloso, o mar o traga e aumenta a sua impulsão e vão sendo levados  todos os preguiçosos e/ou cegos de olhos abertos.

Enquanto isso, apesar das mostras que eram ocultas, ocorria a revolução silenciosa dentro do ser humano e se exalava também silenciosamente nos mercados, supermercados, esquinas, pracinhas, salões de beleza, barbearias e velórios. No advento da internet, esse silêncio começou a gemer, depois roncar e, finalmente rugir como um tigre de verdade. Para pular das redes sociais para as ruas faltou a “revolução dos centavos”, em São Paulo, que ainda é tentada a ser seguida pelos governos espertos. Muitos pensam que a solução é somente reduzir o preço das tarifas de transporte coletivo. E não é isso, até a minha cadela preferida, a Vidinha, já sabe de tudo. Diz-me Fernando Silva que o seu Chiquinho já empunha bandeiras e cartazes contra tudo e contra todos.

Enquanto o tigre ruge nas ruas, os governos se reúnem em Brasília já tremendo de medo. A chefe-mor veio a público anunciar o plebiscito. O povo aguardou e leu e concluiu: esse golpe é mesmo uma fraude, ou na mais ingênua das interpretações, uma quase certeza de que os nossos governantes ainda não entenderam  a voz das ruas. Muito precipitada a decisão da ilustre Dilma Rousseff, que tentou abafar uma voz silenciosa e ensurdecedora transformada em canhão de reclamações e queixas.

Dizem os técnicos em política, ou os chamados cientistas, que falta foco na voz das ruas. Só se negam a entender que não há como estabelecer objetivo comum numa revolução silenciosa de décadas, em que o povo já vinha engolindo sapos de pernas abertas. O transporte coletivo massacra em qualidade e custo e em quantidade; os impostos são irreais, além de mais cruéis do mundo; a infraestrutura urbana é caótica; a educação definitivamente está fora dos eixos  a olhos claros para qualquer cego ver ; a saúde virou um salve-se quem puder; a segurança se perdeu totalmente no meio das respostas violentas dos próprios irresponsáveis; no mundo dos aposentados, que deveria estar em calmaria ainda perdura o silêncio, mas ele vai se extrapolar; a discrepância entre os salários é incrível e, em todas as camadas políticas os nossos falsos representantes, como se não bastasse essa incongruência, estão aquinhoando rendimentos de até 40 vezes mais que a média do país.

Poderia  haver  um  esforço maior  para contrabalançar as horripilantes deficiências, mas não há. A contrapartida do poder chama-se corrupção, vista claramente em todos os momentos, a todo o instante denunciada pela imprensa e que não acaba mais. Os poderosos continuam abusando, do pequeno município ao mais abastado, e de vereadores, prefeitos, deputados, senadores, secretários e  ministros à cúpula brasiliense. Diante disso, aí está uma conclusão que deixa todos encurralados: ninguém nunca planejou uma revolta desse estilo. Nem os cientistas e nem o mais ignorante dos seres.

Então, qual é o foco? Não há o que pedir mais, chorar mais, gritar mais. Só há um caminho: primeiro a reflexão, depois o “mea culpa”. E agora me retorno ao meu inesquecível Ginásio São Francisco, de Conceição do Mato Dentro, onde vivi dias marcantes da adolescência no até então chamado curso ginasial, hoje simplesmente fundamental. O diretor, Frei Isaías da Piedade, disciplinador emérito, tinha momentos de extremo brilhantismo. Vez por outra ocorria um furto entre os ginasianos, alguém reclamava que lhe tinham surrupiado algum valor em dinheiro ou objeto.

O Frei, cara fechada e sempre do alto de sua autoridade máxima, chamava todos à capela e iniciava o seu aperto nos alunos. Fazia um preleção que abrangia ética e religião e, principalmente, sem ser muito definido, uma lei chamada retorno. Ao fim do discurso, deixava a sua sentença: quem furtou do colega não teria mais vida de consciência tranquila, mas tinha uma oportunidade. Deveria esse ladrãozinho ir à capela, no silêncio da noite ou mesmo nos momentos de estudo do internato franciscano, depositar sobre o altar o total do furto. E assim, estaria perdoado.

Eis então, a minha sugestão: que os ladrões depositem sobre o altar de suas consciências ou bancos, em contas organizadamente anônimas, pelo menos a metade do que roubaram e que outras reformas sejam feitas. Todos estariam perdoados mas definitivamente proibidos de roubar mais ou de legislar em causa própria. E que, a partir daí se restabeleça a justiça social neste rico Brasil. 

A revolução silenciosa passa, então por um caminho íngreme e  espinhoso, mas se estaciona na chamada ação “mãos limpas”. Agora ou nunca!

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