É
inegável que um bom livro seja quase como uma grande viagem. A internet também
nos propicia avançar sobre fronteiras até do espaço sideral. Mas nada se
projeta e se solidifica de uma forma tão indispensável quanto viajar. Seja a
pé, a cavalo, de carro próprio, ônibus, trem — aventura segura — ou avião, o
que interessa é conhecer novas terras, pessoas, histórias, culturas,
experiências. Pode-se dizer que ninguém pode abrir a boca e falar ou escrever
cientificamente se não se aventura em ares diferentes.
Não
quero aqui contar nenhuma vantagem. Ou melhor, acredito que estou, ainda, muito
atrasado em matéria de conhecer cidades, estados e países diferentes. Estive em
quase todas as 853 cidades de Minas
Gerais, dezenas de São Paulo e Rio de Janeiro, algumas de outros estados e a
maioria das capitais brasileiras. Viajei à Europa três vezes apenas e a Terra
Santa. Na semana passada, fui à Argentina. Mas revelo que desenvolvo planos
arrojados, principalmente para voltar à França em todas as suas regiões. E, por
último, numa região ainda ignorada por mim, os Estados Unidos da América.
Em
toda a minha simplicidade e ignorância, que os mais íntimos conhecem em mim,
acho tão importante ir a Brejaúba, como Glaucilândia (norte de MG), Serra Azul
de Minas, Brejetuba (ES), tanto quanto Maceió, Recife, Salvador, Lisboa, Fátima,
Évora, Serpa, Coimbra, Madri, Paris, Veneza, Roma, Tóquio e Nova York. Em
qualquer dessas cidades nas quais estive (retirem os Estados Unidos), conversei
com centenas de pessoas, pesquisei, estudei, aprendi, anotei, guardei e espero
colher bons frutos se ainda não cheguei ao que desejo.
Assim
também acredito que é uma bestialidade alguém que não conheça sobre o que fala,
que não atravessou as fronteiras, divagar, em opinião, acerca de algum tema
sobre uma urbe qualquer. Quem mora no sul de Minas, Pouso Alegre, por exemplo,
que conheço bem, vive choramingando sobre a sua cidade, mas nunca saiu das
redondezas de lá. Há em Itabira os que até criticam a própria cidade,
contundentemente, mas pisando em nuvens, sem o mínimo de credibilidade. Ora, nós,
seres humanos, não temos sequer um idioma próprio que nos evite exprimir sem
usar as comparações. Se o cara nunca deixou a sua terra, nunca foi sequer ao
Trevo da BR-381 de Bom Jesus do Amparo, ou da Fernão Dias, em Pouso Alegre, como,
então, dizer que tudo lá ou cá seja um caos ou uma beleza?
Fica
aqui apenas o meu conselho aos atrevidos ou parasitas. É experiência própria:
quando a gente tem paciência de ouvir e ver outras experiências, começa a mudar
a cabeça. Dezenas de amigos meus que estiveram na América do Norte ou na
Europa, e até na Ásia, retornaram de suas viagens pensando diferente do que
pensavam a respeito do Brasil. “Aqui em Veneza tudo é atraente, até o mau
cheiro do Grande Canal, mas eu tenho saudade dos nossos rios Tanque, Santo
Antônio, Peixe e Preto”, me escreveu, certa vez, um primo que passou longos
dias por lá.
Assim,
concluo esta nota, repetindo: viaje, viaje, viaje. Não meça esforços nem
sacrifícios. Ao retornar, conte o que viu, mas antes de partir, cale-se. E
fique de boca fechada enquanto não ouvir a opinião dos outros povos. Tudo o que
pensamos tem que ser pensado a partir do todo, o conjunto, a história, a ideia
final. Assim seja. E ponto.
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