sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Viver é viajar

Amigos, há descobertas que precisam ser consagradas como leis. Assim como existe a Lei da Gravidade, da mesma forma que se consagrou uma outra, de Causa e Efeito, como se consumou a norma incontestável das transformações, de Lavoisier, há centenas ou milhares que vão, aos poucos, adquirindo o sentido do preceito incontestável. Já me propus executar — e estou em trabalho lento mas dedicado — de criar um dicionário de leis naturais. Destaco uma norma que já pode ser inserida no rol das verdades intocáveis: viver é viajar, ou em outras palavras, ninguém sabe nada se não pegar a mochila, jogar nas costas e partir.

É inegável que um bom livro seja quase como uma grande viagem. A internet também nos propicia avançar sobre fronteiras até do espaço sideral. Mas nada se projeta e se solidifica de uma forma tão indispensável quanto viajar. Seja a pé, a cavalo, de carro próprio, ônibus, trem — aventura segura — ou avião, o que interessa é conhecer novas terras, pessoas, histórias, culturas, experiências. Pode-se dizer que ninguém pode abrir a boca e falar ou escrever cientificamente se não se aventura em ares diferentes.

Não quero aqui contar nenhuma vantagem. Ou melhor, acredito que estou, ainda, muito atrasado em matéria de conhecer cidades, estados e países diferentes. Estive em quase  todas as 853 cidades de Minas Gerais, dezenas de São Paulo e Rio de Janeiro, algumas de outros estados e a maioria das capitais brasileiras. Viajei à Europa três vezes apenas e a Terra Santa. Na semana passada, fui à Argentina. Mas revelo que desenvolvo planos arrojados, principalmente para voltar à França em todas as suas regiões. E, por último, numa região ainda ignorada por mim, os Estados Unidos da América.

Em toda a minha simplicidade e ignorância, que os mais íntimos conhecem em mim, acho tão importante ir a Brejaúba, como Glaucilândia (norte de MG), Serra Azul de Minas, Brejetuba (ES), tanto quanto Maceió, Recife, Salvador, Lisboa, Fátima, Évora, Serpa, Coimbra, Madri, Paris, Veneza, Roma, Tóquio e Nova York. Em qualquer dessas cidades nas quais estive (retirem os Estados Unidos), conversei com centenas de pessoas, pesquisei, estudei, aprendi, anotei, guardei e espero colher bons frutos se ainda não cheguei ao que desejo.

Assim também acredito que é uma bestialidade alguém que não conheça sobre o que fala, que não atravessou as fronteiras, divagar, em opinião, acerca de algum tema sobre uma urbe qualquer. Quem mora no sul de Minas, Pouso Alegre, por exemplo, que conheço bem, vive choramingando sobre a sua cidade, mas nunca saiu das redondezas de lá. Há em Itabira os que até criticam a própria cidade, contundentemente, mas pisando em nuvens, sem o mínimo de credibilidade. Ora, nós, seres humanos, não temos sequer um idioma próprio que nos evite exprimir sem usar as comparações. Se o cara nunca deixou a sua terra, nunca foi sequer ao Trevo da BR-381 de Bom Jesus do Amparo, ou da Fernão Dias, em Pouso Alegre, como, então, dizer que tudo lá ou cá seja um caos ou uma beleza?

Fica aqui apenas o meu conselho aos atrevidos ou parasitas. É experiência própria: quando a gente tem paciência de ouvir e ver outras experiências, começa a mudar a cabeça. Dezenas de amigos meus que estiveram na América do Norte ou na Europa, e até na Ásia, retornaram de suas viagens pensando diferente do que pensavam a respeito do Brasil. “Aqui em Veneza tudo é atraente, até o mau cheiro do Grande Canal, mas eu tenho saudade dos nossos rios Tanque, Santo Antônio, Peixe e Preto”, me escreveu, certa vez, um primo que passou longos dias por lá.

Assim, concluo esta nota, repetindo: viaje, viaje, viaje. Não meça esforços nem sacrifícios. Ao retornar, conte o que viu, mas antes de partir, cale-se. E fique de boca fechada enquanto não ouvir a opinião dos outros povos. Tudo o que pensamos tem que ser pensado a partir do todo, o conjunto, a história, a ideia final. Assim seja. E ponto.

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