Prezados e prezadas, Itabira voltou à Idade Média da comunicação.
Quase 20 anos depois de instalar a sua primeira linha de telefonia celular, eis
que os favores que o sistema oferece aos cidadãos corresponde a zero.
Considerando que voltamos tanto tempo atrás significa que estamos em situação de
isolamento, ou melhor, estamos vivendo o caos.
As reclamações registradas no Procon dão de goleada em outros motivos de
queixas, com a agravante de não conhecer, no meu meio social, quem foi ao órgão
público registrar a sua choradeira. Eu nunca fui e somente agora estou chorando
as mágoas estancadas.
O quadro de hoje é pior porque não há como retornar aos tempos
das mensagens via tambores usadas pelos sumérios ou esquimós e nem por meio de gritos à beira dos rios para canoeiros e caianas
levarem adiante. Ninguém mais acredita em originalidade da notícia levada boca-ouvido-boca. Conclusão:
essa é uma das crises que enfrentamos na chamada Era do Conhecimento. E que
conhecimento violentamente massacrado!
Hoje em dia, acredito que não somente em Itabira, mas no Brasil,
para cada ligação gastamos, no mínimo, cinco discagens. Se conseguimos falar
com a pessoa procurada, alguém que está ouvindo uma narrativa precisa continuamente
dar o seu sinal de presença com um “tá” ou “sim” ou “hum”, pelo menos
resmungando. Se tal não ocorre, o certo é que corremos o risco de
ficar como se estivéssemos pregando no deserto, ou fazendo discurso para uma
plateia de zero ninguém.
Como no mundo existem as pessoas que nunca ouvem nem querem
ouvir, mas somente falar, falar, falar, para elas até que se transforma num
autêntico castigo, logo assim
interpretado: “Falei, falei, falei, falei, falei e quando fui me despedir, não me
deu a mínima resposta!” Quem conhecia, antes de chegar ao Brasil, a telefonia
celular, sabia que tal caos ocorreria inevitavelmente. Diziam os entendidos na
época que haveria um tempo de falta de comunicação por via do telefone quando
várias operadoras tivessem se instalado. E não foi Nostradamus quem fez a
profecia trágica.
Antes mesmo que o fim do mundo se instalasse aqui em nossa
cidade, os grandes personagens, ou celebridades, ou os donos do poder e do
dinheiro, já não atendiam a ninguém no seu aparelho, à exceção de políticos nas vésperas de eleições ou de temas que
interessam a alguém. Certa vez, precisava falar com uma pessoa e essa dona do
mundo não atendia os meus chamados de jeito nenhum. O que fiz? Deixei na
secretária eletrônica um recado assim: “Estou com um cheque de 20 mil reais
para lhe entregar e não sei como faço”. Um minuto depois o sujeito me retornou.
Recentemente, tive uma audiência com um político. Aliás, não tive a audiência. De meio em meio
minuto de intervalo o seu telefone tocava e ele atendia. E havia interrupção de
nosso diálogo. Resolvi me despedir e
anotar o seu número. Ledo engano,tentei falar com ele e jamais consegui. Quem tem
acesso ao seu aparelho somente os seus ídolos e chefões. Pé rapados e
lambedores de rapadura nem pensar.
Final da coluna: não temos como nos comunicar hoje em dia.
Estamos mais perdidos que cego em tiroteio. Receio ter que convocar o espírito
de Alexander Graham Bell para reinventar
o telégrafo ou o telefone primitivo para que iniciemos um novo tempo. A
telefonia celular fracassou definitivamente e parece não ter mais como
ressuscitá-la.
P.S.: Escrevo em meio a dores (expectativa de estiramento na coxa) e por isso peço desculpas pelos inevitáveis erros.
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