sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Não são cruzeirenses. São os depredadores



A origem do nome Bárbaro nada tem a ver com a violência, como hoje o utilizamos em nosso vocabulário. Quanto menos Vândalos, parte do que compunha o universo bárbaro.  Eles eram originários da Alemanha no tempo do Império Romano, que eles próprios ajudaram a derrubar no Ocidente. Mas qualquer povo da época seria um lutador físico por excelência e não somente por serem bárbaros. Foram eles até aliados dos romanos durante um bom tempo.

Com base na citação do parágrafo anterior, diria que aquela multidão incalculável que ocupou ruas e avenidas de Belo Horizonte nos dois últimos dias, com tonalidade azul, não era composta de Bárbaros subdivididos em Alanos, Saxões, Suevos, Francos, Lombardos, Visigodos, Ostrogodos, Anglos e Saxões, e Vândalos, mas, principalmente, os Depredadores, os mesmos que mataram, machucaram e acabaram com lojas e outras construções ao longo do trajeto dos jogadores que desfilavam depois de conquistar, na quarta-feira, o título de Campeões Brasileiros de 2013.

Se são cruzeirenses, acho que não, talvez uma parte.  Se alvicelestes, são igualmente depredadores, porque não foram apenas os 20 detidos pela polícia, como informou a mídia quase completa, inclusive o jornal argentino “Olé”, mas praticamente a multidão que quebrou, empurrou, destruiu e até matou. E não apenas por maldade, mas por simples jeito de ser, porque toda multidão é destruidora por si só, apenas para garantir o direito de sobrevivência ou a simples e compreensível vontade de viver expressa em Shopenhauer como símbolo de sua filosofia.

Apenas vinte pessoas não se multiplicariam pela Grande BH completa. Diria que foram no mínimo 200 os que quebraram uma parte da loja de troféus do Clube Atlético Mineiro, no Bairro de Lourdes. E somente 150 foram atendidos no Pronto-Socorro João XXIII. E as multidões se multiplicaram por toda a região metropolitana, provando, nos saques e quebra-quebras, que havia uma multidão bárbara no sentido hoje empregado e não naquele em que esmiuçaram e dilapidaram o Império Romano do Ocidente.

Um dos entraves para se resolver a violência no mundo é o próprio analista dessa violência. Ainda insistem a mídia e as autoridades constituídas que “apenas uma minoria participa da violência urbana.” Carregando no lombo uma mentira desse tamanho, o pobre povão ou povinho — esse sim, é a minoria — nunca haverá de viver a plena paz que passou da época de deixar como herança aos filhos e netos. O fim da era que vivemos só se concretiza com o próprio reconhecimento dela.

Nesta semana e nessas condições, deem um título de campeão brasileiro ao Íbis Futebol Clube e ele arrastará multidões às ruas e avenidas de nossas cidades. E no meio do povaréu aparecerão não os 20 que a mídia decantou como detidos pela polícia, mas os milhões que ficaram no anonimato e que em tempo algum serão descobertos como destruidores dos dias e noites de terror vividos por Belo Horizonte e seus arredores. Se aceitarmos verdadeiramente a alcunha plantada pelo atleticano Roberto Drummond em seu vocabulário futebolístico, a “China Azul” seria praticamente toda criminosa, depredadora, violenta e bárbara. Como não existe esta fantasmagoria de China de Cor Nenhuma, temos que trabalhar contra a verdadeira violência que nos acomete porque...

...quem destruiu, matou, arruinou, desgraçou e violentou grande parte de cidadãos mineiros e bens patrimoniais e públicos foi, então a China Azul. Bem que um dia, em Conceição do Mato Dentro, em época não muito distante, tive que  dizer ao saudoso Roberto Drummond: “Você é perfeito até para chacotear a vida de nossos rivais!”

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