domingo, 27 de abril de 2014

VIAGENS INESQUECÍVEIS (1) UM DIA NA GALILEIA PERDENDO A NOÇÃO DO TEMPO

Já escrevi sobre a nossa viagem à Terra Santa, mas hei sempre de repetir as eternas obsessões. Aquela expedição nunca sairá de minhas recordações. Digo nossa porque foi com Marlete e mais 66 pessoas. Agora, também para testar a memória, resolvo voltar ao assunto. Transcorreu essa peregrinação do final de setembro ao início de outubro de 2012. Éramos este número de pessoas: 68 exatíssimas, lideradas por dois padres que atuam em Itabira, Cléverson Pinheiro e Luciano Simões. A excursão deixou saudade em todos, pela união que se formou entre os viajantes e pelas surpresas e emoções vividas.

O que mais havia eram guias, prova da abundância de informações que nos foram transmitidas e da segurança que tivemos. A começar pelos dois sacerdotes, amigos de todos, os quais chamamos de guias espirituais; passando por dois rapazes brasileiros, que se responsabilizaram pelo cumprimento integral da programação; chegando a outras e outros especialistas em cada local, como em Portugal (Fátima e outras cidades da região), Roma (parte cristã e profana) e Terra Santa (Israel, Galileia, Nazaré, Jordânia, Jericó, Mar da Galileia, Mar Morto e outros locais).

Aqui e agora vou me deter num só dia ocorrido na Galileia. Saíamos sempre às 8 horas da manhã, horário religioso que teria de ser cumprido a qualquer custo. Naquele dia, Marlete e eu nos atrasamos por causa da procura e comunicação com funcionárias do hotel para lavar roupas. As mulheres falavam árabe e hebraico e Marlete o português mais simples de Itabira e região. Não entendiam patavina, nem vendo as roupas sujas. À procura da companheira e já preocupado com os ônibus que buzinavam, cheguei apressadamente à lavanderia e, graças a um período de inglês que fazia no Wizard, pude dizer e resolver a questão. Foi simples e bastou a frase: “Could you wash these clothes?” Mas foi uma gozação que durou o dia todo.

Chegamos ao ônibus (eram dois) de língua para fora de tão preocupados e cansados, quando recebemos uma salva de palmas, vaias e o “parabéns pra você”, cantado todos os dias para os retardatários. Tudo bem, tentando desviar o assunto, ajudado por dúvidas, quis saber “que dia era hoje”. Perguntei inicialmente ao amigo José Diniz e à sua esposa, Helena. Eles responderam um de cada vez: “Não sei”. Bastou a falta de resposta para me despertar e me fazer continuar com a  enquete até a obtenção de um resultado positivo. Corri, então, ao ônibus, poltrona por poltrona, fazendo a mesma pergunta aos companheiros de jornada. As respostas eram: “Terça-feira, quarta-feira, quinta-feira”. Até um dos guias afirmou taxativamente que “hoje é quarta”, mas o seu companheiro de atividade arriscou o seu palpite como se jogasse na sua loteria: “Hoje é quinta-feira!”

Estava quase pronta a pesquisa e, para concluí-la, me dirigi ao outro ônibus, o azul, já que me encontrava no vermelho. Surpreso, apurei as mesmas dúvidas: ninguém tinha a certeza de nossa localização no tempo e no espaço. Interessante, pensei. Retornei ao assento e me pus a pensar mais: ‘Que viagem fantástica!” - foi a minha extrema conclusão. Fantástica porque nela nos perdemos totalmente acerca do que não tinha o teor de relevância. Era a primeira vez que tal fenômeno ocorria em toda a minha vida. Outros confessaram que chagaram à  mesma conclusão. E podia ser há dois mil e doze anos atrás, a época exata de nossa viagem no tempo, algo gratificante em torno de nossos objetivos. O interessante foi que àquela altura o que nos interessava era conhecer a História Cristã da Humanidade.


Somente à noite, no retorno ao hotel, depois de um dia fantástico transcorrido em montes sagrados e históricos, incluindo o local em que ocorreu o Sermão da Montanha e a  Santa Ceia, é que pude consultar a internet e sentenciar: era sexta-feira, 1º de outubro de 2012. Ninguém acertou a data inesquecível. Viver é se perder no tempo, concluí, finalmente.





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