Já escrevi sobre a nossa viagem à Terra Santa, mas hei
sempre de repetir as eternas obsessões. Aquela expedição nunca sairá de minhas
recordações. Digo nossa porque foi com Marlete e mais 66 pessoas. Agora, também
para testar a memória, resolvo voltar ao assunto. Transcorreu essa peregrinação
do final de setembro ao início de outubro de 2012. Éramos este número de
pessoas: 68 exatíssimas, lideradas por dois padres que atuam em Itabira,
Cléverson Pinheiro e Luciano Simões. A excursão deixou saudade em todos, pela
união que se formou entre os viajantes e pelas surpresas e emoções vividas.
O que mais havia eram guias, prova da abundância de
informações que nos foram transmitidas e da segurança que tivemos. A começar
pelos dois sacerdotes, amigos de todos, os quais chamamos de guias espirituais;
passando por dois rapazes brasileiros, que se responsabilizaram pelo
cumprimento integral da programação; chegando a outras e outros especialistas em
cada local, como em Portugal (Fátima e outras cidades da região), Roma (parte
cristã e profana) e Terra Santa (Israel, Galileia, Nazaré, Jordânia, Jericó,
Mar da Galileia, Mar Morto e outros locais).
Aqui e agora vou me deter num só dia ocorrido na Galileia.
Saíamos sempre às 8 horas da manhã, horário religioso que teria de ser
cumprido a qualquer custo. Naquele dia, Marlete e eu nos atrasamos por causa da
procura e comunicação com funcionárias do hotel para lavar roupas. As mulheres
falavam árabe e hebraico e Marlete o português mais simples de Itabira e
região. Não entendiam patavina, nem vendo as roupas sujas. À procura da
companheira e já preocupado com os ônibus que buzinavam, cheguei apressadamente
à lavanderia e, graças a um período de inglês que fazia no Wizard, pude dizer e
resolver a questão. Foi simples e bastou a frase: “Could you wash these
clothes?” Mas foi uma gozação que durou o dia todo.
Chegamos ao ônibus (eram dois) de língua para fora de tão preocupados e cansados,
quando recebemos uma salva de palmas, vaias e o “parabéns pra você”, cantado
todos os dias para os retardatários. Tudo bem, tentando desviar o assunto,
ajudado por dúvidas, quis saber “que dia era hoje”. Perguntei inicialmente ao
amigo José Diniz e à sua esposa, Helena. Eles responderam um de cada vez: “Não
sei”. Bastou a falta de resposta para me despertar e me fazer continuar com a enquete até a obtenção de um resultado
positivo. Corri, então, ao ônibus, poltrona por poltrona, fazendo a mesma
pergunta aos companheiros de jornada. As respostas eram: “Terça-feira,
quarta-feira, quinta-feira”. Até um dos guias afirmou taxativamente que “hoje é
quarta”, mas o seu companheiro de atividade arriscou o seu palpite como se
jogasse na sua loteria: “Hoje é quinta-feira!”
Estava quase pronta a pesquisa e, para concluí-la, me
dirigi ao outro ônibus, o azul, já que me encontrava no vermelho. Surpreso,
apurei as mesmas dúvidas: ninguém tinha a certeza de nossa localização no tempo
e no espaço. Interessante, pensei. Retornei ao assento e me pus a pensar mais:
‘Que viagem fantástica!” - foi a minha extrema conclusão. Fantástica porque
nela nos perdemos totalmente acerca do que não tinha o teor de relevância. Era
a primeira vez que tal fenômeno ocorria em toda a minha vida. Outros confessaram
que chagaram à mesma conclusão. E podia
ser há dois mil e doze anos atrás, a época exata de nossa viagem no tempo, algo
gratificante em torno de nossos objetivos. O interessante foi que àquela altura
o que nos interessava era conhecer a História Cristã da Humanidade.
Somente à noite, no retorno ao hotel, depois de um dia
fantástico transcorrido em montes sagrados e históricos, incluindo o local em
que ocorreu o Sermão da Montanha e a Santa Ceia, é que pude consultar a internet e sentenciar:
era sexta-feira, 1º de outubro de 2012.
Ninguém acertou a data inesquecível. Viver é se perder no tempo, concluí,
finalmente.
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