quarta-feira, 21 de maio de 2014

PROCURA-SE, VIVO OU MORTO, UM OUVINTE


Vivemos numa época em que o ouvinte desapareceu do mapa. Por causa disso os velhos, principalmente aqueles que estão em asilos, vivem na mais profunda depressão. A causa da depressão do idoso não é a idade avançada, a proximidade da morte,. portanto, mas a falta de quem o ouça nas suas mais grotescas bobagens ou mesmo na sabedoria gratuita.

Essa verdade já era dita na década de 1960. Foi exatamente a época em que inventaram o psicanalista. Esse cuidava e cuida não somente de doidos, mas também dos carentes de audição. Além do ouvinte que sumiu, quem troca mensagens no facebook dificilmente lê o que o outro escreve. Pior ainda quando lhe é mandado um link. 

Um costume que está cada vez mais arraigado na vida de todos os viventes é a interseção. Digo interseção e faço a tradução: duas pessoas conversam em algum lugar; animadamente ou não, de repente, alguém invade o ambiente e se dirige com uma pergunta fulminante a um dos dois que dialogam. Aí está o assassinato inapelável de um suposto ouvinte .

Há também o caso do ouvinte que não ouve mas faz que ouve. Com todas os defeitos, esse é mais agradável do que qualquer outro, sendo respeitoso, já que nada está entendendo da conversa. Imaginem várias facetas diárias que não deixam de se repetir. Uma, você liga para alguém. O telefone toca. O alguém atende e toma a conversa e não para de falar. No final do bate-papo, aquele que ligou não diz o que iria dizer, ou melhor, até se esqueceu de seu recado. 

Já contei o caso de uma audiência que tive com um deputado. Fiquei no seu gabinete durante uma hora e 40 minutos e não consegui dizer umas míseras cinco palavras. A mesa do ilustre parlamentar estava recheada de aparelhos celulares. Eram oito ao todo. A cada minuto um tocava e o doutor político atendia. Tinha momentos em que ele falava com dois ou três ao mesmo tempo. Relegado ao abandono, pedi licença para ir ao banheiro e não voltei mais. Alguém disse que fui sem educação e concordo. Mas, fazer o quê, se não podia mais ficar ali assentado como uma múmia de boca fechada?

Está aí o meu recado de hoje. De vez em quando deixo as minhas abrobinhas”. Mas duvido que mais de seis amigos ou inimigos o leiam. Todos são substantivos abstratos. Mas não tem importância, desabafei. É preciso que cada ser humano construa a sua roda de solidão, pois todos somos uma ilha cercada de surdos por todos os lados OBRIGADO.

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