sábado, 3 de maio de 2014

MORRO REDONDO SÓ FALTA VIRAR LENDA

Nada mais há a se dizer da localidade de Morro Redondo, enigmática montanha, monumento natural e também agora patrimonial do distrito itabirano de Ipoema. Falar e publicar o quê? Há um ou mais blogs e muitos sites bendizendo aquela peça única, inescrutável e inconfundível, instalada por Deus e arrematada por seres humanos de carne e osso. Bem, se insistirem, acredito que haverá um passo à frente: o local se transformará em lenda porque o enigma desse belo e paradisíaco mundo especial parece inacreditável.

Acompanhei e acompanho de perto o trabalho liderado por Roneijober Alves de Andrade desde os idos de 2003, quando ele criou uma obsessão em sua vida, a obra ali erguida. A capela do Senhor do Bonfim era, me desculpe o santo e me desculpem os devotos, um pardieiro. Alguém pode achar ruim, mas vou repetir: era uma capela desleixada. E não sei quando, onde, como, porque surgiu na cabeça cabeluda e careca do Ronei a ideia de transformar aquele paraíso em uma monumental parte do céu com os enfeites que foram adicionados..

Tocado não sei por que energia, só que era uma divina energia, ele, o Jober, cujo nome um dia o Paulo Autran disse em sua cara ser o mais feio do mundo, começou a pensar, arquitetar, planejar, projetar, sonhar e isso fazia até mesmo em voz alta. Em 2004, sabendo que poderia eu participar de algum capítulo de sua história, convidou-me a visitar uma outra criatura do outro mundo, a amiga e artista internacional Vilma Noel. Ela estava plástica e transparente, nos aguardando. O que fomos fazer numa de suas residências, em Coronel Fabriciano (ela mora também no Rio de Janeiro e em Nova York), foi reivindicar de sua bondade uma obra de destaque para o Morro Redondo.

Vilma Noel é dessas amigas inexplicáveis que fiz na vida. Se eu morrer agora ou amanhã e chegar diante do Juízo Final e me pedirem um  nome de amigo ou amiga para me abonar, avalizar, um dos primeiros  que citarei será o dela. Nunca vi em toda a vida uma pessoa tão pura, tão límpida e tão cristalina. E ela deixou escapar na maior e mais descarada facilidade, naquela noite mesmo, que faria uma obra chamada Destino, ou um anjo de braços abertos e que outras peças também fariam parte do conjunto imaginado pelo Ronei. Tudo sem pensar, sem pegar na calculadora e sem usar o mais magro e escasso talvez.

E está lá no Morro Redondo, depois de alguns anos decorridos, além da obra magistral que é vista de longe defronte a capela, o Destino, mais duas pequenas e destacadas peças: o Senhor do Bonfim no altar-mor e o Divino Espírito Santo na parte frontal do templo. Sem participar diretamente do levantamento de realizações que, com certeza, está inserido no caderninho de apontamentos do Ronei, sou capaz de dizer, reafirmar e repetir que a maior contribuinte do Morro Redondo foi ela, a nossa amiga, digo até mesmo estranha amiga, porque ela transborda bondade em todo o seu ser. Não estou brincando não: Vilma Noel doou praticamente toda a obra à comunidade, mesmo entrando incentivos culturais, mesmo participando a Transportes Cisne com parte importante da doação. E dos seus feitos magistrais, que podem ser vistos em mais de 20 cidades do mundo, de países até desconhecidos no nome, uma marca indelével ela cravou numa montanha enigmática de Ipoema.

Agora volto a me referir ao Roneijober. Viajando com ele e Sérgio Mourão, certa vez, ou mais precisamente, no início de 2002, pelas trilhas da Estrada Real, chegamos a Itapanhoacanga, distrito de Alvorada de Minas, região do Serro. Paramos na porta de uma igreja tricentenária, uma das mais antigas de Minas. Perguntei a um jovem casal que passava naquele momento qual seria o nome do padroeiro da paróquia. Com o “não sei” já esperado como resposta, arriscamos o nome de “São Roneijober” com o que a menina e o rapaz imediatamente concordaram. Era uma brincadeira, ou uma sutil ironia ao fato de moradores de um lugar histórico não conhecerem a sua própria história.

Contei essa passagem da Expedição Ronsarão (Ronei, Sana, Sérgio Mourão, depois Afra, outra Sana) apenas para dizer  o seguinte: se alguém chegar hoje ou amanhã a Ipoema, visitar a Pousada Tropeiro Real, e ver um moço alto, metade cabeludo e metade careca, magricelo, de sandálias como um São Francisco de Assis, e com pássaros sobre os ombros, dando milho a pássaros na mão, não se assuste. A imagem será real, viva, possível, a pré-canonização do santo inquestionável.

EM TEMPO: Neste sábado, 3 de maio de 2014, durante a Festa de Santa Cruz, enquanto São Roneijober Andrade dava atenção a visitantes (não se assuste se ele transformar-se em popstar) a capelinha rezava, contrita, pelo seguinte apelo apresentado por uma ministra da Eucaristia: "Que o Senhor do Bonfim nunca deixe o Ronei desanimar-se e que continue liderando as promoções aqui no Morro Redondo" Amém.

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