De minha parte, sem perfeccionismo, acho que trilhei um bom
caminho. E explico a seguir: decorei um lembrete de minha segunda professora,
Dona Inês Madureira – a primeira foi Dona Ilsa Caldeira Duarte – assim escrito
no quadro negro: “Toda palavra tem uma só forma de ser escrita, ou seja, ou
você acerta cem por cento ou erra cem por cento em ortografia.” Como isso
valeu! Já no terceiro ano do antigo curso primário tinha eu um dicionário que,
na época, era conhecido pelos marginais da língua como “pai dos burros”. Dona
Inês em São Sebastião do Rio Preto, João Bosco em Guanhães e José Leite Vidigal
em Conceição do Mato Dentro sustentaram o novo apelido do dicionário, “auxiliar
dos inteligentes.” Por mim, tanto faz, ele é mesmo indispensável.
Mas nem só de ortografia vive ou
sobrevive um idioma. Existem as regras que são inúmeras e difíceis de serem decoradas, mas fáceis de se
encaixar na memória caso haja uma prática regular. Em Português se pratica esse
exercício com a boa leitura. Além de regras de concordância nominal e verbal;
de colocação de pronomes; da importantíssima regência verbal (com o dicionário
se tornando imprescindível), uso do
infinitivo e de tantos exercícios,
feitos em alguns casos com análise de textos, considero importante a própria aplicação
do sentido das palavras, principalmente de verbos, motores de impulso de frases.
Há regras que a maioria das
pessoas nunca aprende, não sei o porquê desse bloqueio mental. Neste caso, fico
com o emprego do verbo “haver”, por exemplo, coitado dele, tem sofrido covardes
ataques como se existisse o estilo bélico em sentenças
gramaticais. Leiam duas frases que resumem covardias praticadas contra esse
rico-pobre verbo: “Ele não vai ao médico
a cinco anos”. O indicador de
tempo passado faz a frase ser assim escrita corretamente: “Ele não vai ao médico há cinco anos”
ou “Faz cinco anos que ele não vai ao médico.”
A segunda construção que muitas almas vivas confundem é: “Daqui há
cinco anos irei estudar na Europa”, Correção: “Daqui a cinco anos irei estudar
na Europa.” Neste caso particular, bastaria dizer que se usa o verbo haver
quando se refere a um acontecimento passado; e para o futuro, nada de verbo
haver.
Não vou aqui descrever todas as
questões que inspiram dúvidas aos brasileiros, claro.Existem manuais de redação de vários jornais e outros livros que ajudam muito
alguém a escrever corretamente. Aqui apenas estou chamando a atenção para
casos muito repetidos, os quais vemos,
principalmente na internet, que dão dó e choro. Para as trocas de mensagens em textos
simples inventaram termos como os seguintes:
“axo”, “concerteza”, “serto” (para mostrar que não quer saber de
regras), “naum” (muito mais fácil é escrever “não”), “xd” (abreviação de
saudade que até parece chique porque nada tem a ver), “chik”, “fudeu” (nunca
foi porque o correto é fodeu).
Com muita certeza a crase é um
desafio a muitos e muitos brasileiros,
até mesmo aos que concluíram graduação, pós-graduação, mestrado e doutorado. De
minha parte, tenho a contribuir com o analfabeto (se quiser continuar nessa
qualificação) apresentando a seguinte
regra como regra orientadora principal: “Usa-se a crase quando se refere a um objeto qualquer que poderia ser
substituído por “ao”, caso esse objeto fosse feminino. Exemplos: “Vou ao
cinema”, “Vou à feira”. Entendido? O a craseado é uma forma de preencher o espaço do objeto indireto.
Quando, nos meus 18 anos de
idade, trabalhei no jornal Diário de Minas, por onde passaram vários literatos
e donos da palavra, havia, na hora do lanche, um sarau de trocas de
experiências, encontros bem-humorados e cheios de ensurdecedoras risadas. Não
me esqueço do dia em que Márcio Prado, cobra criada no mesmo educandário que
estudei, em Guanhães, propôs a seguinte questão: “Qual a palavra mais feia da
língua portuguesa?” Valia um pastel
conhecido como “pastel de orelha” (sem recheio e mulambento). Apresentaram-se
várias expressões como candidatas à resposta correta: edil (que “significa”
vereador), “doravante” (seria daqui para a frente?) e, finalmente, dois termos
escolhidos: esposo (um escândalo da língua) e esposa (até certo ponto, em casos
específicos, aceitável).
Acabou o meu
espaço, tenho de terminar e não “que terminar” , embora me lembre ainda do
hífen (consultem um dicionário pós reforma ortográfica, por ser muito confuso
esse uso), uso da vírgula e outras pontuações (tem que saber fazer uma boa
análise sintática), mais empregos do
verbo haver, além do que foi mostrado, impessoal
(cuidado em dizer “houveram muitas festas”), “O pessoal falaram” (aí, que chute
no saco!). O quê mais? Deixo para outra ocasião, vamos ver. E não me corrijam
neste texto porque foi escrito na maior boa-fé e, como diz um aviso mostrado
num boteco que visitei durante o percurso da Estrada Real: “Naum mi dé conseliu,
cei erar sozinhu.”
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