Ter saudade é, de verdade, um mau momento de nossas vidas. Sentimos
aquele frio na barriga, característico de uma nostalgia por algo já passado mas que, às vezes, não era tão detestável. Engraçado, não é? Por exemplo,
quando foi criada em Itabira a 11a. Companhia Independente de Polícia Militar,
passo preparatório para a atual Companhia Militar, havia um certo medo se espalhando pela cidade, e nele o pano de
fundo tinha o impulso de um novo ciclo do ouro ocorrendo por estas bandas. Muitos devem lembrar-se de que, na época, o tenente-coronel
Jurandir, o delegado de Polícia Civil Robson Esteves e políticos, atendendo iniciativa
de Olímpio Pires Guerra, o prefeito, reuniram-se durante três dias no Seminário de Segurança Pública. Mesmo com
um crime misterioso ocorrendo, denominado o maior desafio do delegado Robson em
sua carreira – um motorista de táxi foi morto misteriosamente – os resultados
foram ótimos e imediatos.
E hoje? Neste momento alguém está sendo assaltado em Itabira, tal
é o aumento assustador dos ataques de bandidos. E o ouro acabou para o
garimpeiro que veio até de Serra Pelada. Em 1993, os itabiranos ainda não acreditavam
na violência, e levavam apenas sustos esporádicos. Incrível como se procedem
agora furtos, roubos, invasões de
domicílios, assaltos simples e à mão armada Impressionante porque a maioria do povo já se
acostumou, sabe que vai acontecer e até fica na espreita. Os comerciantes procuram dificultar o máximo
para o ladrão levar dinheiro, limpam seus caixas, mas pouco resolve porque os
malfeitores carregam o que encontram, completam sua empreitada com arrastões e
espalham o pânico em todas as partes. Bem atrevidos, hein?!
Contam que um bandidinho desses menores — ninguém dá importância a
uma eventual mudança no mal elaborado Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e nem à redução da idade
penal — é a figura que está sempre à frente das quadrilhas. A lei os protege, aí eles atuam até mesmo com o
incentivo dos pais. Os traficantes são as suas ameaças: “Ou me traga o seu
pagamento, ou volte para morrer!” — seria essa a intimação que os move para que saiam por aí dando tiros para
todos os lados como um Tom Mix ou John
Wayne dos filmes faroeste.
A insegurança da cidade chegou ao cúmulo do absurdo e vai
crescendo sob o impulso das rodovias. Nas BRs, como a 381, que liga a região a
Belo Horizonte, o pau está quebrando há mais tempo. Chegou ao ponto de ocorrer
um fato inadmissível há dois anos atrás: a Lanchonete Tia Eliana, tradicional
empresa nascida em Santa Maria de Itabira, que se expande também em franquias
Brasil afora, acaba de tomar a decisão de fechar as portas na Vila Emboabas, município de Caeté, motivada pelo crescente número de assaltos sofridos.
A luta pelo dinheiro é a
mais dramática que há na face da Terra. Primeiramente, promoveram o vil metal
como se ele fosse o nosso deus todo-poderoso, que compra, de acordo com o
escritor Nelson Rodrigues, até o “amor verdadeiro”. E não adianta remunerar ninguém
com relativo reconhecimento ao seu trabalho, quase todos querem ultrapassar os
limites de vantagens.
Lembro-me de que há quase 22 anos, o autor da
ideia foi o então secretário de Governo Márcio Passos. Sabendo que Passos
retornou ao serviço público aqui em Itabira, como consultor da Prefeitura, tomo
a liberdade de passar a ele a sua própria ideia que, repito, deu certo naquele
tempo de violência. Estamos neste instante mergulhados na era do salve-se quem puder ou do vamos reagir antes que levem
a nossa cueca e a nossa vergonha de sair pelado por aí depois de um saque
indigno e humilhante.
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