O que me chamou a atenção foi que, logo ali, no elevador,
alguém me fez uma pergunta intrigante e que me tirou do sério:
— Cadê os
chineses?
Foi de supetão e não consegui pensar na pergunta, quanto
menos na resposta imediata. Apenas olhei pro chão, pro teto, pras paredes do
elevador, procurando um imaginário e eventual chinês sem o seu vírus mortal.
E o moço continuou falando aos meus fracos ouvidos,
detendo-me na saída do edifício, eu com hora marcada, mas parado com ele,
ouvindo questionamentos preocupantes:
— Cadê, Zé, me fala? Estou inquieto com isso!
Foi no ano passado, acho que em setembro ou outubro, fiquei sabendo que uma
turma de autoridades daqui viajou de Itabira à China em busca de projetos,
apoio, dinheiro, os *Renminbi. Tal
equipe chegou de lá eufórica, não por
causa das carnes de gatos, ratos, morcegos que teriam ingerido, mas anunciando
milhões para isso, mais milhões para aquilo, falavam em parque
tecnológico, aeroporto industrial, porto seco, Unifei transbordando de alunos,
faculdade de medicina, e por aí vai. Ou foi...e se foi?
E eu:
— É mesmo,
você tem razão! Não sei responder as suas perguntas agora. Quanto a isso,
vivemos um silêncio ensurdecedor. Perdão, porque andei meio distraído com a
“belorizontina”, as chuvas normais mas destruidoras e outras coisinhas.
Ele me segurou pelo braço com mais ansiedade ainda, e continuou:
— Li nos
jornais, sites, blogs, acho que de você mesmo, na sua notícia seca, ou no zé do
burro, que, no início de janeiro, fevereiro, sei lá, deste ano, tudo se
resolveria, Itabira estaria nadando nos Renminbis e estaria até falando mandarim. Olha,
pode ser que eu esteja errado, mas não ouvi nada neste 2020 sobre o assunto
China em Itabira, estou assim meio preocupado porque, já viu, né? E mais ainda
porque assustei você! (rsrsrsrsrs).
O rapaz, cujo nome não vou revelar, pelo menos agora, veio
com outra:
— Ontem li
num site, acho que no facebook, que a Vale mandou um recado “tranquilizador”
para todos os moradores de Itabira: informou a mineradora que em breve as minas
serão fechadas e que a água vai sobrar em nossas torneiras como nunca sobraram.
O incrível da história é que o recado da empresa doeu dentro de minha barriga,
porque ninguém perguntou à velha e devedora CVRD isto: “Senhora Vale, o que
faremos com a água se a cidade vai acabar?” E mais: “Quem vai usar esse H²O, quem vai
beber?”
E foi embora o rapaz (a Vale ainda não), deixando-me um pouco
mais perplexo. Por isso é que rabisco essas linhas e pergunto às autoridades
itabiranas: cadê os chineses? Ou melhor, eles não, eles transportam
coronavírus, não queremos essa droga, queremos os Renminbis. Estamos
ansiando pelos investimentos, só eles, os
filhos e netos de Mao Tsé Tung, nem Xi Jinping, esses que fiquem lá, quietos.
Que mandem tudo on-line, depósitos, transferências, créditos. Reformulo a
pergunta em nome de meu afoito interlocutor:
— Cadê os
investimentos chineses? Se o negócio foi
conversa “pra boi dormir”, podem deixar, deixem-me na falta de saber mesmo.
Mas, cobrando sem parar...
Cadê? Cadê? Cadê?
José Sana
06/02/2020
* Renminbi é a atual moeda
chinesa.
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