Vamos saltar vários acontecimentos da Antiguidade, deixarmos a Pré-História para mais tarde, por ser necessário considerar que o momento atual exigente de reflexão mais profunda. Voltaremos, sem muita demora, ao início visível e perceptível, ou a uma ocasião de ocorrências historicamente registradas em documentos ou na memória. Tudo ao alcance de nossa inteligência, e com sequência absolutamente lógica. Assim, daremos outra importância ao Homem da Caverna, o perfil imaginável daquele que deixou o seu primeiro habitat natural e saiu para a caça natural.
Estabelecendo o sentido das ocorrências antigas e históricas, o habitante do Globo Terrestre inventou o dinheiro. Vamos dar maior clareza ao tema e deixar bem nítido com inicial maiúscula para traduzir melhor a ganância: Dinheiro.
Neste momento, chamo a atenção para o seguinte: não vamos abolir de forma alguma a moeda de troca, a representatividade do material, o simplificador da permuta que a economia e as bolsas de valores adotaram e promoveram como realmente proprietário do mundo. Para que me entendam, esclareço aos que sempre dizem a frase comum — “Como viver sem Dinheiro?” — seguem duas respostas: a primeira é que não vamos viver sem o tal vil metal; a segunda é que o Dinheiro descerá pelo menos um degrau de seu falso trono, pois a sabedoria popular já brada de há muito e em todas as direções que ele não traz felicidade.
Não sei se me entendem. Se não, parem de ler, desistam, calem-se , mas saibam o seguinte: a proposta é clara e incontestável. Comecemos por uma palavra pouco aplicada na vida prática que é simplesmente o Dom. Três letras apenas. Buscando o significado e os sinônimos para não restar dúvidas: o mesmo que aptidão, jeito, habilidade, inclinação, atributo, dote. E o acréscimo do que proponho aos céticos (caso existam porque estes não me leem): cada ser humano nasceu com um atributo que, naturalmente, pode ser descoberto no início ou no percurso da vida.
Existem os habilidosos em lidar com pedras, outros com madeiras, uns com ciência, alguns com matemática, vários com letras, inumeráveis com eletricidade, destacados com medicina, um ou outro com comunicação, transmissão de sabedoria, uso de inteligência natural e artificial, percepção, pintura, música, poesia, poder de ensinar e por aí vai.
Naturalmente, havia e há um sentido absoluto na decisão superior de dotar o homem de capacidades variadas e úteis ou complementares. E não ocorreria de outra forma, já que a necessidade se resumia no que o mundo requeresse para o seu objetivo de existir e a capacidade de solucionar pelos seus feitos os próprios problemas. Você adoece? Tem o médico que o entende. Você quer construir uma casa? Tem o engenheiro civil. Deseja o trabalho de quem entende de leis? Há o advogado. Não vamos alongar nestes exemplos que são quase infinitos.
Nota-se que há no mundo a necessidade premente de desenvolvimento e esta vai muito acima da subsistência humana. E que é preciso juntar os atributos para que a vida caminhasse e se encaminhe normalmente. Sempre foi assim. Para o transcurso normal precisou-se de trocas e assim deve ter sido desde o início. Por exemplo, nas descobertas e invenções. Quem inventou o fogo? Com certeza o ser Pré-Histórico. Mas ele se encontrou e se entendeu com outro que sabia onde estavam as pedras mais apropriadas para ao se chocarem uma com a outra produzissem resultados eficientes.
Chegamos ao que chamo de grande entroncamento e aí requeiro que raciocinem comigo: abordamos o tema dom, gênio, habilidade, propensão, aptidão. Há, ligada intrinsicamente a vocação para lidar com algo. O que quero dizer: uns nascem para ser ricos e, mesmo que lhe tirem, lhe roubem, lhe confisquem, a abundância retorna ao seu dono; pelo contrário, existem os que ganham em loterias, os que roubam ou vivem como desonestos, até mesmo sejam trabalhadores. Muitos não aquinhoados para sempre, mas há os que um dia perdem tudo. A sabedoria popular diz: “O que é do homem bicho não come!” Eu completaria: o bicho come mesmo que a esperteza dos incautos apareça.
Erram os que pensam que a riqueza é desnecessária. Ora, sim; ora não. Explico: quem acumula bens e guarda como propriedades paradisíacas, ou nos bancos, nos baús ou debaixo do colchão ou do travesseiro, revelam que são seres inúteis Os bens foram criados para serem distribuídos como balas no dia das crianças? Logicamente, não. Mas não são as riquezas que geram empregos e renda? Aí cumprem o seu dever de participar do grande projeto do mundo uma vez abandonado por descuido ou mania de achar que se sabe tudo.
Chegou o instante de encerrar este capítulo que ficará por enquanto incompleto, mas será tecido devagar como faz uma operadora de tear, ou como cose uma costureira das linhas ou borda as habilidosas em crochês. É preciso entender o sentido de dom e vocação para se compreender os desígnios divinos. Aí o ser humano vai perceber o quanto errou e por que se embrenhou em descaminhos como um bandeirante em florestas. Exemplos dos que não conseguem se enriquecer e vivem teimando são fartos; e de ricos que não sabem como distribuir com perícia, idem. O homem passou a venerar o Dinheiro como se fosse ele um ser todo-poderoso. Demora a quebrar a cara. Fatos e fatos vão se sucedendo para abrir-lhe os olhos. Continua cego.
Concluindo: consumou-se a praga que o próprio homem rogou em si próprio. Como diz aquela novela ou filme “Pedras sobre Pedras”, as virtudes humanas vão ficando escondidas e inventam novas fórmulas de falsidades. Dizem desabonar a ambição, mas não descobrem a causa da cobiça; tentam conter as fúrias obsessivas internas e nunca alcançam o objetivo.
Espero que daqui para a frente ao invés de dizer que o homem não consertará o mundo, digam de outra forma: que é preciso buscar as causas para que se eliminem os efeitos. O homem se emenda, sim, mas precisa saber, primeiramente, como errou, por que falhou, quando foi e o que precisará fazer para não cometer mais imprecisões incontidas. Neste tópico abordado a imprecisão se resume em ter considerado (e continua valendo) que o dinheiro é Dinheiro, um deus todo-poderoso que “compra até o amor verdadeiro”, como escreveu ironicamente Nelson Rodrigues.
Proponho o fim do radicalismo. Façamos apenas o seguinte: vamos rebaixar o vil metal a um honroso segundo lugar, por ora. Depois estudaremos para ele uma classificação mais adequada. O reino verdadeiro cabe Àquele que nos comanda, nos guia, nos conduz, nos governa e nos propõe a paz. Se duvidam, continuem quebrando a cara e gritando erroneamente que o mundo não tem conserto.
José Sana
16/04/2020
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