domingo, 20 de dezembro de 2020

CAMÕES AGRADECE E OS FALSOS DECANOS TAMBÉM

 Amigos, ganhei recentemente uma amiga especial que, a partir de quando nem me conhecia pessoalmente, me chamava de decano. Alguma façanha de minhas bestas palavras lhe chamaram a atenção e ela resolveu expandir este epíteto pelas largas bandas  da internet. Entendi que era para significar  o ser mais antigo de uma instituição qualquer, de ensino, por exemplo. Ela chegou a essa conclusão porque lhe disseram que eu tinha 90 anos de idade. Que promoção!

Mas o que eu queria dizer, antes de rabiscar estas linhas, é que sou mais antigo que a Serra do Caraça e isso só me traz uma felicidade grandiosíssima. Sou dos tempos bíblicos do Gênese, Êxodo, Levítico, Deuteronômio, Números, embarquei na arca de Noé, fui salvo das intempéries ocorridas no Velho Testamento. E estou aqui, mesmo deão, vivendo os tempos que nunca serão saudosos da pandemia do imprevisível por nós, o tal Coronavírus.

As razões que me trazem hoje ao mundo das palavras são o jornalismo, a imprensa, as publicações que advêm da internet que, pensavam que fosse só mostrar o lado bom do ser terrestre, mas se esculhambou com o mundo, tudo e todos. Alguém deve saber que, em determinada época da vida, o criador (pelo menos para nós, brasileiros) da aviação, o gênio Santos Dumont, entrou numa cava depressão ao constatar que o seu invento provocara a multiplicação da violência nos países, principalmente os mais evoluídos. A partir desse desenvolvimento, proliferaram-se as armas ainda mais mortais em guerras destruidoras. O trágico bombardeio dos Estados Unidos a Hiroshima e Nagasaki se deu via bombas atiradas de aviões, um horror inesquecível.

A internet, apelidada por um outro amigo meu de “porta de banheiro de rodoviária”, onde se escreve o que quer, tornou-se a imediata causadora de tantos males que atingiram a imprensa, não apenas a mundial, nem a brasileira, mas, notadamente, a regional, digo de Itabira e a cidade mais próxima, a vizinha João Monlevade. De repente, as nossas Hiroshimas e Nagasakis  foram alvo de um bombardeio não só ensurdecedor, mas também destruidor de gerações do idioma pátrio como as bombas da Segunda Guerra Mundial.


De repente, qualquer cidadão, com todo o direito constitucional, não contesto, tornou-se jornalista refinado, dono de icebergs em redes sociais capazes de danificar o planeta. Até aí, tudo bem, mas o mal veio não apenas nas chamadas fake news, não me refiro agora somente a isso, mas a, primeiramente, agressões à língua pátria, e ao leitor ávido por notícias límpidas e cristalinas. Quando fiz vestibular para Jornalismo na antiga Fafi-BH, hoje Uni-BH, a redação era disciplina obrigatória e eliminável. E fui estudar, depois dos 30 anos de idade, porque a antiga Vale do Rio Doce assim o exigiu para que pudesse ocupar cargo na assessoria de imprensa. Tanta exigência era enfrentada por todos e hoje vejo o outro lado da moeda: o sujeito para ser chamado de repórter só precisa ter um celular e e duas pernas.

A nossa Constituição Federal nos garante praticar a livre expressão do pensamento, podemos escrever o que queremos, é claro que sem ofender a moral e outros pontos nevrálgicos da criatura humana, mas tenho as minhas concessões como filho de Deus que são e serão sempre contestadas, vão procurar até erros neste texto para que seja exposto ao ridículo. Mas defendo que, inicialmente, precisamos respeitar a nossa Língua Portuguesa, tão bela e igualmente ancoradouro de nobres escritores e poetas. E eu digo que errar é um risco, mas ser humilde e reconhecer o tropeço, uma virtude. Que catem meus solecismos bárbaros, portanto, e eu me ajoelharei  para corrigir.

Sou ex-jornalista (tenho mais um amigo que diz não existir ex-jornalista, como para ele não existe ex-bandido), mas digo que escrevo agora por dever de ofício, por necessidade básica até desconhecida da razão, por intrometimento ou dever de ofício. Fico muito triste quando constato que a notícia vem sofrendo constantemente um aviltamento coletivo, não a entendem e, consequentemente, a transmitem de forma agressiva a tudo e a todos. Errar hoje na imprensa tornou-se não uma tragédia, como antigamente, mas um hábito destruidor.

Luís Vaz de Camões, português de nascença, considerado uma das maiores figuras da literatura lusófona e um dos grandes poetas da tradição ocidental, bem como seu compatriota escritores e poetas Fernando Pessoa (este me retorna sempre à minha aldeia), os brasileiros intocáveis como Machado de Assis, Anita Malfatti, José de Alencar, Rui Barbosa, Guimarães Rosa, Tarsila do Amaral, Eça de Queiroz, Cecília Meireles, Rachel de Queiroz, Clarice Lispector, Jorge Amado e nosso conterrâneo Carlos Drummond de Andrade, não poderiam jamais estar sossegados em seus túmulos caso vejam ocorrer verdadeiros assaltos à mão armada a verbos, adjetivos, substantivos, pronomes, ortografias, concordâncias, adjuntos, regências e outros detalhes da gramática que insistem em desmascarar, pisotear e destruir.

Sei que nesta altura devem armar um coro de vozes contra mim, um decano às avessas, retrógrado dos tempos de Última Hora, Jornal do Brasil, Diário de Minas, Tribuna da Imprensa, Pasquim etc. Contudo, espero que não duvidem nem me alijam do rol de amantes do jornalismo por ter trabalhado com Vargas Vilaça, meu primeiro professor, Mauro Santayana, Márcio Rubem Prado, Maurílio Brandão (que me admitiu e me demitiu do Diário de Minas), e outros.

Caso queiram mesmo me bombardear, serei capaz de requerer um diploma para cada profissional que me garantir segurança em não escrever sequer uma notícia e publicá-la se nela não constarem respostas às seguintes questões: “O quê? Quem? Onde? Como? Quando? Por quê?.” Não mexam com jornalismo sem saber estas regrinhas básicas, fundamentais e simples.

Esta é uma minha tentativa de demonstrar meu amor incondicional por nossa Língua Portuguesa e defender o leitor estarrecido. E podem me desferir uma saraivada de palavrões que agradeço.

 José Sana

Em 20/12/2020

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