— Maria, vem cá! Vou te mostrá como tá o mundo. Numa brigação que não acaba mais! Vem vê o que o Geraldim me mandou por iscrito. Ele mandô no papé, copiô o que tava nessa tal de internet.
— Ih... mandô pra mim também. Tá iscrito: “Já inventaram a vacina contra o Coronavírus. Mas ninguém tem a certeza de qual é a melhor. Tem chinesa, brasileira, americana, russa, e outras. Vocês, que moram aí na roça, esperem para a gente ver qual mesmo funciona. Cada um defende a sua e fala que a outra não presta. Vamos aguardar”.
— E aí, Izé, o que nóis vai fazê?
— Eu num vou fazê nada. Vou ligá pro Geraldim e mandá falá com esse povo que tô cansado de sê passado pra trás, de sê bobo e burro igual a eles. Uma vergonha, viu, Maria?
— Cê tá com vergonha de quê?
— Vergonha de sabê que a inteligênça dos homes é burrice pura. Inté hoje não discobriro como vivê em paz. Inventaro tudo, de máquina a coisa de computadô. Falam que esse cientista é o bão, aquele doutô sabe tudo, e o outro lá é prêmio não sei de quê, tiram foto deles, põe no jorná, mas isquec que ninguém sabe nada!
— Não istô intendeno nada q’uocê tá falano.
— Maria, tô falano que se tivesse cem pessoa inteligente aqui neste mundo, esses sabido já tinha achado o caminho da paz. E como não consegue nem descobri isso? Inteligente neca nenhuma! Diz as pessoa que o mundo tem bilhão não sei quanto de gente. No meio desse bilhão num tem cem, duzento, trezento que pode unir em nome do mundo e mandá o povo se aquietá, sossegá, intendê que há caminho de intendimento? Mas não, fica numa brigaiada, um sabe mais que o outro, e nóis ficamo aqui feito tatu de madrugada, de zoio arregalado, isperano eles acabá de brigá pramode a gente fazê sem sabê o que é o certo.
— Deixa de sê bobo, Izé! Isso num vai acontecê nunca! Este mundo é uma mitidez danada. Todo mundo qué é poder, dinhero, e ninguém qué sabê de humirdade coisa ninhuma. Um qué sê o tal e o outro tamém. Num existe nada de intendê, fica ativo, véi!
— Intão, vamo fazê o quê, Maria?
— Vamo ficá quieto aqui na roça até o Geraldim chegá e ispricá pra gente o que devemo fazê. Ele istuda, vem da cidade, ele sabe dizê tudo certim.
— Oia, Maria! Isso aqui neste mundo tá danado. Uns acha é dono, é dono de nada, tão pirdido igual a nóis memo. Acridito que existe pelo menos uns cem homes e muieres que falta juntá e concordá um com o outro e mostrá na sabidoria que num tem interesse próprio, num tem vaidade, num tem safadeza. Mas tão iscondido ainda. Do jeito que tá, um é capitalista, outro é socialista, têm os comunista. Intão, nada feito! Deus do Céu, que sabe de verdade, mostra que num é nada disso. Ele é naturalista, pensa pra todo mundo iguar, chega de um bancá o tar, ficá brigano por causa de dominá o resto. Este mundo ainda é burro dimais e num mostrô pra nóis ainda o certo.
— E ocê, Izé, acha que bobão da roça igual a nóis podemo dizê isso lá fora? Vão ri da gente, meu véi!...
— Nóis é que está rino deles, cê tá veno aí. Eles que perdero o rumo de casa, tão quereno juntá os a favô disso, daquilo e os contra pra separá. Isso num é caminho certo não, viu? Vou continuá dizeno: os que sabe tão tudo calado e espero que junte tudo de uma vez e assim vamo vivê em paz com Deus e todos como irmão. Como o Juaquim mesmo diz: “Tudo idiota e tolo!”
— Manda o Geraldim pôr isso que ocê falô na tal de internet...
— Eu não, Maria! O Bastião disse que o Nenzim falô pra ele que internet é iguar porta de banhero de rodoviara, iscreve o que qué nela. Já pensô a bagunçada?!
— Vou concordá com cê, Izé. Eita mundo doido! Todo mundo burro e surtado!
José Sana
Em 17/12/2020
Né messss?
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