O mundo inteiro
procurava (muitos ainda procuram) a causa desta malvada Covid-19, ora do gênero
feminino, ora masculino, delicada ou varonil. Considerando a liberdade de
eufemismos que ainda há, prefiro acreditar que se trata de um casal inseparável.
Por isso os denomino Coronavid-19. E justifico seu gênero neutro gramatical,
sem os babacas dos preconceitos que devastam e devassam o mundo.
Além da maldição que veio apregoar — para uns, não, tem gente até caçoando dele — há a curiosidade de se saber se o casal foi gerado em laboratório ou advém de uma praga dos estilos vaca louca, peste bubônica, varíola, tifo, cólera, gripe espanhola, sei lá mais o quê. Chegam a acusar a China e até os bilionários George Soros e Bill Gates como os (ir) responsáveis pelo infortúnio que assola o Planeta Terra. Repito que a uns curibocas nem incomoda ou chateia, esses acham-se os filhotes da verdade, ou legítimos proprietários propriamente ditos dela.
Também os tais de capeta, belzebu, satanás, Lúcifer e outros menos votados, estão na lista dos autores e correm o risco de serem conduzidos a um tribunal internacional, quem sabe o de Haia, ou de serem inseridos na Lista de Schindler. Em tempo algum nunca se escreveu tanta baboseira como hoje em dia se borda (inclusive eu mesmo, confesso) a respeito de suposições, que vão de coisinhas à toa até ao “apocalipse now”, incluindo o bíblico de São João e os anúncios de Nostradamus.
O inesquecível carnaval “proibido teoricamente” da história do mundo, o deste ano, cuja vedação é meio a meio — ou seja, isto pode, aquilo não pode — assim se esclareceu: o "indigníssimo" Coronavid-19 só detesta mesmo a zoeira e com ela os rebolados. A descoberta pode ser creditada aos governos federal, estaduais e municipais, que bordaram e transbordaram decretos. Acreditavam, ou ainda inocentes acreditam, que seria a aglomeração o nascedouro quase único dos sintomas, isolamentos, quarentenas e sepultamentos. Jamais desconfiaram do barulho. O povo pratica de tudo, só não faz arte, estrondos, gritarias, cantarolas e sambas enredos, a não ser uma homenagem ao silêncio.
A conclusão é simples e clara: abra você a internet e veja lá o que está escrito, visto e audível — os permitidos: aglomerações, abraços apertados, beijos avulsos, bicadas no mesmo copo, comilança no mesmo garfo — e os abolidos: máscaras, uso da água e álcool gel. Caem fora já de depressa: trios elétricos, tamborins, pandeiros, enfim, barulhada. Para não deixar de repetir: a arte.
Só vamos acreditar que os “doutores da lei”, semelhantes aos trapaceiros do tempo de Cristo, estejam certos. Saberemos daqui a umas duas semanas, quando, queira Deus, não se repitam aquelas correrias aos hospitais do pós-festanças de fim de ano.
Deus nos
proteja. E estará descoberta, finalmente, a cura do Coronavid-19.
José Sana
15/02/2021
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