quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

UM CENTENÁRIO BEM VIVO E DE ALGUÉM MUITO QUERIDA

É muita responsabilidade dedicar algumas simples palavras à grandeza de alguém tão especial, ou melhor a gente maravilhosa. E por ser ato de dever cristão, deixo para outras pessoas reforçarem o que posso garantir. Vou apenas frisando algumas recordações desta querida, amada, perfeita criatura que Deus colocou no mundo.


IDENTIDADE

 

Vamos à homenageada. Quem é? Onde nasceu? Onde viveu? O que fez e faz na vida? Vou abrir a memória de quem ainda não se despertou: é conhecida como Neném de Dona Maricas do Sô Tão do Padre. Genitores: Sebastião Augusto Ferreira (Sô Tão) e Maria Madalena de Oliveira (Dona Maricas); esses foram pais de Geraldo, Raimundo, José Lucas, Sebastião, Alípio, Antônio, Deolindo, Maria Lina. Emanuel e Socorro. Só uma referência significativa a esses dez descendentes basta: se eles não apareciam nas festas de setembro em São Sebastião do Rio Preto, os exaltados sentenciavam: “Este ano não tem festa!”. E eram indispensáveis figuras somadas aos de Dona Naguita.

 

SOLTEIRA  FELIZ

 

Neném nasceu, foi batizada e crismada na Igreja Matriz de São Sebastião pelo Padre Quinzinho. Só há um fato que nos intriga: graciosíssima e não se casou numa época em que o matrimônio constituía-se ritual obrigatório. A perplexidade das pessoas na época adivinha de sua personalidade extrovertida. Até meu pai andou namoricando-a, coisas bem inocentes daqueles velhos tempos. Num dia não muito distante, há uns oito anos por aí, visitei-a e ouvi a sua confissão franca: “Escolhi demais e quando me acordei já tinha virado titia. Mas fui e sou feliz assim”.

 

FATOS E FEITOS

 

Interessante notar o quanto Neném é querida: alfabetizou centenas de pessoas, como professora formada, nomeada e festejada como outras (exemplo: Lucinha e Conceição Maia); ministrou ensino durante mais de seis anos como alfabetizadora, professora e disciplinadora  na  Escolas Reunidas Nossa Senhora das Graças de sua terra natal; trabalhou durante 25 anos na Secretaria de Estado de Educação, onde se tornou o escudo de milhares de mestres da região, que necessitavam resolver questões burocráticas na Secretaria; querida para ela é um adjetivo muito econômico e basta anotar o número de afilhados que coleciona: 63 (sessenta e três, com todos os nomes anotados e os compadres). E aí está rodeada de admiradores espalhados por lugares distantes, aos quais prestou serviços e ofereceu simpatia de graça. Vive hoje sem poder receber o carinho de todos devido a esta inimaginável pandemia.

 

DÓCEIS PALAVRAS

 

Maria Lina, nome herdado de sua avó paterna, escreveu sua autobiografia há 20 anos, usando palavras dóceis como sempre nascem da pena castiça e da pronúncia delicada. A bondade ao extremo extravasa hoje de um olhar compreensivo, como relata sua sobrinha Anna. Mas antes desta avaliação, já sabia eu que ela talvez seja uma das únicas pessoas no mundo que nunca tenha proferido um palavrão. Não me cansei de ouvir esta declaração do saudoso  José Lucas, o saudosíssimo Zezé, seu mano.


 APERTOS E SUSPENSE

 

Apertos e alegrias na vida ela já passou, é claro. Conta causos nos seus bem torneados escritos. E estão registradas palavras dela própria, de suspense e lindas. Relata também sobre sua cantoria em igrejas, dedilhando e pedalando o harmônio (instrumento musical parecido com piano), na exibição de entoação rítmica e, olhe, na liderança em cada instante de suas participações comunitárias, cívicas e religiosas. Bem poderia falar mais dela, mas o espaço é curto.

 

TRÊS ATOS E FATOS

 

Vou resumir apenas três fatos de sua vida para apresentar-lhe reconhecimento e agradecimento ao mesmo tempo.

 

FATO 1— Rendo minha homenagem à sua sobrinha Anna Paula Vitor, que ainda leciona em duas escolas em Belo Horizonte e Contagem. Não tenho como admirar mais Anna pelos seus oito anos já dedicados em quase todas as suas horas livres a cuidar da Tia querida.  É muito amor incondicional, muita luz divina a guiar essa menina.

 

FATO 2— De tão significativo que é este 3 de fevereiro de 2021, registre-se: Maria Lina, a amada, principalmente pela sobrinha e muitas outras cuidadoras, parentes e amigos, merece fervorosas orações pelo que ela já nos ofereceu de coração aberto.

 

FATO 3 — O terceiro fato é pedir perdão por entrar nesta história e dizer que no dia 26 de outubro de 1958, na Igreja Matriz de São Miguel Y Almas, de Guanhães, ocorreu o casamento de Vâni (uma das mulheres mais bonitas do mundo) com Lúcio (também um verdadeiro galã de Hollywood).

 

Marlete, como sempre chique, gostava de vestir roupas da moda e um bem engomado terno sempre me acompanhava. E sempre fui exímio mestre em dar nó em gravata. Lá na igreja estávamos apenas como presenças sem função participativa.

 

De repente uma mão leve e suave me puxa pelo braço e me coloca ao lado da donzela de 10 anos (eu com 13) e entrega-nos um par de alianças. Grande improviso. Fatos de antigamente. Tudo no último instante de um casamento verdadeiramente chique.

 

A mão que me guiou era de Dona Neném. Nunca pensávamos, Marlete e eu, em namoro, duas crianças inocentes de estudar tabuadas, brincar de bonecas (ela) e jogar futebol de botões ou bolinhas de gude (eu). A acariciadora de bonecas recebia  a incumbência de “dama de honra” e o também operador de estilingue como“pajem”, ambos improvisados. O ato de Dona Neném tinha um ar mais sério, funcionou como profecia: 12 anos depois a dama e o pajem se tornaram marido e mulher com as bênçãos de Deus.

 

CENTENÁRIO SEBASTIANENSE

  

Solicito, de coração aberto, procurando reparar o que outros mereciam e não receberam esta homenagem (descontando que vivíamos tempos diferentes), que se faça uma promulgação de norma oficial por nós, conterrâneos. Fica a critério das autoridades sebastianenses a criação de uma lei que denomine “2021 ANO DO CENTENÁRIO DE MARIA LINA FERREIRA”.

 

ENCERRANDO

 Para encerrar, tentemos interpretar como funciona a Lei de Deus, expressa nas formas que Ele, o Todo-Poderoso, diria a ela: “Querida Neném, você vive este tempo para ensinar ao mundo como a vida deve ser vivida. A humanidade necessita de espelhos fiéis como você  e por causa disso você está aqui”.

 

José Sana

 Em 03/01/2021

Um comentário:

  1. Minha mãe ( Otelina) tinha uma verdadeira amizade e admiração por ela. Meu tio Zezito queria namorá-la mas o destino o levou para a Sul.

    ResponderExcluir