É muita responsabilidade dedicar algumas simples palavras à grandeza de alguém tão especial, ou melhor a gente maravilhosa. E por ser ato de dever cristão, deixo para outras pessoas reforçarem o que posso garantir. Vou apenas frisando algumas recordações desta querida, amada, perfeita criatura que Deus colocou no mundo.
IDENTIDADE
Vamos à
homenageada. Quem é? Onde nasceu? Onde viveu? O que fez e faz na vida? Vou
abrir a memória de quem ainda não se despertou: é conhecida como Neném de Dona
Maricas do Sô Tão do Padre. Genitores: Sebastião Augusto Ferreira (Sô Tão) e
Maria Madalena de Oliveira (Dona Maricas); esses foram pais de Geraldo, Raimundo,
José Lucas, Sebastião, Alípio, Antônio, Deolindo, Maria Lina. Emanuel e Socorro. Só
uma referência significativa a esses dez descendentes basta: se eles não
apareciam nas festas de setembro em São Sebastião do Rio Preto, os exaltados sentenciavam:
“Este ano não tem festa!”. E eram indispensáveis figuras somadas aos de Dona
Naguita.
SOLTEIRA
FELIZ
Neném nasceu, foi batizada e crismada na Igreja Matriz de São Sebastião pelo Padre Quinzinho. Só há um fato que nos intriga: graciosíssima e não se casou numa época em que o matrimônio constituía-se ritual obrigatório. A perplexidade das pessoas na época adivinha de sua personalidade extrovertida. Até meu pai andou namoricando-a, coisas bem inocentes daqueles velhos tempos. Num dia não muito distante, há uns oito anos por aí, visitei-a e ouvi a sua confissão franca: “Escolhi demais e quando me acordei já tinha virado titia. Mas fui e sou feliz assim”.
FATOS E FEITOS
Interessante
notar o quanto Neném é querida: alfabetizou centenas de pessoas, como
professora formada, nomeada e festejada como outras (exemplo: Lucinha e
Conceição Maia); ministrou ensino durante mais de
seis anos como alfabetizadora, professora e disciplinadora na Escolas Reunidas Nossa Senhora das Graças de
sua terra natal; trabalhou durante 25 anos na Secretaria de Estado de Educação,
onde se tornou o escudo de milhares de mestres da região, que necessitavam resolver
questões burocráticas na Secretaria; querida para ela é um adjetivo
muito econômico e basta anotar o número de afilhados que coleciona: 63
(sessenta e três, com todos os nomes anotados e os compadres). E aí está
rodeada de admiradores espalhados por lugares distantes, aos quais prestou
serviços e ofereceu simpatia de graça. Vive hoje sem poder receber o carinho de
todos devido a esta inimaginável pandemia.
DÓCEIS PALAVRAS
Maria Lina, nome
herdado de sua avó paterna, escreveu sua autobiografia há 20 anos, usando
palavras dóceis como sempre nascem da pena castiça e da pronúncia delicada. A bondade
ao extremo extravasa hoje de um olhar compreensivo, como relata sua sobrinha
Anna. Mas antes desta avaliação, já sabia eu que ela talvez seja uma das únicas
pessoas no mundo que nunca tenha proferido um palavrão. Não me cansei de ouvir
esta declaração do saudoso José Lucas, o
saudosíssimo Zezé, seu mano.
Apertos e
alegrias na vida ela já passou, é claro. Conta causos nos seus bem torneados
escritos. E estão registradas palavras dela própria, de suspense e lindas. Relata
também sobre sua cantoria em igrejas, dedilhando e pedalando o harmônio (instrumento
musical parecido com piano), na exibição de entoação rítmica e, olhe, na
liderança em cada instante de suas participações comunitárias, cívicas e
religiosas. Bem poderia falar mais dela, mas o espaço é curto.
TRÊS ATOS E FATOS
Vou resumir
apenas três fatos de sua vida para apresentar-lhe reconhecimento e
agradecimento ao mesmo tempo.
FATO 1— Rendo minha homenagem à sua sobrinha Anna
Paula Vitor, que ainda leciona em duas escolas em Belo Horizonte e Contagem.
Não tenho como admirar mais Anna pelos seus oito anos já dedicados em quase
todas as suas horas livres a cuidar da Tia querida. É muito amor incondicional, muita luz divina a
guiar essa menina.
FATO 2— De tão significativo que é este 3 de
fevereiro de 2021, registre-se: Maria Lina, a amada, principalmente pela
sobrinha e muitas outras cuidadoras, parentes e amigos, merece fervorosas
orações pelo que ela já nos ofereceu de coração aberto.
FATO 3 — O terceiro fato é pedir perdão por
entrar nesta história e dizer que no dia 26 de outubro de 1958, na Igreja
Matriz de São Miguel Y Almas, de Guanhães, ocorreu o casamento de Vâni (uma das
mulheres mais bonitas do mundo) com Lúcio (também um verdadeiro galã de
Hollywood).
Marlete, como
sempre chique, gostava de vestir roupas da moda e um bem engomado terno sempre
me acompanhava. E sempre fui exímio mestre em dar nó em gravata. Lá na igreja
estávamos apenas como presenças sem função participativa.
De repente uma
mão leve e suave me puxa pelo braço e me coloca ao lado da donzela de 10 anos
(eu com 13) e entrega-nos um par de alianças. Grande improviso. Fatos de
antigamente. Tudo no último instante de um casamento verdadeiramente chique.
A mão que me guiou
era de Dona Neném. Nunca pensávamos, Marlete e eu, em namoro, duas crianças
inocentes de estudar tabuadas, brincar de bonecas (ela) e jogar futebol de
botões ou bolinhas de gude (eu). A acariciadora de bonecas recebia a incumbência de “dama de honra” e o também
operador de estilingue como“pajem”, ambos improvisados. O ato de Dona Neném tinha
um ar mais sério, funcionou como profecia: 12 anos depois a dama e o pajem se
tornaram marido e mulher com as bênçãos de Deus.
CENTENÁRIO SEBASTIANENSE
Solicito, de
coração aberto, procurando reparar o que outros mereciam e não receberam esta
homenagem (descontando que vivíamos tempos diferentes), que se faça uma promulgação
de norma oficial por nós, conterrâneos. Fica a critério das autoridades
sebastianenses a criação de uma lei que denomine “2021 ANO DO CENTENÁRIO DE
MARIA LINA FERREIRA”.
ENCERRANDO
José Sana
Minha mãe ( Otelina) tinha uma verdadeira amizade e admiração por ela. Meu tio Zezito queria namorá-la mas o destino o levou para a Sul.
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