segunda-feira, 26 de julho de 2021

AI DA IMPRENSA SE NÃO FOSSE A NOTÍCIA RUIM

 Todo ser humano mostra-se assustado e inconformado quando lê em qualquer meio de comunicação — jornal, rádio, internet — a história de um criminoso cruel que estuprou e matou uma criancinha. Mas vibra, inconscientemente, no fundo da alma, ao encontrar uma notícia desse teor tenebroso. E dá murros na mesa de vontade de vingar aquele crime nefasto.



Do mesmo jeito sente o médico caso as fichas de pacientes não estejam recheadas de nomes de pacientes que dependem de seu trabalho para sobrevivência.

Assim também o advogado, o desembargador, o ministro de um supremo qualquer  ficariam todos  em situação de penúria  se o povo tomasse juízo e baixasse nele a mansidão da sonhada paz universal.

Certa vez encontrei-me com um policial especialista em desvendar sequestros. Ele tinha uma equipe de auxiliares que recebia altos salários. Um dos componentes do grupo me confidenciou que  havia um mês não ocorria um sequestro. “Que bom!” — me empolguei. E ele respondeu: “Que bom, uma ova! Se o meu departamento acabar não terei mais emprego!”

Sobre as estatísticas de crimes, uma delegada me disse, como repórter que eu era, o seguinte: “Os números de ocorrências não podem cair mais. Está bom assim! Senão ficaremos sem ter o que fazer!”

Ai do jornalista, ai do médico, ai do advogado, caso o mundo se tornasse cem por cento bonançoso.  Alguém já fez um levantamento mais ou menos assim: sem fome, livre da peste, ponto final em todas as doenças, não sobreviveríamos. Mais precisamente, criaríamos, por conta própria, o caos profundo e depressivo.

O ser humano não concebe, com a mente que desenvolveu, vislumbrar uma era de plena paz, total harmonia, um paraíso de seres bem-intencionados. 

As universidades, faculdades, colégios, escolas, grupos de oração, organizações mundiais para a paz, enfim, o mundo todo se embriagaria no tédio. Este é o real motivo pelo qual os mais inteligentes só arquitetam o desgaste da personalidade humana. Quer dizer que a sobrevivência de um depende da desgraça de outro, ou de outros.

Os críticos, esses seriam os primeiros desgastados, não teriam um fulano de tal pecador para malhar.  Quem passa a vida debochando da vida alheia comeria o pão que o diabo amassou.

Antes de afirmar que a paz é inatingível ou de alguém me cobrar que não falei de flores, propago uma frase do pintor e cineasta norte-americano, Andy Warhol, que muito chama a atenção de quem a lê: “O segredo da paz mundial é cada um cuidar da sua vida”.

Vamos, então, refletir, baseados num peça famosa, a do escritor e poeta italiano,  Dante Alighieri. Sua comédia aplaudida seria vaiada. E eu não teria assunto para abordar agora, ou seja, seria também um escrevinhador do nada, bobo e sem assunto.

José Sana

26/07/2021

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