segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

“NAU MI DÉ CONCELHU, CEI HERAR SOZINHU”

 A  Empresa X recebe da Empresa Y uma mensagem via WhatsApp. Diz a notinha:

 “Precizo muito urgente de orçamento compreto das coisas seguintes: 1 bomba de bombear agua (sic), 1 cano de duas bocas, 2 retentor (sic) de cano de meia, 4 cano pvc de dois metro (sic), 10 folha (sic) de licha (sic) de tamanho medio (sic), um pano de enchugar (sic) boca de cano de pvc, 4 tinta (sic) branca, 4 tubo (sic) e conecchão (sic), 12 cifrão (sic), T 90 grau (sic), conequitor (sic) maxo (sic), flechivel (sic) de pvc, ralo-dengue, joelho tamanho igual a 1/2, 2 cifrau (sic) chanfonado (sic). Obrigado. Mateus”.

 Se um nem outro pegar no telefone e ligar, ou comparecer pessoalmente para prestar esclarecimentos,  negócio nenhum acontecerá como fruto da mensagem. Perda de tempo para vendedor e cliente.

 

Mas não são somente erros de grafia  que  vemos por aí. Existem os incríveis : “A (sic) mais de dois dias tento falar com você  e não consigo”; “Daqui há (sic) uma hora e meia no macimo (sic) eu espero receber a sua resposta”; “Fazem (sic) três semanas que não recebo tabela de preços”; “Eu estava lá na reunião, mais (sic) a conversa paralela não parou de acontecer”; “As peças encomendadas não serviram para fazerem (sic) o que pretendia fazer”; “Esse trabalho é para  mim (sic) fazer?”;  “A turma de trabalhadores estiveram (sic) lá na obra o dia todo”, “Sapataria de Concertos”;  “Borracharia do Mané” - 24 oras no ar” (sic);“Temos balas, doces, cigarros e todas os latrocínios (sic) em geral”.  E por aí vai...

O que estaria ocorrendo com a nossa bela língua portuguesa? Muitos  acusam a internet como culpada de tudo, a  vilã  terrível, o que não é de todo verdade. Dizem alguns: “É para simplficar a comunicação”. Mas  não acreditamos. Ninguém tem o direito de criar as suas expressões próprias. Em todos os idiomas, cada palavra é escrita de apenas um conjunto de letras, a regra não muda. Enquanto uns nem lixam para isso, uma minoria se esforça para falar e escrever corretamente. Muitos sofrem ao ler balbúrdias por aí, agressivamente.

O pior é que muitas  manifestações, em percentual elevado, de comunicação, só ocorrem pele internet.A terrível tentativa de abreviar palavras; o costume de tentar criar o próprio vocabulário (exemplos: “vc, vdd, falow “etc) . Essas coisas extravasam até para muros e outdoors. Veja que calamidade  a frase que copiamos de um boteco por aí: “Nau mi dé concelhu, cei herar sosinhu”.

Outro dia assisti  a  uma palestra de autoridade militar, que ensinava as pessoas uma forma de detectar fake news em mensagens de qualquer espécie. O primeiro alerta que o PM fez foi o seguinte: “Se o texto contiver erros de português, podem desconfiar de sua  falsidade”. E  outros sinais de fake  podem  ser  erros de filosofia, termos contraditórios, interesses econômicos, políticos e outros caminhos mais.

Com base nas razões acima descritas, estamos anunciando a criação de um Curso Intensivos da Língua Portuguesa, cujo objetivo será o atendimento a setores públicos, comerciais, industriais e a cidadãos para tentar minimizar a grande demanda que existe por aí. A iniciativa tem como finalidade, também, participar de projetos que visam tornar imortal o nosso idioma. Ele não pode morrer.

Contamos com o apoio de brasileiros de verdade, zelosos com a língua que é nossa.

 José Sana

 Em 06/12/2021

Um comentário:

  1. Sana, já escrevi a respeito também, mas desisti dessa guerra. É como se o mundo tivesse sido reconfigurado e regras que nos eram caras foram relegadas ao segundo plano. Valoriza-se a expressão em detrimento da forma. Eu que sou muito ligado à música, as vezes me irrito com os erros de português em diversas músicas. E em alguns casos é intencional, um espécie de charme da ignorância. Com a internet então essa exigência de se escrever direito caiu totalmente por terra. As pessoas escrevem errado sem nenhuma vergonha, afinal, todos escreve mesmo. Mas o que mais me preocupa mesmo é a quase morte da profundidade. Além de escrever errado, as pessoas escrevem cada vez menos. Textos maiores, mais profundos, nem pensar. Não sei se é uma deliberada opção pela burrice ou alienação...ou se é expressão da vontade popular. Talvez o povo prefira mesmo ser burro e alienado. Continuemos então a sermos antiquados, ultrapassados, datados. Pode ser um elogio.

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