OBSERVAÇÃO INICIAL: caso você não acredite em mim, peço-lhe, encarecidamente, que não
leia esta página.
“Ser
surdo é desdobrar fibra por fibra o coração”. Essa não é uma referência às
mães? Sim. Mas um surdo precisa virar-se
muito para não ser mais um que padece, não no paraíso como as genitoras,
mas no verdadeiro inferno. Sendo metade surdo e metade dessurdo, o sujeito anda de
rodas também.
Usa aparelhos? Sim. Por mais evoluídas que sejam as novas tecnologias, o portador de próteses auditivas sente-se incomodado. No início, enfrenta algumas tonteiras simples. Depois torna-se um captador de sons em situação mais avançada que os auditivos normais. Um grande problema, como já foi dito, é não saber de onde vem o som que lhe emitem. O mais sério: ser automaticamente ignorado, marginalizado e até mesmo humilhado sem que a ação seja declarada. O surdo é, então, vítima do cínico.
Quanto
ao usuário de prótese, esse carrega mais um drama: os sons são aumentados. Ele
só não bate um escutador 100% porque tem alguma dificuldade relativa em
discernir as palavras. Cada conversador tem um estilo, um jeito de falar, uma
forma de expressão. Há quem pronuncie a linguagem correta, certa, com palavras
bem ditas. Mas há, principalmente há muito, os que engolem termos de nossa ou
de outras línguas. Engolem, saltam palavras, comem sílabas, enrolam a língua,
não pausam a pronúncia. Vida dura, né?
Para
viver bem, um semissurdo precisa ser um assumido. Não adianta esconder a
deficiência. Alguns dizem que precisam prestar mais atenção nos seus
interlocutores. Outros acham que, de qualquer maneira, vai bem. Bem, nada!
Mas
um detalhe todos precisam entender: o deficiente auditivo precisa saber lidar
com o grande desafio de usar a sua inteligência para vencer na vida. Precisa impor-se de outras formas para que seja ouvido. Necessita, também, não se abater
com tantas e tantas situações humilhantes. Há pessoas que só conversam
com o deficiente auditivo quando estão a sós com ele. É urgente que entendam esse procedimento. O ser humano é um
complicado, maluco e cheio de suas razões... todos são, os surdos e os normais.
Em
breve estarei mostrando em um livro especial como vivi mais de setenta anos sem
ouvir (30 anos), ouvindo pela metade (40) e sendo estudante sem uma reprovação,
supervisor e assessor de imprensa numa grande empresa, vereador e presidente da
Câmara em duas legislaturas (dez anos), editor de uma revista (20 anos),
professor de História e Letras com duas pós graduações (rápida mas valiosa
experiência) e jornalista (Diário de Minas, Estado de Minas e colaboração em
vários periódicos da região, além de editor de uma revista, como já foi dito).
Não
irei narrar vantagens, porque estou na fase de biografia, simples, mas estou,
embora em plena atividade. Quero, sim, que os milhões de seres humanos que
sofrem pelo mesmo problema entendam como enfrentar este mundo em que o bullying,
que é a prática de atos violentos, intencionais e repetidos contra uma pessoa
indefesa, que pode causar danos físicos e psicológicos às vítimas,
transforma-se numa flecha ainda mais mortal, no peito, quando a vítima sofre de
perdas auditivas.
No
caso do surdo, ele carrega um fantasma que vive dentro dele, infernizando a
sua vida durante 24 horas por dia, tempo
em que só resta ao mouco abaixar a cabeça e sobreviver, caso tenha uma força
interior gigantesca, de super-homem, que vive lado a lado com Deus. Só Ele pode
ajudar.
José Sana
23/01/2020
Grande José sana!inteligente e gente boa. Um grande abraço. Parabéns pela matéria.
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