domingo, 9 de janeiro de 2022

RECADOS DA NATUREZA: CARNAVAL ZERO, SOLIDARIEDADE MIL

 A Natureza fala, respira, mastiga, engole, aceita, perdoa, castiga, impõe sacrifícios e deixa recados irrefutáveis. Sei dessas funções naturais porque aprendi a ser, junto dela, uma migalha de seu contexto ou parte de suas forças e fraquezas.



O ano de 2021 não foi péssimo para Itabira e região, mas também não teve acontecimentos destacáveis. Nossa cidade, que é a mola-mestra regional, que deve  emitir sinais de bons exemplos, sofreu e sofre muito por conta da disparidade de suas classes. Parece que a turma chamada média, que era  a maioria, está perdendo nesse  quesito para a pobreza. Esta, a temível indigência,  somava o total de 15 mil seres humanos na faixa mais baixa, beirando a miséria, em dados apurados pela Prefeitura.


Para complicar um pouco mais, assim como no ano passado, janeiro vem sendo aquático. O povo, que chorava copiosamente por causa da seca, agora ajoelha e pede a São Pedro simbólica e fervorosamente, que feche as torneiras celestiais. Resumo: não sabe o que quer. Aqui perto de nós e até carregando o nome Itabira para nos honrar, Santa Maria recebe mais uma vez desreguladas camadas de água das nuvens. Canais se entopem e provocam transbordamento assustador, pontes bambeiam e sobe o número de desabrigados.


Causas? Visíveis e palpáveis. Perceptíveis a olho nu. O primeiro vilão é o lixo, que não tem a devida destinação, até porque a sua tonelagem produtiva ultrapassa números incalculáveis: mais de dois quilos por habitante por dia, segundo alguns especialistas. O segundo vilão é a ocupação demográfica sem sequer acompanhamento. Constroem-se descriteriosamente às margens de leitos de rios, córregos, regatos. Em terceiro ponto, Itabira ainda tem agravantes gigantescas: as barragens de rejeito de minério de ferro, as quais constituem ameaças vivas e inimagináveis de perigo. Para consolo nosso, a Vale está cuidando dessas barragens, dizem que as “descomissionando”, ou seja, secando-as.


Mas, por trás das ações da empresa multinacional, que movimentam a cidade e fazem a riqueza circular, poucos veem que o aviso da mineradora possa ser de despedida, considerando que se encontra em processo irrequieto “o fechamento de mina”. Nesse caso, temos atenuante: a presença do  secretário de Meio Ambiente da Prefeitura itabirana, Denes Martins da Costa Lott, PHD no tema e que fez alertas em trabalho acadêmico transcrito em livro (O fechamento de mina e a utilização da contribuição financeira por exploração mineral, Belo Horizonte: Del Rey, 2014, 96 p).


Por trás de tudo, um risco iminente: quando uma lâmpada se torna brilhante talvez seja sinal de que esteja se queimando. Então, Itabira seria uma luz reluzente à beira de tornar-se turva, escura, breu, o fim? Fica a esperança de prontidão para que não deixe fatos negativos se sucederem e acordem dirigentes, políticos, sociedade civil organizada e o povo. A sonolência é quase geral, desculpem-me pela análise independente mas mutável quando há contestações seguras.


Como estampa da reação itabirana, tomemos como exemplo os sinais da Natureza, que são mais claros que todas as lâmpadas do mundo: tivemos carnaval em 2020, quando o mundo já ensaiava sinais de uma terrível pandemia, atitude impensada; vivemos dois anos em pavor, enfrentando o mal invisível e desconhecido e, acima de tudo, destruidor. Os hospitais voltam agora a receber seres humanos choramingando de novo a tal Covid-19 que, mesmo mais branda, ainda é uma incógnita e exige cuidados.  


A Prefeitura apontava um ano atrás para um número elevado de famintos e houve, sim, alguma reação positiva. Mas a buracada está aí e faltam água, quando tem é imunda, além da precariedade geral, a sobra lamentável. Contraponto: o dinheiro ainda transborda da Prefeitura como essa água de chuva. Chegamos ao recorde orçamentário de 1 bilhão,.


A reação ainda é tímida. A Natureza pede que sejamos mais sensatos. Descansar, meditar, refletir durante  os chamados “dias de momo’ e aproveitar para colocar em ação a prática divina da solidariedade, de ações paralelas, ao invés do rebola-rebola e do “desbunde”  em  praças ou salões. Isto mesmo: carnaval zero, solidariedade mil.


José Sana

09/01/2022

Nenhum comentário:

Postar um comentário