Vitória
incontestável ocorrida por vários motivos, mas que traz uma responsabilidade
sem limites para o vencedor
Uma assertiva popular
dizia: “Em mineração, barriga de mulher e boca de urna ninguém sabe o que vai
sair”. Mas isso era pensamento incontestável de meu tempo de criança. E já não
estou nesta faixa etária, sequer o mundo. A verdade de ontem virou mentira hoje.
De mineração temos as prospecções
geológicas que determinam as riquezas ou a exaustão das minas; de barriga de
mulher sabe-se antecipadamente pelo ultrassom e de boca de urna temos
seguramente pesquisas bem elaboradas. Tudo resolvido e fica a pergunta do por
que Marco Antônio Lage se reelegeu prefeito de Itabira? E de “balaiada”.
Não sou dono da verdade,
ainda mais num tempo desse em que o povo mais se dispersa em pensamentos. A
ideia coletiva configura-se mais complicada, então voltamos à estaca zero.
Contudo, tenho a minha opinião baseada no que sabemos dos tempos da chegada do
candidato quase totalmente desconhecido da população itabirana.
Para dar resposta a uma
pergunta, fica um outro questionamento: por que Marco Lage se elegeu em 2020?
Resposta que me parece a mais segura: encontrou uma oposição muito capenga,
pouco decidida, mal elaborada, desorganizada.
Ao vencer, ele e sua
orientadora inarredável decisiva me disseram: “Nunca mais perderemos eleições em
Itabira”. A princípio não levei a sério. Mas mudei um pouco de opinião em março
de 2022. Naquele dia, Marco chegou improvisadamente ao palco de uma Conferência
de Saúde. Lá borbulhava um zum-zum-zum, dando conta de que ele estaria fora do
próximo pleito eleitoral.
Cutucaram a onça com vara
curta. No mesmo encontro, que era técnico, ele o politizou, lançando-se
“definitivamente” candidato em 2024. Com claras orientações de marqueteiros de
alto conhecimento, traçaram esses um caminho simples de ser percorrido. Com
bilhões de reais nas mãos, restou a ideia de promover festas e festas e festas.
Por trás, com os cofres transbordados de
bilhões de reais, planejou um governo de pracinhas e reformas. Cometeu uma
loucura imprevisível que muitos chamaram de anúncio de suicídio: “Não vou
investir um centavo na Unifei, isso é
obra do governo federal”.
Já no início de sua
governança, Marco Lage e Câmara Municipal tornaram-se inimigos cruéis. Diz
alguém por aí que ele agora em 2024 está tranquilo porque fez maioria na Câmara de Vereadores. Não é
verdade, sempre teve essa maioria até quando uma voz doida de pedra retumbou do palácio neste tom: “Vereador é chute no saco”. A expressão foi impensada,
um verdadeiro canhão desferido na Casa do Povo, um poder que merece respeito. A
partir daí estava iniciado um debate épico, que na época chamaram de “terceira
guerra mundial do Paraguai”.
Ele dobrou seu estilo, ultrapassando as linhas do
populismo. Não se importou de rebolar ridicularmente em palcos, contratou mais
e mais forasteiros e procurou crianças para abraçar e beijar. E assim, de março
de 2022 até agora andou fazendo o que ninguém fez — nem o populista da idade
média, Daniel Jardim de Grisolia — faltou subir em caminhões e sair pelas ruas
hasteando bandeiras.
Foi ainda mais ousado:
desviou-se de assuntos que mais deviam preocupar o itabirano — a falta de água
e a prática efetiva de ações visando o futuro. Há anos a cidade procura a sua
vocação econômica com Paulo Roberto
Haddad (Li Guerra), Sauer Consultoria (Jackson Tavares), João Izael (Unifei) e
grupos chineses (Ronaldo Magalhães). Abandonou, como já disse, o foco da
Unifei, do Parque Tecnológico, do Porto Seco, do Aeroporto Industrial e até do
Presídio. Espero que retorne, peço aos itabiranos que rezem por isso, se fé
houver. Estou duvidando.
A pergunta continua no ar: por que Marco Antônio Lage venceu, não, deu “balaiada”, como diz a voz popular? Vamos somando os motivos. Parece, para reforçar o populismo, o foco, o desejo, as palavras nunca mais perderão o sentido enquanto viver.
A cidade cheia de
pracinhas, as torneiras sem água, o povo reclamando, chorando, a saúde
debilitada, tudo complicado, ele foi treinado para dar as suas desculpas. Aparece
agora com R$ 1 bilhão da Vale, não é vantagem, a Vale ainda deve o Rio Tanque e
a Central de Resíduos (lixo). Tanta responsabilidade, sem contar que a Itaurb
está com o pé na cova. Até a explicação da falta de água teve uma tendência
quase justa: seca, seca, seca. A culpa da seca foi da natureza, ou de São
Pedro. Definitivamente é sabido que seca é fato normal.
Mas venceu. Era o que
queria. Minaram as fontes resistentes. Ferrenhos inimigos antigos descerraram
suas bandeiras e ergueram o estandarte branco do sossego, calaram-se as vozes
ou tornaram-se roucas de cansaço. Ainda houve uma teimosia em dividir as tropas
para o front que não ocorreu. Discursos desentoados, o principal —futuro
de Itabira — pouco ocupou a agenda.
Marco Lage agora aparece
também como um fenômeno, diz-me um amigo. Ele não teme ir à frente. Creio o
entusiasmo leva ao sucesso e foi o que disse e seu braço direito — “não
perderemos eleições em Itabira”. Acredite quem quiser, as arquibancadas já
falam na eleita vereadora Dulce Citi para sucessão. Assim se dá o nascimento de
lideranças.
Fim de papo. Rabisquei
demais. Esqueci-me de abordar a máquina administrativa que impulsiona o candidato. Só espero que nesta terra que adotei há 57 anos, em que nasceram meus
filhos e netos, não ocorra o fato previsto pela própria Vale em 1942 que me faz
tremer dos pés à cabeça, o temível “bolsão de pobreza”.
7/10/2024 (data real de
emancipação de Itabira)
Foto: Arquivo
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