São Sebastião do Rio Preto sempre foi um povoado pacato, uma vila pacata, uma cidade pacata. Sem luz elétrica (ou uns tomates nas chamadas ruas de baixo.
No entanto, conseguiu captar de outras comunas brasileiras lições avessas de tranquilidade e aí ocorreram alguns instantes graves até e outras picuinhas de violência incondizente com a sua predestinação.
Vejam, por exemplo, um trecho da valsa
“Saudade de São Sebastião”, gravada na autoria da letra e da voz do grande
artista Mozart Bicalho:
“Fazem
sua gente piedosa
que vive
a mourejar
numa
oração ardorosa
uma vida
santa a levar”
O trecho é musicado pelo maestro de Morro do Pilar, José Afonso de Vasconcelos e a letra do famosíssimo Mozart Bicalho, nascido em Bom Jesus do Amparo.
Havia sempre respingos de meia violência como tiroteio de cavaleiros nos sábados de casamento na roça e lambadas de chicotes em animais com a poeira levantada.
Na loja de meu pai, sim, de meia dúzia de
portas, cavaleiros entravam e saíam chicoteando seus burros e mulas, aos
gritos, para comemorar o fim de festa. E eu tremia dos pés à cabeça.
Mas o que hoje quero
contar é que ninguém tinha relógio, quem marcava o tempo era o Sol e quem dava
sinal de romantismo à noite nada menos que a Lua.
À noite, não me
esqueço de quem contava a lorota era José Vieira Reis, o famoso Teia, que
completava o sinal que vinha, praticamente em todas as noites. Sabem como era?
Imaginem só a graça daqueles instantes.
“Vinha lá o Elpídio
gritando da rua São Vicente, descendo pela Vila abaixo, arrastando poeira e nem
ligando para o frio ou calor, ou lua clara ou chuva:
‘Nove hora ... Nove
hora .... Nove hora... Ocride fechou o bar... Ocride fechou o bar... Ocride
fechou o bar...”
E repetia noite adentro até o povo saber as horas e ir dormir. Nove horas da noite era madrugada para nosso povo.
PS: Ocride era
Euclides Arruda. Bar ainda não existia naquele tempo. Era venda. antecessor de boteco.
Zé do Burro
12/09/2025
Imagens N.S.
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