sábado, 28 de dezembro de 2013

Quem mata mais: as enchentes ou a BR-381?



Para começar  este  papo que promete  ser curto porque é desagradável para muita gente, estou mudando o nome da tal Rodovia da Morte. É injusto, de acordo com o panorama geral, que ela tenha nome no singular. Afinal ocorrem mortes todos os dias, então está explicado e convém chamá-la sempre de Rodovia das Mortes.

Agora, vamos às chuvas. Os jornais impressos, falados e televisados deste final de ano estão mostrando imagens repetidas de desolação por causa das chuvas. Muitos pensam que tem o dedo de Deus nisso tudo. Discordo. O tempo, o período, a época é de chuva. O que está errado é o desrespeito às normas naturais: estradas malfeitas, construções sem infraestrutura, barrancos mal escorados, enfim, um número infinito de prática da engenharia atropelada pela falta de bom-senso.

As chuvas permitiram inspeções de autoridades que desejavam ver  a situação de perto. Trata-se de uma demagogia institucionalizada. Em um helicóptero, sobrevoaram Fernando Pimentel (ministro não sei e nem quero saber de quê, mas pré-candidato ao governo de Minas), Antônio Anastasia (governador de Minas Gerais), Dilma Rousseff (presidente da República e candidata à reeleição) e a prefeita de Governador Valadares (não decorei o seu nome). O quarteto do impressionismo viu com os olhos de ver, ouviu com os ouvidos de ouvir e sentiram com a emoção de sentir a gravidade dos acontecimentos.

O resultado da visitação aérea de áreas atingidas foi a rápida manifestação presidencial que já tinha frase pronta antes de chover: “Todo município atingido tem o direito de requerer verba que será liberada em 24 horas”. Depois, as regras para liberação, etc. e tal. Fica registrado o seguinte: valores ilimitados, verbas fáceis de serem abocanhadas nos cofres da União. Tudo certo no país do tem dinheiro sempre.

A BR-381 é, hoje, a maior vítima de protocolos, emperramentos, burocracias, enrolos, falta de vontade política, escândalos, tudo o que se queira pensar em tom negativo. Há anos anunciam a sua duplicação no trecho Belo Horizonte a Governador Valadares. A Rodovia das Mortes mata mais que enchentes, tempestades, tsunamis, terremotos, terrorismo, homens-bomba e toda as desgraças que assolam o planeta. Basta o helicóptero presidencial sobrevoar em qualquer dia escolhido, de janeiro a dezembro, com a mesma tripulação, que  verá as calamidades ocorrendo.

Mas a BR-381 não tem nenhum cartão corporativo para fazer obras necessárias, para atropelar protocolos e má vontade política. Argumentam com as leis, com as normas ambientais, com uma série de motivos para empurrar as obras indispensáveis sempre para a frente  com a barriga. Por que a União, comandada por Dilma, não promove um estudo, que estabeleça  valores máximos, que divida os quilômetros em lotes, que monte uma comissão pública de fiscalização e que, enfim, determine: “Comecem e terminem já!?”

Poderiam  contra-argumentar que se abre uma porta para a corrupção. Mas a réplica está pronta: de qualquer maneira haverá corrupção, os ladrões de plantão estão sempre de boca aberta. Decretando uma super calamidade pública, talvez mude o panorama: uma empreiteira toma conta de pequeno trecho, vigiada o máximo possível.

O que é preciso agora é que provem que essa inspeção do quarteto medíocre não estava fazendo uma bruta demagogia. Morrer por morrer, o decreto que mata na Rodovia das Mortes é diário, sempre, infalível e inquestionável. 

Vergonha na  cara já!

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