Para começar este papo que promete ser curto porque é desagradável para muita
gente, estou mudando o nome da tal Rodovia da Morte. É injusto, de acordo com o
panorama geral, que ela tenha nome no singular. Afinal ocorrem mortes todos os
dias, então está explicado e convém chamá-la sempre de Rodovia das Mortes.
Agora, vamos às chuvas. Os jornais impressos, falados e
televisados deste final de ano estão mostrando imagens repetidas de desolação
por causa das chuvas. Muitos pensam que tem o dedo de Deus nisso tudo.
Discordo. O tempo, o período, a época é de chuva. O que está errado é o desrespeito
às normas naturais: estradas malfeitas, construções sem infraestrutura,
barrancos mal escorados, enfim, um número infinito de prática da engenharia
atropelada pela falta de bom-senso.
As chuvas permitiram inspeções de autoridades que desejavam ver a situação de perto. Trata-se de uma demagogia
institucionalizada. Em um helicóptero, sobrevoaram Fernando Pimentel (ministro
não sei e nem quero saber de quê, mas pré-candidato ao governo de Minas),
Antônio Anastasia (governador de Minas Gerais), Dilma Rousseff (presidente da
República e candidata à reeleição) e a prefeita de Governador Valadares (não
decorei o seu nome). O quarteto do impressionismo viu com os olhos de ver,
ouviu com os ouvidos de ouvir e sentiram com a emoção de sentir a gravidade dos
acontecimentos.
O resultado da visitação aérea de áreas atingidas foi a rápida
manifestação presidencial que já tinha frase pronta antes de chover: “Todo
município atingido tem o direito de requerer verba que será liberada em 24
horas”. Depois, as regras para liberação, etc. e tal. Fica registrado o
seguinte: valores ilimitados, verbas fáceis de serem abocanhadas nos cofres da
União. Tudo certo no país do tem dinheiro sempre.
A BR-381 é, hoje, a maior vítima de protocolos, emperramentos,
burocracias, enrolos, falta de vontade política, escândalos, tudo o que se
queira pensar em tom negativo. Há anos anunciam a sua duplicação no trecho Belo
Horizonte a Governador Valadares. A Rodovia das Mortes mata mais que enchentes,
tempestades, tsunamis, terremotos, terrorismo, homens-bomba e toda as desgraças
que assolam o planeta. Basta o helicóptero presidencial sobrevoar em qualquer
dia escolhido, de janeiro a dezembro, com a mesma tripulação, que verá as calamidades ocorrendo.
Mas a BR-381 não tem nenhum cartão corporativo para fazer obras
necessárias, para atropelar protocolos e má vontade política. Argumentam com as
leis, com as normas ambientais, com uma série de motivos para empurrar as obras
indispensáveis sempre para a frente com
a barriga. Por que a União, comandada por Dilma, não promove um estudo, que
estabeleça valores máximos, que divida
os quilômetros em lotes, que monte uma comissão pública de fiscalização e que,
enfim, determine: “Comecem e terminem já!?”
Poderiam
contra-argumentar que se abre uma porta para a corrupção. Mas a réplica
está pronta: de qualquer maneira haverá corrupção, os ladrões de plantão estão
sempre de boca aberta. Decretando uma super calamidade pública, talvez mude o
panorama: uma empreiteira toma conta de pequeno trecho, vigiada o máximo
possível.
O que é preciso agora é que provem que
essa inspeção do quarteto medíocre não estava fazendo uma bruta demagogia. Morrer
por morrer, o decreto que mata na Rodovia das Mortes é diário, sempre,
infalível e inquestionável.
Vergonha na cara já!
Nenhum comentário:
Postar um comentário