Uai,
cadê a Sociedade Protetora dos Animais? Andei procurando sinais de ativistas,
mesmo relaxados, para denunciar os costumeiros absurdos, mas não os encontrei.
O que vi pelas ruas movimentadas de Itabira, agora quase sem cães, foi o tal Castra Móvel correndo atrás
das presas, o cão e o gato. O que faz a equipe castradora? Pega o animalzinho,
impiedosamente, sem pedir licença, e creu... Fiquei sabendo, todavia, que a tal
sociedade protetora (ou seria incomplacente?) é favorável à capação dos povoadores de nossas ruas,
praças, becos e avenidas. Não parece contraditório? Juntando-se a um monte de
entidades e praticamente todo mundo, chegando a vereadores, prefeitos,
deputados, não ouvi uma só voz em defesa da raça canina. Que injustiça!
Precisamos eleger representantes dos animais que os ajudem a viver!
Neste momento estou numa reunião comunitária de um bairro bem badalado de Itabira como velho
repórter, portanto, neutro, que entra mudo e sai calado. Um frequentador
assíduo do ambiente, a quem chamo de Senhor M, levanta a voz a plenos decibéis para anunciar o
seguinte: “Como não aparece alguém aqui para latir em defesa dos animais, eu me
apresento e passo a ser o advogado dos conhecidos erroneamente como irracionais,
e quero agora miar, ganir e rosnar enquanto tiver garganta”. O presidente da
associação esbraveja do fundo da sala, esmurra a mesa e grita com força: “Aguarde o momento de
tocarmos no assunto cães e gatos, por favor! O tema está na pauta de hoje,
infelizmente.” O infelizmente fere a autoestima dos cidadãos que se apresentam
como procuradores da gataria e das matilhas desvairadas a esta altura.
Chega, afinal, o instante mais aguardado pelos dois únicos cidadãos
legítimos que se posicionam em favor das vítimas. Aí o assunto passa a ser
Castra Móvel, o terror criado e patrocinado por políticos, de origem meio
desacreditada no momento: Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais.
Abro um parênteses para registrar um comentário que ouvi na sala
de espera de um hospital: “Que falta do que fazer!” Fecho o parênteses e retorno
à reunião comunitária.
“Que luxo! — ironiza o Senhor M, levantando-se de seu assento —
agora os parlamentares mineiros estão capando os quatro patas, se é que já não
começaram também a capar os duas patas, nós.” Constato que o Senhor M, que está
acompanhado pelo seu amigo, ou irmão, Senhor N, arrasta a cadeira, atropela
mesas e põe a boca no trombone: “Um absurdo está acontecendo nestes dias em nossa
cidade!” Engole uma saliva seca, raspa a garganta, só não cospe porque o tempo
das escarradeiras já se foi, e prossegue: “Estão perseguindo os nossos
animaizinhos indefesos, pegando-os à força, amarrando-os e fazendo a mais
violenta castração. Para completar, sem anestesia!”
À exceção dos senhores M e N, todos os presentes na reunião
parecem desaprovar o que acaba de ser dito. Corrigindo: tem uma senhora que até
alimenta matilhas na porta de sua casa. Diante da maioria absoluta contrária, o
Senhor M resolve aumentar o tom de voz e cuspir marimbondos por todas as
ventas: “Meus senhores e minhas senhoras! — agora já virou comício — pergunto a
vossas senhorias ou excelências: que prazer de viver tem um cão e um gato?” Ensaia,
em pose bem destacada, uma pausa, bebe água e dispara: “Respondam-me, por
favor: eles vão à praia, chupam picolé ou sorvete, frequentam cinemas, aparecem
em festas, botecos, casamentos, batizados, ou bebem cerveja ou uísque ou
cachaça? Entram em estabelecimentos bancários para sacar dinheiro? A nada disso
têm direito, são simplesmente pobres-coitados, excluídos, sofredores, humildes
e humilhados, exceto os adestrados, que gozam de mordomias, tratados como
reizinhos a pão e leite. Só há daqui para a frente um escasso prazer para os
maiores amigos do homem: estabelecerem-se de plantão na porta de algum generoso
açougue, muito raro por sinal, aguardando uma incerta muxiba. Perambular atrás
das fêmeas de cio é coisa do passado. A castração retira esse item principal da
vida deles.” Em tempo: as fêmeas sofrem o processo de esterilização. Aí, viu?
Piora para os machos.
Cala-se o auditório. Uma nuvem cinza percorre os olhares das
pessoas junto de uma ducha imaginária de água gelada. Nem uns dois ou três
cachorros, que normalmente apareciam para abocanhar sobras de pão de queijo na
hora do lanche, estão presentes para agradecer ou bater palmas. Os gatos também
sumiram. Os contentes, neste caso, são
os ratos, que vão aumentar ainda mais sua população, principalmente nos sótãos
de velhos casarões tombados ou não tombados pelo patrimônio histórico. Dizia
meu avô que gato capado não liga nem para ratazanas prenhes.
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