Tenho o costume de rever
páginas que escrevi pela vida afora, apesar de detestar esse passado de
rabiscos. Detesto tudo o que foi publicado. Por isso, quando aparece alguém me
elogiando, boto um pé na frente e outro atrás, feliz mas desconfiado. Percebo
que tudo está desatualizado. O tempo
corre mais depressa que meus toques no teclado do computador. Juro sem receio:
o passado recente me parece distante, talvez uma idade média, ou antes disso, uma pré-história. Repito: o que era meu
pensamento recente, exceto quando enalteci a vida de alguém merecedor, parece-me
mais antigo que a invenção de Gutenberg, a imprensa. Daqui a pouco estarei
odiando esta página. Fazer o quê, se
produzir textos é o que aprendi na vida mais ou menos? E amo rabiscar coisas e
coisas desde criança.
Ao chegar um novo ano, então, é que o bicho pega. Tudo a mesma
coisa: 1999 para 2000, 2004 para os anos seguintes e do ano passado para este
ano: “Meus sinceros votos de felicidades” — eis uma frase repetidíssima nas
produções surradas. Chega agora 2018 e, daqui a pouco, vem março, passadas as
festas iniciais e comuns da temporada de verão-outono — virada do ano, Carnaval,
Semana Santa — o que era da moda cai em desuso.
Em abril estará quase na hora de as lojas começarem a mostrar o mesmo
papai noel, barrigudo e baranga, vestido
de vermelho, que ornamenta o comércio até o fim de dezembro. Está na hora do
quase mito Roberto Carlos.
Como escrever um texto sobre o ano novo? Lembro-me de um amigo que
labutou comigo no velho, inesquecível e extinto Diário de Minas, quando acabava
de completar 18 anos. Éramos repórteres. O redator-chefe do jornal da Praça
Raul Soares, em Belo Horizonte, pediu-lhe
que escrevesse uma matéria sobre
Jesus Cristo. Estávamos quase na Semana Santa. Em uma réplica, fulminou o
editor com a pergunta: “Contra ou a favor?” Fiquei chocado e paralítico naquele
momento. Como? Será que alguém ousa avaliar o Rei dos Reis, além dos malvados
que o condenaram à cruz?
Meu Deus! — voltei a exclamar. Num dado momento de folga, numa
lanchonete próxima ao jornal, resolvi fazer-lhe a pergunta sequente e normal:
“Você vai escrever contra quem morreu na cruz para nos salvar?” Ele respondeu:
“Ia escrever a favor, mas o chefe me pediu neutralidade.” Entendi. Jornalismo é
isso aí, sem lado e sem paixões, imparcialidade acima de tudo. Só que ainda
continuei perplexo e levei para o travesseiro a seguinte reflexão: num mundo
todo destemperado, repleto de ideias diferentes e complicadas, será que alguém
consegue ser imparcial?
Neste 2018 entrante, a humanidade se depara com uma pilha de
problemas aparentemente insolúveis: terrorismo, desigualdade social, fanatismo,
preconceitos, violência, criminalidade, corrupção, uso de drogas, alcoolismo, desentendimentos
familiares, ganância, egoísmo, falsidade, hipocrisia. No meio de tantas
questões, elaborei uma nova reflexão: haverá quem seja dono de uma receita para
que a vida se torne realmente bela como eu próprio ando propagando em
palestras? A conclusão deixo para o
leitor, livremente. Na verdade, a vida dá respostas diferentes para
inteligentes ou tapados. Todos pensam à sua maneira e cada um carrega a cruz própria. O importante
é que existam satisfeitos com arguições e respostas particulares, e vivam em
paz.
No início do ano, este escriba, igual aos demais mortais, também
troca de idade. Sim, a expressão é esta: permutar o número que valeu por um ano
e seguir com outro imediatamente acima, ostentando a idade como se fosse um
cartaz imaginário pregado na testa. A pergunta muito frequente que as pessoas
fazem é a seguinte: “Quantos anos você tem?” A resposta, cuja metade dela
aprendi com Mário Quintana, tornou-se agora uma tréplica:: “Não tenho anos, os
anos me tiveram. O que possuo é o tempo que vem
a seguir” ... e que me concede mais uma oportunidade para cumprir a minha
missão neste planeta.
Então, assim será 2018 para todos nós: uma oportunidade por dia, hora,
minuto, ou segundo, pelo tempo correspondente que devemos agradecer a Deus
diariamente. Que na concessão de permanência neste globo terrestre façamos não
apenas o que queremos e desejamos, mas o que está traçado no nosso contrato
formulado com o Dono do Mundo.
Existe, sim, um Grande Projeto para que todos os seres humanos, indefinida
e indiscriminadamente, executem. Eis aí o caminho da vitória numa vida em que
muitos supõem seja sem sentido e que dela sairemos derrotados: ter o que fazer
de sublime. Descubram logo o segredo porque
é a chave da realização humana. Não tenho dúvidas. O alerta é para sempre. Sem
tempo de errar, sequer de duvidar.
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