segunda-feira, 22 de março de 2021

MASCAR E CHUPAR CHICLETES: VOCÊ FAZ ESTA SIMPLICIDADE SIMULTANEAMENTE?

Estamos num dia qualquer do ano de 1990. Preciso de uma entrevista com o então governador de Minas Gerais, Newton Cardoso. Muito criticado por adversários, até sistematicamente, como ocorre hoje, quase sempre, em atitudes de uma disputa meios de comunicação x governos. Tenho nas mãos uma pauta interessante para a região: asfaltamento da MGC-120 (Barra Dantas) a Morro do Pilar, via  Passabém, São Sebastião do Rio Preto e Santo Antônio do Rio Abaixo.

Estou no Palácio dos Despachos acompanhado por um amigo pessoal do chefe do executivo mineiro. Por isso fui puxado pelo braço e levado à sua antessala, repleta de “representantes políticos”, principalmente do interior. Mesmo assim, meu atendimento foi demorado por causa da alta concorrência à procura do homem palaciano.

Mas valeu a pena a aventura. Fiquei observando como funcionava o expediente da governadoria. Tumulto total. Serviço de água gelada e cafezinho, instante a instante. Correrias intensas de secretárias, atropelando mesas e cadeiras, e de ajudantes de ordens em flagrantes desordens. Fui sendo levado, aos poucos, e me situando sempre mais próximo do “homão”, para quem inventaram centenas de anedotas. Devem ter rendido dezenas de livros. Mas constatei que as fofocas eram irreais. Veja só o que passei a testemunhar quando cheguei à altura de uma sala em que via o governador em pleno trabalho do dia a dia.

Quatro aparelhos de telefone em duas mesas pequenas ao seu lado e dois no birô próprio. Uns quatro cidadãos sendo ouvidos diretamente pelo Newtão. Seis secretárias em volta atendendo chamadas sem parar e passando o aparelho ao mandachuva. Fios embolavam-se. Ele falando e ouvindo em duas ligações ao mesmo tempo (porque só tem dois ouvidos) e conversando em um ping-pong interminável de perguntas e respostas sem o aparelho ou com o aparelho. Não se sabia com quem ele falava.


E eu? Cadê eu? Ao chegar ao “home”, deu-me
  respostas imediatas aos questionamentos e ainda sorriu várias vezes ao fazer piadas com um morro intransponível do trajeto Passabém-São Sebastião, chamado “Alto do Veado”. Disse assim: “O pessoal vai virar Veado para asfaltar lá”. No entanto, foi o seu sucessor, Aécio Neves, hoje esculhambado por notícias ruins, quem asfaltou o Veado e, inclusive, antes, o Morro do Caracol, também velha barreira.

Do encontro no palácio saí carregando outra impressão de Newton Cardoso: um executivo  moderno, governador ágil, atuante, objetivo ao estilo de resolver mesmo ou encaminhar soluções concretas. Não entro em questões de acusações contra ele por isso ou por aquilo. Apenas analiso o lado de capacidade e organização do que se havia tumultos no ambiente, ele, o personagem focalizado, saía-se bem. Eram lições de domínio do seu dia a dia. Disse um assessor: “Newton não deixa uma mínima questão para amanhã. E quando diz não, não tem arrego”.

Na saída, comento com o meu guia, que diz: “Ainda fazem caçoadas com ele, parece que é uma estratégia de marketing”. Depois, em seguida, completa: “Existem cidadãos por aí, transvestidos de competentes, que não conseguem praticar ao mesmo tempo uma atividade simultânea como mascar e chupar chicletes de uma só vez”.

Saltamos para 2021: pego este exemplo de Newton Cardoso para desafiar o novo empreendedor chamado de eficiente, sintonizado com a tecnologia e avançado no tempo, nas escolas ou na vida profissional. Apenas uma pergunta: você faria, adaptado à atualidade, o que um governador chamado de baranga fazia? Repito: nada de referência a condutas e  acusações que lhes impunham. Sou de opinião que todo ser humano tem defeitos, mas todos, também, guardam virtudes. As virtudes da objetividade e rapidez são intocáveis em quem as ostenta.

Faz falta ao empreendedor ser decidido, prático, rápido, e com capacidade para se ligar a dezenas de questões simultaneamente. Porque o mundo corre a jato e, lamentavelmente, muitos andam a cavalo, ruim de cela, sem arreios, em cima de baixeiros, e com freios e barbicachos puxados. E nem mascam nem chupam chicletes. Uma ação de cada vez em pleno terceiro milênio.

José Sana

Em 22/03/2021

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