De vez em quando
gosto de eleger o meu personagem, seja do dia, da semana, do mês ou do ano. É
uma mania de relevar façanhas importantes no meio em que vivemos. Hoje,
domingo, 7 de agosto, sou arrastado pela lógica e patriotismo municipal a
escolher alguém para fazer uma saudação simples e que mostre um lado sempre
esquecido, o dos seres humanos que trabalham com raça e amor. Arrastado
principalmente pela lógica, tal o destacado empenho desse herói, ele pegou um
rabo de foguete inimaginável. E segue rompendo muralhas, transpondo obstáculos.
Pois é. Imagine
um pobre receber de presente um grande castelo, muito valioso, mas em ruínas.
Paredes trincadas, telhado vazando, instalações sanitárias entupidas, água não
entra, eletricidade provocando curtos-circuitos, portas e janelas empenadas,
pisos e tetos caindo aos pedaços, fechaduras estragadas, vazamentos nas paredes
já mofadas, jardins destroçados, torneiras pingando sem parar, chuveiros com
pouca água e ainda mais gelada, contas a
pagar de tudo, inclusive impostos, taxas. O coitadinho vai tomar posse de tudo
e não pode vender, tem de consertar, reformar e morar. Imaginem.
O “cara” desta
semana, na situação do falso dono de castelo, para uns é doido, para outros corajoso, para a
maioria entusiasta e, para ninguém, preguiçoso. Sabem o que fez? Aceitou restaurar
o castelo mesmo com as mãos abanando e ainda mais, com dezenas de outras
funções paralelas em execução.
Ele pega o
alcácer arruinado, todo podre – abandonado
pela mãe, ou madrasta — e topa mexer em toda a estrutura por dentro e
por fora. Arregaça as mangas, embora demonstre, ora sim, ora não, meio desanimado. Não perde totalmente a esperança. A ruína chama-se Valeriodoce Esporte Clube, é um clube quase
octogenário, um idoso desconhecido pela sua própria criadora. Tantas vezes
chamada a ajudar, a vilã tem um jeito de ser expresso na seguinte frase: “Nem
te ligo!”
O nome completo,
de cartório e pia batismal, do “cara” desta semana não é outro senão João Mário
de Brito, advogado, operário, juiz de paz, conselheiro de uma série de coisas e
mais dezenas de outras funções que, na verdade, não cabem nesta página.
Desacreditado no início, resolveu planejar as ações. Incrível correria:
burocracias da Federação Mineira de Futebol, dívidas que impediam e tentam
impedir o clube de caminhar, grandes obstáculos que outros não conseguiram
superar, sequer tentar, e uma disposição irrefreável, só comparável a um
trator.
O Valério faz o
primeiro jogo de seu triunfal retorno e ele se isola na arquibancada, como se
na solidão de um estádio desértico pudesse receber o consolo em caso de
derrota. Mas, quis Deus que caísse como uma bênção o primeiro prêmio para ir à
frente. Venceu. Sai da solidão e vai para outros problemas. A expressão do
rosto é a mesma, não deixa transparecer nem
o que ocorre num jogo de futebol: sai medo, camisa zero, e entra coragem,
uniforme número dez.
.
Se fosse eu uma
autoridade dentro da velha Companhia Vale do Rio Doce, que mudou de dono e até
de nome, chamaria João Mário de Brito, seu ex-funcionário, para lhe dar uma mão
forte a guiá-lo daqui para a frente e sempre. O nosso herói de hoje fez o que a
antiga CVRD nunca sequer tentou: colocar o time do Valeriodoce em campo e empenhar-se para que seja o intocável Dragão autossustentável.
Nossa saudação
humilde, mas sei que de muitos itabiranos também, ao “cara” desta semana, João
Mário de Brito.
José Sana
07/08/2022
Há sempre uma esperança em gestos superiores que sabem da importância do fortalecimento de um time que construiu histórias e que merece este renascimento. Valeriodoce é marca de identidade e patrimônio a ser preservado.
ResponderExcluirPrezado amigo José de Almeida Sana. Somos um time forte, também fora das quatro linhas. Uma engrenagem perfeita. Uma corrente de elos valerianos. Muita gratidão pelo seu texto. Sempre Valério . Abraço
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