ANO BOM — O 2012 foi bom de modo geral. Bom para a economia, bom para o lado social. A meu ver, tirando de letra todas as outras negatividades, inclusive perdas de personagens importantes, um fato vai para a história e deve ser incluído nela, infelizmente.
CAMPO DE FUTEBOL — São Sebastião do Rio Preto, minha terra natal, tinha um campo de futebol, denominado oficialmente, Estádio Dr. João Rodrigues de Moura. Mais que centenário, espaço doado pelo meu avô, Godofredo Cândido de Almeida, nele cresci e chutei alguma bola. Joguei no time principal do distrito, depois cidade, dos 16 aos 25 anos. Antes, na infância, acompanhei os dribles de Zé Vitorino, Líbio, Iraci, Odilon e outros. E as pegadas do Zé Vaqueiro, goleiro que abafava quando queria.
SAÚDE E LAZER — As drogas demoraram a chegar a São Sebastião do Rio Preto. Antes só mesmo a cachaça, que forneceu o apelido de Gambá ao povo da terra. Dizem que havia 23 fábricas de aguardente de cana na zona rural e ninguém conseguia exportar, tudo era consumido nos próprios limites geográficos do lugar. A mocidade, além de utilizar uma quadra poliesportiva, também destruída, e receber a construção de outra, malfeita e descentralizada, tinha como preferência o futebol de campo.Caía o consumo de bebidas no decorrer do tempo graças à dedicação dos jovens ao futebol.
EQUIPES FORTES — Inicialmente foi o Iris Futebol Clube, que tinha três cores, inspiradas no Fluminense do Rio, cuja equipe de futebol contava com a maioria de torcedores. Mais tarde, o Flamengo assumiu a maioria de atletas, fazendo com que fosse mudado o uniforme do clube para rubro-negro. Fora essa mudança, havia sempre um time forte, respeitado, que se manteve durante quase uma década invicto no Estádio Dr. João Rodrigues de Moura.
FOLGAMBA — Além da equipe local, que passou a se chamar São Sebastião Futebol Clube, havia uma outra organização, composta de filhos da cidade residentes principalmente em Belo Horizonte. Em várias vezes por ano, principalmente nas festas religiosas, o Folgamba, nome da instituição, fazia apresentações no campo de futebol de sua cidade de origem. Era a mocidade que se entusiasmava com o esporte sempre mais, até que...
ASFALTAMENTO — ... uma primeira empresa empreitou com o Departamento de Estradas de Rodagem (DER) a pavimentação do trecho de Passabem a Santo Antônio do Rio Abaixo, passando por São Sebastião do Rio Preto. A empresa praticamente saqueou a cidadezinha, deixando dívidas calculadas em um milhão de reais, cujos maiores prejudicados foram cidadãos são-sebastianenses. Veio a segunda empresa e deu conta do recado, estendendo a rodovia até Santo Antônio do Rio Abaixo.
DESTRUIÇÃO E PROMESSA — Chegou a hora de demolir o campo porque o DER não quis indenizar nenhum dono de terreno e preferiu passar a rodovia quase dentro do estádio, inutilizando-o. Na hora de arrancar as traves e demolir os vestiários houve uma reunião na cidade, que teve o comparecimento de um representante do DER. Esse assinou uma ata, assumindo o compromisso de executar obras de reconstrução do campo de futebol. Esse acontecimento se deu em junho de 2007, quando já fazia um ano que o estádio estava completamente destruído.
PROTESTOS E MAIS PROTESTOS — Sempre ocorria um grito de pedido de socorro, levantado ou por jovens da cidade, ou por dirigentes do clube, ou mesmo por cidadãos que nunca sequer tinham percebido que a proibição da prática do esporte afetaria, como afetou, o povo no contexto social. A marginalidade aumentou, o consumo de drogas idem, ocorreram registros que podem ser conferidos por boletins de ocorrência da Polícia Militar. Enfim, a cidade ficou bloqueada da prática saudável do esporte. Entre os protestos ocorreu um em 20 de março de 2012, que teve interdição da rodovia, queima de pneus, gritos, discursos e, finalmente, intervenção da Polícia Militar.
MAIS COMPROMISSOS — Dirigentes do São Sebastião Futebol Clube e autoridades públicas foram chamados à Delegacia de Polícia, onde foi firmado um acordo, em reunião que contou com a presença de engenheiros do DER. O documento, em forma de ofício, foi enviado, segundo a PM, ao Ministério Público em Conceição do Mato Dentro. O ano de 2012 está acabando e nada de providências foram tomadas.
PROJETOS — Segundo o presidente do SSFC, Gilmar Caldeira Duarte, já existe projeto pronto para reconstrução do estádio, encomendado pela Prefeitura local, atendendo a pedido do próprio DER. Houve, durante o ano, negociações com a Anglo American, empresa que constroi o mineroduto Minas-Rio, que transpõe terras do município. A Anglo teria se encarregado de custear a obra prometida pelo DER. Mas em seguida, infelizmente, surgiu a desculpa do ano eleitoral que teria bloqueado as providências. A prova de que não atrapalhou está aí: o período eleitoral já se foi e no local do campo existe um espaço vazio parecido com um campo de concentração de alguma das duas guerras mundiais.
AO GOVERNADOR — Durante as tentativas da direção do São Sebastião Futebol Clube de obter êxito nas providências, diversas idas ao governador ocorreram, antes a Aécio Neves e depois a Antônio Anastasia. Documentos foram entregues, mas a vergonha continua: quem passa pelo local e vê o campo destruído pode não chorar por causa de futebol, mas derrama lágrimas pelos jovens que tinham 13 ou 14 anos e hoje se tornaram adultos sem o direito de praticarem o esporte que amam, o futebol. Muitos desses jovens se perderam no mundo da inércia pelo sedentarismo que enfrentaram. Agora, que Deus nos salve, porque os jovens continuam existindo, uns cresceram, muitos vêm aí.
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