segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Caro presidente Alexandre Kalil,

A você, que é presidente do Clube Atlético Mineiro, já me dirigi várias vezes. Em todas, fiz-lhe lembrar do meu e do seu pai, ambos saudosos. Contei-lhe que em São Sebastião do Rio Preto o meu atleticano genitor era embaixador do Galo e cabo eleitoral do deputado Elias Kalil. A estreita ligação de uma circunstância com a outra me faz sempre tomar a liberdade de assumir liberdades no contato com o nobre presidente do CAM.

Sei perfeitamente que você sabe que o torcedor do Galo não é apenas fiel e apaixonado. Ele é a extensão de tudo o que acontece na vida do clube. A sua forma de viver nada tem a ver com as torcidas de outros times ou organizações. Ninguém consegue defini-lo na profundidade da expressão. Roberto Drummond, inesquecível escritor, cronista, romancista, atleticano até na alma, conseguiu muita aproximação com a sua célebre frase: “Se houver uma camisa preta e branca pendurada no varal durante uma tempestade, o atleticano torce contra o vento”. Mas ele próprio confessava que ainda havia um vácuo entre a realidade e a literatura de suas expressões.

Não vou contar aqui outros textos da belíssima página do meu quase conterrâneo, de Ferros. Apenas desejo acrescentar outra citação contida nao mesmo espaço desenhado pela pena castiça do ferrense ilustre: “A gente muda de tudo na vida. Muda de cidade. Muda de roupa. Muda de partido político. Muda de religião. Muda de costumes. Até de amor a gente muda. A gente só não muda de time, quando ele é uma tatuagem com as iniciais C.A.M., gravadas  no coração. É um amor cego e tem a cegueira da paixão”.

Tudo isso acabo de afirmar confesso que é para chamar a atenção do presidente que você tem a honra de ser, de um clube infinitamente diferente e, talvez, extra-terreno. Desde, Kalil, quando você pronunciou a expressão “cereja do bolo”, ninguém mais da nação atleticana deixou de pensar na fruta. Sei de muita gente que leu na Bíblia, em Gênesis, a referência à maçã e, por absoluta convicção, tirou a maçã da boca de Eva e dos olhos de Adão, espantou a serpente e fez uma notável substituição: cereja no lugar da fruta proibida. E ainda disse que assim acabaria o pecado original. Conheço crianças que não mais aceitam um bolo de aniversário com outra fruta mais gostosa, mesmo vermelha, que não seja a cereja. Já vi e ouvi casais atleticanos confidenciando um para o outro: “Você é a cereja do meu bolo”. Virou moda, portanto.

Sabe, Kalil, que você está acelerando muitos corações na expectativa da cereja? Não sei se alguém morreu com  um ferimento cardiovascular, mas é sabido que pessoas estão adiando viagens, outras deixaram de brindar nas festas de fim de ano aguardando a palavra, que vem twittada em @alexandrekalil.  Pois é, caro presidente, que alguns cruzeirenses chamam de “torcedor” por absoluta inveja, já que o ex-deles torcia e bramia e o atual nem torce nem brama, nem grunhe, nem ruge, somente age burocraticamente. O Kalil torcedor faz falta, sim senhor, digo a quem especula isso, porque sem o combustível misterioso chamado CAM não teríamos hoje o time que temos e a organização que somos.

Até agora não consegui dizer, mas caro presidente, devo concluir: abra as portas do seu coração e seja, realmente, mais torcedor que empresário e diga logo, mesmo que isso atrapalhe as negociações, mas salva vidas (coloque a culpa na torcida apaixonada se der errado), mas diga o nome pelo menos de uma cereja, já que, hoje, parece o seguinte: a cereja Tardelli já é do Galo, masa outra, quem é?

José Almeida Sana  (josesana@terra.com.br) – Itabira, 7 de janeiro de 2013

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