Ao chegar à terra de Drummond, de João Camillo de Oliveira Torres,
Cornélio Pena, Alfredo Duval e de outras
figuras notáveis, para aqui morar, antes
de tomar posse no cargo que conquistei em concurso na velha Companhia Vale do
Rio Doce, ouvi uma surpreendente palestra, proferida no escritório do Areão,
pelo meu então chefe, o saudoso Sinésio Valeriano Alves. Disse ele de bom tom
que “hoje vocês chegam para a Vale do Rio Doce, mas pode ser que, em breve, a
empresa os deixe, porque o nosso minério de ferro não tarda a acabar.
Os anos passaram, saí da Vale, a síndrome da exaustão continuou
assombrando o itabirano, aposentei-me
depois (nunca na CVRD como dizem os maliciosos, jogando indireta para uma
possível malandragem), o minério de ferro, além de não ter-se findado, ainda
deu o que chamam de “terceira safra”, exatamente a fase em que vivemos agora: o
itabirito, ou minério duro, até então conhecido como rejeito, passou a ser
matéria-prima de alta importância.
Presenciei na empresa em que trabalhei durante 13 anos várias de
suas fases. Traumática, a privatização não trouxe, pelo menos por enquanto,
prejuízos à cidade. Muito pelo contrário, fez com que houvesse mais empregos,
os velhos empregados se tornassem patrões e a cidade passou a negociar, sem
politicagem, com a diretoria da velha Madrasta. De tão ruim, de tão
politiqueira, desde os tempos de PSD e UDN, esse apelido de mãe indesejável lhe
pegou e era sumamente proibida a sua repetição dentro dos espaços da estatal,
principalmente no período da ditadura militar, sob pena de ser demitido
sumariamente.
Mas, infelizmente, acelerando a produção, porque a empresa passou
a ser privada, recentemente, a Vale inaugurou os bombardeios silenciosos.
Antes, as explosões faziam mais barulho e sacudiam as mais de 40 mil casas.
Hoje o processo mudou. A notável
tecnologia contratada pela poderosa mineradora faz com que as casas
dancem de samba a twist e desse a forró, passando pelo rock e até a dança da
garrafa. Não há, verdadeiramente não há, uma só casa ou apartamento na cidade
que não pegue o pique e que, mesmo sem querer, deixe de sambar no meio de todos
os que vão se acostumando com a diária hora dançante. E algumas ou muitas
construções estão trincadas, telhas caem ou se quebram. Os resultados não são
nada animadores.
Esses terremotos sombrios e sorrateiros atingiram o grau máximo
sísmico na data de aniversário da cidade, 9 de outubro de 2012. Não sei por que
a empresa resolveu prestar essa homenagem à sua enteada, Itabira. Foi uma
sacudida que mexeu com todos os quadrantes da urbe, fora de hora, na calada da
noite. Desses passos sem ritmo, pulamos para a ventania, notadamente substituta
do tsunami, que não poderia faltar, levantando a poeira ao contrário do samba
que faz dar a volta por cima. Quando ninguém espera, especialmente ao
entardecer, chega com furor uma tempestade de minério de ferro, tal como as que
massacram os desertos, aqui chamado essa matéria elegantemente de partículas em
suspensão, notadamente mais simpático termo que poeira.
Itabira privilegiada tem de tudo: não lhe falta aquele que adora
ver a sua casa e a do vizinho dançar, os que bebem pensam que é efeito etílico;
mesmo vendo a poeira subir, há quem aprecie o estrondo silencioso, que estraga
mais, abre veias de busca da matéria-prima, seja debaixo das igrejas, dos
casarões históricos ou mesmo quebrando o asfalto; e a maior abundância tentando
desmontar os pulmões resistentes. O meu, por exemplo, nunca assustou os
otorrinolaringologistas, que não se cansam de diagnosticar: bronquite, rinite,
sinusite e o que, se Deus quiser não vem, a danada da asma.
A receita do doutor ou da doutora? Ah “Pinga isso nas narinas,
tome aquilo na bunda e engula esses comprimidos. Caso não queira fazer nada
disso, tome vergonha na cara, pegue suas trouxas e mude de Itabira, se possível
para uma praia. E agradeça a Deus por não ter morrido ainda”.
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