Em mãos o livro “Encontros e Perdas” —
SANTOS, Conceição Maia, 1.ed., Produção Editorial: Lílian Teixeira, Gráfica
Paulinelli, Belo Horizonte: 2012, 200 p. Tudo a mesma coisa de outros
livros de poemas e prosa não fosse a
autora uma pessoa de várias funções, sendo a principal a sensibilidade em tocar
um assunto sem ferir nem a língua nem talvez um alvo que lhe tenha ferido. Quem
sabe ler e entender enxerga o significado completo das entrelinhas.
É
preciso dizer que foi ela uma minha quase professora. Nos meus tempos de curso
primário — como era chamada a primeira etapa do Fundamental de hoje — me escalaram
para ser aluno de Dona Inês, que nunca mais vi
e sei que existe com toda a sua
simpatia pelos lados da capital mineira. Mas acompanhava tanto Conceição quanto Lucinha, duas irmãs
contemporâneas e inseparáveis, ora na escadaria e pátio do velho Grupo Escolar
Odilon Behrens, em São Sebastião do Rio Preto, ora nos altares da Igreja
Matriz. Aí elas estavam sempre presentes, e eu como coroinha, que ajudava
missas em Latim, a respeitá-las como catequistas. Do “Ad Deum qui laetificat, juventutem
meam” passando pelo “Dominus
vobiscum” e se destacando no “Confiteor Deo omnipotenti, beatae Mariae
semper Virgini, beato Michaeli Archangelo”, via as duas irmãs como eternas
mestras religiosas e intelectuais, que
sabiam traduzir para o português o que era falado na cerimônia, e nos
transmitir.
Maia,
como é conhecida fora dos eixos de nossa terra natal, onde atende por Dona
Conceição, se perpetuou para muitos conterrâneos a princípio graças às
referências extraordinárias dos pais: a mãe, Dona Isaura, exímia costureira, que debruçava na janela, a distribuir olhares de simpatia principalmente às crianças; o
pai, Seu Lulu, artesão do couro, que eu via como um artista de cinema com a
imponência de um Burt Lancaster ou John Wayne. Depois pelas suas próprias e
firmes atitudes que mostravam um caráter inquebrantável. Na família, o mais
novo, José Garcia, hoje apenas Garcia, como sou Sana em várias cidades por onde
passei. Garcia era o meu protetor quando a barra pesava no tempo da
adolescência arredia e repleta de peripécias. Lembro-me de quando um soldado
quis me espancar, eu apenas um menino de 16 anos; ele se prontificou a
enfrentar o dito cujo tira no meu lugar. Imaginem hoje um policial ameaçando um
adolescente apenas por um motivo fútil, implicância da polícia naqueles tempos
idos, meio atrasados, das cidadezinhas do interior. Garcia amedrontou o
valentão mau-exemplo e me deixou orgulhoso. Nem sei se ele se lembra disso.
Não
posso fugir do assunto. Devorei o livro de Maia com toda a curiosidade com que devoro outros
tantos, me procurando localizar naqueles
cenários simples que ela narra, ou por trás do sentido figurado dos poemas
leves de sua autoria. São Sebastião do Rio Preto foi conservada em todo aquele
encantamento do passado na sua pena castiça de suntuosidade transbordando o simples. Também Itabira e até
mesmo o Maranhão, onde ela descreveu em verso e prosa como marcantes de sua
passagem mereceram versos e referências de prosa. Não pude deixar de ser tocado também pelo
poema dedicado a Alzira, a governanta da casa, a quem muitas vezes ia à procura
de uma verdura para o almoço de minha casa. Não me esqueço dela pela amizade
que tinha com a minha segunda mãe, a negra Maria Lucinha, que atravessou a
minha convivência do nascimento à juventude.
A
maior dádiva de “Encontros e Perdas”, sob o ângulo de meu olhar, é a capacidade
que a autora demonstrou ao revelar-se a princípio uma figura passiva dos
sofrimentos impostos pela vida e, paulatinamente, a capacidade de mostrar como
fez para se erguer. Finalmente, no esplendor de uma profícua existência, aos
poucos encontrou o ponto de apoio, de referência, o porto seguro da vida. Ela
não deixa, porquanto, o leitor desestimulado com a vida a tornar-se um perdido
ou deprimido. Pelo contrário, assim como naquele “levanta, sacode a poeira, dá
a volta por cima”, didaticamente não ensina, mas muito mais do que isso, na
prática oferece sua mão para um puxão ou empurrão em qualquer leitor.
Fiquei
deveras arrependido por não ter feito maior esforço para ir à festa
de seus 80 anos, evento ocorrido recentemente,
para o qual fomos convidados. Havia uma força maior que nos impediu, mas
se antes tivesse lido essa bela obra
teria avançado sinais, subido serras, tudo para lhe dar um sincero
abraço.
Siga
em frente, Maia! Você se revelou uma ótima escritora de prosa e poetisa de
sentimentos apurados. A sua alma fala com voz audível e singela na comoção em
“Encontros e Perdas”. Quem sabe conta mais de sua vida que, doravante, é apenas
Conquistas e Riquezas. Sim, da alma, do coração, da beleza de grande parte de
sua vida que soube revelar com total perícia. Parabéns!
Estou muito feliz com suas palavras de carinho, entusiasmo e amizade.Meus 80 anos sao um trofeu, uma tocha olimpica que carrego com orgulho pela vida afora.O mais necessario eu tenho, a disposicao para a felicidade e a certeza de que sempre estarei em tempo de viver uma vida produtiva.Foi uma pena voce nao ter comparecido. Mais do que a comemoracao de um aniversario, foi um encontro de amigos.Agradeco de coracao sua manifestacao por ter gostado do meu livro. Estou tentantando fazer o lancamento dele em Itabira. O que voce acha da ideia? Tem algum local que voce recomenda?
ResponderExcluirAbracos,
Maia.