Então, a séria,
grave, instigante, impressionante, incomparável e misteriosa questão está aí:
nós, seres humanos, não conseguimos dar respostas a algumas perguntas
interligadas entre si: por que vivemos? O que somos? De onde viemos? Para onde
vamos? O que estamos fazendo aqui? É um absurdo! — diria Boris Casoy, digo eu sem saber, na
verdade, o posicionamento do famoso jornalista e apresentador de telejornal.
As consequências
da ignorância representam, praticamente, a decretação do caos. Se não sabemos
quem somos, na verdade vivemos acometidos por uma amnésia trágica. Não sabemos
mas enfiamos a cara em qualquer tema e soltamos a nossa opinião . Alguém,
entendemos ser Deus, nos mandou aqui para viver, ou cumprir pena, ou evoluir,
ou fazer algo que ainda não descobrimos o que é.
A vida continua
e a ignorância também. Mas temos bíblias, corões ou alcorões, leis, tábuas, listas
de pecados, pensamento crítico. De onde tiramos tudo, ainda temos a coragem de
dizer que é de uma inspiração divina. Talvez, sim. É bem possível que sim. Mas,
se contratarmos um empregado para executar uma função qualquer em empresa,
antes de assinar o documento de admissão, temos pelo menos uma entrevista com
ele e, nessa troca de entendimento, alguns pontos ficam claros: o que ele fará?
Como fará? Onde estará trabalhando? Qual o seu salário? E outros acertos
importantes.
Em maio de 1966,
entrei para a antiga Companhia Vale do Rio Doce, onde trabalhei até janeiro de
1979. Ao passar em concurso na grande empresa, sabia o que faria, onde
trabalharia, quanto receberia de remuneração. E mais e mais detalhes. Mas em
janeiro de 1945, quando nasci, ninguém me disse o que teria que executar numa
longa ou média ou curta vida? Aos 11 anos, escrevi, na minha inocência
infantil, mas com uma coragem intimorata, desafiando padre, catequistas e
outros obstáculos, um texto teatral chamado Juízo Final. Nele, depois de condenado
ao fogo do inferno, a minha pena teve que ser reconsiderada porque lancei,
durante o julgamento, essas questões à análise do tribunal. E até hoje
considero que estava acobertado de razões quando rabisquei os manuscritos e fui
suspenso de freqüentar a igreja durante um mês como castigo do padre.
O leitor, ou
internauta, pode argumentar: então: “Quer dizer que o que aprendemos na vida
não tem valor? Perdemos tempo vivendo?" E respondo: é claro que não. Com
essas trombadas, testadas, caídas,
recaídas, sofrimentos, tormentos, agonias, incompreensões e tudo o mais de
obstáculos que enfrentamos no mundo conseguimos, aos poucos, uns lentamente e
outros com mais rapidez, abrir os olhos para a realidade.
Na minha humilde
ignorância, atormentada, no entanto, por uma procura incansável, que já dura
mais de 50 anos, posso dizer que tenho dado, modestamente, passos à frente.
Assumo que estou ainda e mesmo no meio da ignorância, mergulhado nela de ponta,
cabeça para baixo. Tem hora que pergunto a mim mesmo: e agora, o que preciso
fazer para melhorar? Há uns que dizem: “Besteira! Largue isso pra lá! É
preferível viver em paz e aproveitar a vida, crer em Deus e deixar acontecer”.
Quantas vezes
pensei assim! Mas a inquietação, a
turbulência, a impaciência que me causam as pessoas. Essas parecem, mesmo
inconscientemente, cobrar de mim com o
dedo em riste: “Vou te chamar de burro até que encontre o caminho!” (Continua)
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