quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

CENTENÁRIO DO TÃOZINHO DO GODÓ (1)

Ele deixou escrito: “Eu, Sebastião Cândido Ferreira de Almeida, conhecido como Tãozinho do Godó, nasci em São Sebastião do Rio Preto, Estado de Minas Gerais, aos 27 de fevereiro de 1914. Sou filho de Godofredo Cândido d’Almeida  (Godó) e Maria Natividade Ferreira de Almeida (Dona Sinhá do Godó).

Frequentei os bancos escolares da Escolas Reunidas Nossa Senhora das Graças até o  terceiro ano primário. Num dia em que não estava lá com a cabeça muito boa, além de  estudar eu trabalhava muito na Venda do Godó, meu pai, com meus dez anos de idade, um aluno me chamou de “olho de gato”. Sem perceber, atirei nele um vidro de tinteiro e fui expulso de aula pela professora. A partir do dia seguinte, não retornei mais à escola, apesar dos insistentes pedidos de minha Mãe.

Continuei levando a minha vida no balcão da Venda, que oferecia tecidos, calçados, aviamentos, alimentos, bebidas, ferragens e miudezas. Não recebia pagamento pelo que fazia até que, quando adulto e pensando em me casar, meu pai me ajudou a montar a loja que foi o meu ganha-pão a vida toda. Meus irmãos que permaneceram vivos (e aqui ele oculta que teve uma irmã morta por afogamento no córrego que fica no fundo da casa de seu pai): Maria Jacintha, José (Zezé), Irmã Míriam, Luzia, Godofredo e Domingos.

No dia 30 de outubro de 1943, casei-me com Itália Sana de Almeida, filha de Seraphim Sanna e Dona Maria Magno Sana, ambos descendentes de italianos, nascidos em Ouro Preto. Seraphim, meu sogro, era farmacêutico, instalado na Vila em 1933.

Do casamento nasceram dez filhos: José, Carlos, Maria das Graças, Sebastião, Elizabeth, Roberto, Renato, Mary, Marisa e Keile. Continuei morando em São Sebastião do Rio Preto, onde exerci a atividade de vereador, fui membro da Banda de Música da Banda do Godó, além de outras funções na comunidade”. Aqui faço uma interrupção de sua autobiografia e passo ao que acrescento. Mais na frente, retornarei.

Pronto. No próximo 27 deste mês de fevereiro ele faria 100 anos se aqui estivesse.  Eu, o filho mais velho, tomo a iniciativa de contar por capítulos algumas passagens de sua vida. Naturalmente,  muitos vão dizer que se trata de uma biografia autorizada, portanto, sem muitos atrativos. Na verdade, nada temos nós da família a esconder de sua personalidade.

Meu pai tinha um gênio realmente muito forte. Naturalmente, ele carregava as suas razões que nos deixam em estado de reflexão. Se era uma pessoa integralmente humana, por que facilmente se incompatibilizava com as pessoas? Está aí um desafio para psicólogos e outros especialistas. Para este simples escriba, ele era o reflexo de suas atitudes. Ou seja, não tolerava determinados defeitos no ser humano, mas, evidentemente, nem em si próprio. Se exigia que outras pessoas com as quais conviviam fossem honestas, quer dizer que ele era honesto da cabeça à ponta dos pés.

Cada um de seus filhos tem uma história dele para contar. Este espaço está aberto a cada um, bem como a outros parentes, irmãos, sobrinhos, primos, amigos que queiram se manifestar. Preciso alertar a quem nos acompanhará neste trabalho sobre o anacronismo. Ou seja, mais uma vez faço o lembrete: quem observa os fatos históricos vê a Idade Média com os olhos da Idade Média. Assim diziam os mais renomados historiadores.

Ele faleceu no dia 23 de março de 1989, no Hospital Carlos Chagas, vítima de um erro médico. Água na pleura foi a “causa mortis”. Para que  eu pudesse atestar toda a verdade o seu último suspiro ocorreu com a sua cabeça apoiada no meu colo. (Continua...)

Tãozinho do Godó em 1955
         

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