Primeiramente, preciso
explicar a minha nova obsessão. Antes de apontá-la é indispensável justificar
que escriba nenhum, vivo ou quase morto, mesmo que seja de meia-tigela como eu,
não consegue escrever uma escassa linha caso não curta uma obsessão. Declaro,
então, que a minha mania do momento é a violência. Não consigo pensar sobre
outro assunto e por causa disso vou continuar falando e escrevendo o mesmo de
sempre. E nem me é possível evitar as enfadonhas repetições. Um cidadão já
reclamou de mim, outro me aplaudiu. Deu 1 a 1 e fico com o segundo. Não
pretendo parar. Violência, portanto, de manhã, à tarde e à noite.
Itabira virou um
horror. Vou repetir: pavor. Sugeri que se promovesse um seminário para discutir
a irascibilidade que domina não só a nossa cidade mas também o Brasil inteiro.
Contudo, não consegui fazer tremer sapatos nem zunir os ouvidos das
autoridades. Pelos jornais e sites não tenho lido alguma coisa sobre o tema, a
não ser as reportagens que jorram sangue em cada linha. Parece que a vida dos
nossos manda-chuvas vai muito bem, obrigado, “bye, bye” e manda lembrança.
Gostaria que me levassem para essa terra de Alice, o chamado “país das
maravilhas”. Vou à toa, por favor não
convidem duas vezes!
Se alguém, que
nunca deu seus ares em Itabira, descer nas estações Rodoviária ou Ferroviária,
ou chegar de veículo em qualquer ponto da cidade, e começar a ler os sites e a conversar
com algumas pessoas, é quase certo que pense o seguinte: “Aqui tem mais bandido
que gente boa”. Não estou falando mal de nossa urbe. Apenas dando uma dica,
tentando sensibilizar as autoridades que parecem felizes demais no seu canto.
Se escrevo estes rabiscos é porque estou preocupado. Tenho quase 50 anos de
itabirismo. É pouco?
Recebi e recebo
dezenas de contatos, nas ruas, por telefone, messenger, WhatsApp, e-mail e
Facebook, dando ideias para as minhas colunas. Estou aguardando um amigo chegar
à cidade para ver o que faremos nos próximos dias. E não será somente escrever.
Talvez tenhamos que propor ao Poder Público, com mais determinação, a
realização de um fórum permanente ou um seminário. Se for preciso imitar a França
e o mundo, menos o Brasil (que país é esse?), imitaremos já. Todos pra rua!
Vou lembrar
somente um caso que é comentário geral neste momento: uma drogaria itabirna teria
sido assaltada 28 vezes, no centro da cidade, durante seis meses. Fechou as portas,
é claro. Ela tem filiais, uma delas recebeu a visita de bandidos exatamente
hoje, 13 de janeiro de 2015. Agora, vamos pensar, refletir sobre esses números
exagerados: 28 vezes sobre a mira de revólveres. Não é brincadeira. Ou é?
Também 28 virou
um número mágico depois dos comentários que rondam Itabira. Disseram até que
não houve tanto assalto assim, que teria sido algo tramado. Neste caso, desculpem-me,
piora a situação, Será que simulações não desmascarariam todos de uma vez?
Portanto, nada feito, foram mesmo 28, 29 com o de hoje, na rede de farmácias.
Um comércio
qualquer, mesmo que venda somente bananas, repolho ou tomate e consegue
sobreviver tantas vezes a ataques, mais parece uma trincheira cercada de muros.
E tem, provavelmente, segredos dentro de suas prateleiras ou debaixo dos
balcões. Será a senha para abrir as portas de um banco, da entrada aos cofres abarrotados de
grana?
A cidade que
tolera esse número de assaltos, todos à mão armada, tem que, inicialmente, ser
inscrita no Guiness Book. Não é mais a “cidadezinha qualquer” de Carlos
Drummond de Andrade. Faz lembrar os “banks” do Velho Oeste Americano (esse
também se tornou minha obsessão), que produziram notáveis filmes de bang-bang, com
um xerife bravo, uma estrada de ferro em que transitavam trens de dinheiro e
ouro todo dia e bandidos perigosos, os quais atiram para todos os lados como Tom
Mix, John Wayne, Burt Lancaster, Dean Martin, James
Stewart, Clint Eastwood, Paul Newman Robert Redford e outros mais. Com
certeza, esses acontecimentos, mesmo cinematográficos, pareciam previsões
proféticas para os tempos atuais, como Leonardo Da Vinci que, distante séculos
do avião, desenhou a primeira nave dos ares no século 13.
Ladrões que
visitam uma drogaria ou farmácia 28 vezes parecem ser consumidores de remédios
contínuos, que têm preguiça de ir à Farmácia da Prefeitura, e preferem se
arriscar na labuta do roteiro de gritos de “mãos ao alto”. Eles, de tão conhecidos,
aportavam no ambiente monótono e passavam
a cumprimentar os funcionários, um a um, quem sabe também algum cliente que se
encontrava fazendo compras. Lá pela terceira, quarta, quinta vez aquela paisagem
costumeira de ladrões, aqueles homens labutadores compareciam ao seu cansativo “local
de trabalho”, com certeza não precisavam anunciar o asfalto, ameaçar, gritar,
ter medo de uma reação, porque eram personalidades da casa, turma conhecida e
mansa.
Na hora de irem
embora, vez por outra deveriam comentar números dos valores roubados, muito
pouco, ou mesmo agradecer a cortesia de lhes serem oferecido ambiente pacato,
sem novidades, o mesmo da semana passada. “Quer um cafezinho?” “Não, hoje não, tá
muito quente, deixa pra outra vez!”
Ah, deveria ter
sido engraçado demais como finalizavam
aquela rotina até certo ponto enjoada, repetitiva, nada de
adrenalina, faltando emoções mil. Bem-tratados nada tinham a reclamar, e ao sair
deveriam fazer uma despedida mais ou menos assim:
— Gente boa, tá na hora! Tchau! Um abraço! Voltamos
quarta-feira. Obrigado. BYE!
Fim do assalto.
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