Vou sintetizar
parte de uma estória que ouvia de meu pai quando era criança. Dizia ele a um de
seus fregueses, na loja, que, quando o mundo acabasse, montaria um super
comércio para vender tudo, de comestíveis a carros de luxo, passando por roupas
e calçados para a classe alta. O seu interlocutor, perplexo, perguntava, ávido
de uma resposta contundente: “Mas o senhor vai vender pra quem?” E ele, depois
de soltar a sua característica gargalhada que fazia tremer o velho sobrado onde
morávamos, respondia sem pestanejar: “Para um bobo igual a você!” A seguir,
choviam gozações de todas as naturezas, até que chegasse mais um para cair na
armadilha, infalivelmente.
A anedota faz
lembrar o tempo em que “o mundo se arrasava”. Sim, era o verbo que matava de
medo todos os meninos e meninas que o ouviam e, principalmente, eu: arrasar-se,
num estrondo de eco e consequências insuportáveis. Com o tempo, contudo, o povo
parou de ligar para o arraso e para o mundo, apesar de saber da existência da
bomba atômica, do terrorismo e dos loucos de todos os gêneros, a exemplo de um
maníaco que governa a Coreia do Norte, um tal de Kim
Jung II.
Fiz uma rápida
pesquisa e encontrei os seguintes nomes de organizações unidas para o terror
(já pensaram que união, enquanto os seres da bondade nunca se unem!): Al-Qaeda, Abu
Sayyaf, Fundação Al-Aqsa, Brigadas dos Mártires de Al-Aqsa, Al Ghurabaa,
Fundação Al Haramain, Al Ittihad, Al Islamia Flag of Jihad, Al-Umar-Mujahidin,
Jamaat Ansar al-Sunna, Grupo Islâmico Armado, Asbat al-Ansar, Aum Shinrikyo,
Babbar Khalsa. A relação é apenas um mini-apanhado porque o que já existe, hoje
tornou-se uma enciclopédia de horror e pavor.
Conclusão: o
mundo, que sempre foi desconhecido por seus habitantes, revela-se claramente,
para esses mesmos habitantes, que é O Terror, ao invés de A Terra. A Terra foi
extinta, acabou-se, arrasou-se. Apareceu a sua verdadeira cara, que faz medo e
nos coloca fora dela. Ainda nesta semana, jornais do mundo inteiro noticiavam
que foram descobertos por cientistas mais oito planetas habitáveis. Nenhum
cientista, ninguém conta ou sabe também quantos planetas existem nem dentro nem
fora do sistema solar. Podemos, então, escolher outro mundo: ou este já acabou
ou se transformou em terror e devemos zarpar logo. Não há mais contestação,
trata-se de uma certeza inabalável de que isso aqui poderia, no máximo, ser
chamado de Paraíso dos Palhaços, Bobos, Bocós, Tatus, Jecas etc. etc. etc.
Apenas dois
indivíduos, super armados e guardados por coletes à prova de bala, de uma das
organizações terroristas citadas acima, adentraram a redação de uma revista
francesa em Paris e mataram, em questão de minutinhos, 12 jornalistas
influentes e catedráticos. Vamos alinhar a notícia: primeiro: a morte de uma
dúzia de cidadãos franceses de alto nível; segundo, em Paris, capital da
França, um dos pilares de sustentação de certeza de um mundo melhor em nosso
tempo; terceiro, motivos religiosos fundamentalistas. Sem Bastilha, sem Maria
Antonieta, sem La Marseillaise, sem igualdade e fraternidade, mas com negação
de que é o seguinte: caiu a ficha, finalmente, e vivemos num mundo falso, que
já foi arrasado ou transformado.
Para a minha
pobre, humilde, mas convicta dedução, nada há mais o que fazer, senão
prepararmos o outro Reino, o Reino já anunciado há mais de dois mil anos, a nova
terra e os novos tempos previstos por profetas gabaritados e até sagrados. Aos
agnósticos digo que não me baseio em religião alguma, apenas faço uma
compilação de todos os escritos do mundo, das crenças, pensamentos, ideias,
anúncios, intuições e conclamo ao seguinte: vamos arrumar as trouxas ou malas
porque pegamos ônibus errado, a passagem não foi de graça, e precisamos,
enquanto é tempo, cair fora.
Como prova
inequívoca de que não admito que os intelectuais sejam os donos da verdade, nem
os poderosos, quanto menos os “santificados”, mergulho a memória no tempo e
chego a uma praça de São Sebastião do Rio Preto, há algumas décadas passadas,
vejo a poeira levantar-se, cavalos empinarem, tiroteios pelas ruas. Alheio a
tudo isso, um de meus personagens mais admirados e amados, o ex-beberrão João
Ferreira Neto, o legendário João Lagoa, arrastando-se de pescoço quase dobrado
e gritando pelas vias apenas uma frase ou semi-frase, que resume tudo o que
queria dizer neste texto: “Uma que eu não sou daqui!...”
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