segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

INFINITAS PROVAS DE QUE NÃO SOMOS DAQUI

 Eu era menino, via e escutava o bêbado-filósofo de São Sebastião do Rio Preto soltar a sua filosofia rua afora. O ébrio-sonhador chamava-se João Ferreira Neto, conhecido como João Lagoa. Uma de suas muitas expressões que anotei no meu caderninho de apontamentos: “Uma que não sou daqui!”

Nunca tinha refletido sobre a frase do conterrâneo que me deixou lembranças as mais expressivas. Sempre valorizei e valorizo a simplicidade. Uma sentença do João Lagoa vale uma enciclopédia preciosíssima. E a dedução acima é uma garantia de que somos forasteiros ou turistas no Planeta Terra.

Querem mais um exemplo? Vai lá: as doenças contagiosas. Ou se não contagiosas, transmitidas por mosquitos e outras plagas. Mosquito é a natureza, mas ele entra em nossa casa e traz as mais variadas antologias de moléstias. Que estejamos preparados.

No mundo é assim: o pequeno cidadão nasce, aparentemente sem culpa alguma, já que  é produto do prazer, mas vai pagar o pato. Em pouco tempo já sente que a vida no Planeta Terra é de disputas. Quanto tempo demora para falar? Quanto para andar? É inteligente ou burro? Retardado? Julgamento aos montes.

Lembrando o mundo como um todo, vejam o terrorismo se alastrando. Seria normal, esse é o presente que temos na vida, as ocorrências que tiveram ou têm fonte no Oriente Médio? O 11 de setembro e fatos parecidos, que se difundem pela Europa? Que mundo é esse? Quantos inocentes morreram e morrem em atos, os mais absurdos que ocorrem?

O ser terrestre desistiu de acreditar no seu par, no irmão ou amigo, em outro ser terráqueo, por quê? Mata sem parar quem obstrui o seu caminho tanto por questões políticas quanto por mesquinhos interesses particulares, não é?. Não há respeito, cada vez mais intensa é a ausência desse quesito indispensável à vida. Alguém já pensou nisto: somos mesmo programados para viver neste mundo?

Além das façanhas provocadas diretamente pelo ser humano, incluindo a incrível introdução no dia a dia do homem bomba, e as catástrofes naturais? Quantos países estão sendo devastados hoje em dia por terremotos, maremotos, tufões, tornados, tsunamis e outras desgraças da natureza? Insisto na pergunta: somos daqui?

Parece lógico alguém morrer nas Torres Gêmeas ou em qualquer outro lugar alvo de atos terroristas, ou em terremotos ocorridos no Haiti, Chile, Itália, Japão? O que fez o mineiro Jean Charles para ser confundido com terrorista e ser morto sumariamente dentro de um metrô em Londres quando ia para o trabalho? Tudo por confusão, julgamentos mal feitos e outras estripulias? Que segurança em qualquer parte do globo terrestre alguém nos dá?

No tempo escolar, os julgamentos são intensos e cruéis: é autista? Mongoloide? Tem síndrome de Down? Inteligentíssimo? Bem procedido? Capetinha? Fora todos os temas de sondagens sobre o pequerrucho, ele nem fica sabendo que a vida é dura, é cara, é um desafio. Aparece uma palavra em sua vida que o perseguirá para sempre: problema. O mundo é um problemão.

Ninguém entende que o menininho ou menininha, gerado no prazer, nascido sozinho (apenas empurrado por umas técnicas de expulsão do útero, quando é preciso, ou uma cesárea) vai ter de enfrentar a vida. Lutar, lutar, lutar, se canta como no Hino do Clube Atlético Mineiro. E nem sempre vencer, vencer  e vencer.

Concorrência desleal? Tal método não faltará. Bondade falsa ou frívola e relapsa? Tudo será comum na vida inteira. Escolher a profissão é uma barra pesada. Gostar de estudar, outro muro à sua frente. Disputas por vagas em concursos, às vezes sobre a mira de injustiças. Isso tudo é normal em um mundo feito apropriadamente para se viver nele?

Está na moda a suprema frivolidade do ser humano. Sorrisos comprados. Cinismo de graça e em ação. Onde a criança nasceu? Que país é esse? E se for na Síria? Ou dentro da guerra interminável do Oriente Médio? Quem achou que a vida desse pobre-coitado seria fácil?

Pior ainda quando esse filho de Deus é gerado  nas sarjetas. Debaixo de um túnel, sob a inspiração de um desejo incontido e até sob o império de um mau cheiro assustador. Mas, mesmo assim, se preparado para ele um berço de ouro estaria garantida sua felicidade?

E que droga é essa, capaz de despertar o desejo de constituir família um belo casal que, às vezes, gera um ser infeliz? E quando o sujeito cai no seio de uma família não apenas pobre de dinheiro, mas de espírito e, acima de tudo, com DNA da quase incurável depressão?

Uma resposta simples e incontestável: não somos mesmo desse, apesar de tudo, belo mundo. São mil provas de que aqui chegamos com toda a pinta de forasteiros. Citei pouquíssimos exemplos. Tenho-os mais. Deixo para cada um analisar. Por enquanto, responda quem quiser e puder:

            — O que o ser humano veio fazer no mundo, senão lutar?
            — Há alguma conquista senão a alegria do resultado positivo de lutas?
            — Onde está o prazer de viver?

E termino assim: um casal se une e reúne para gerar alguém que vai sofrer, mas só assim se processa a regra da evolução? A vontade de ter um filho prova que a nossa consciência é teleguiada. Contudo, passando por esse caminho se pode concluir que a vida é bela. Mesmo sendo transcorrida num mundo que não é, definitivamente não é, o nosso mundo.



P.S.: Engraçado ou não, ao terminar de rabiscar este texto fiz uma pesquisa e constatei que muitos cientistas afirmam com as suas provas de que, realmente, este mundo não é do ser humano que o habita.

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