Eu era menino,
via e escutava o bêbado-filósofo de São Sebastião do Rio Preto soltar a sua
filosofia rua afora. O ébrio-sonhador chamava-se João Ferreira Neto, conhecido
como João Lagoa. Uma de suas muitas expressões que anotei no meu caderninho de
apontamentos: “Uma que não sou daqui!”
Nunca tinha
refletido sobre a frase do conterrâneo que me deixou lembranças as mais
expressivas. Sempre valorizei e valorizo a simplicidade. Uma sentença do João
Lagoa vale uma enciclopédia preciosíssima. E a dedução acima é uma garantia de
que somos forasteiros ou turistas no Planeta Terra.
Querem mais um
exemplo? Vai lá: as doenças contagiosas. Ou se não contagiosas, transmitidas
por mosquitos e outras plagas. Mosquito é a natureza, mas ele entra em nossa
casa e traz as mais variadas antologias de moléstias. Que estejamos preparados.
No mundo é
assim: o pequeno cidadão nasce, aparentemente sem culpa alguma, já que é produto do prazer, mas vai pagar o pato. Em
pouco tempo já sente que a vida no Planeta Terra é de disputas. Quanto tempo
demora para falar? Quanto para andar? É inteligente ou burro? Retardado?
Julgamento aos montes.
Lembrando o
mundo como um todo, vejam o terrorismo se alastrando. Seria normal, esse é o
presente que temos na vida, as ocorrências que tiveram ou têm fonte no Oriente
Médio? O 11 de setembro e fatos parecidos, que se difundem pela Europa? Que
mundo é esse? Quantos inocentes morreram e morrem em atos, os mais absurdos que
ocorrem?
O ser terrestre
desistiu de acreditar no seu par, no irmão ou amigo, em outro ser terráqueo,
por quê? Mata sem parar quem obstrui o seu caminho tanto por questões políticas
quanto por mesquinhos interesses particulares, não é?. Não há respeito, cada
vez mais intensa é a ausência desse quesito indispensável à vida. Alguém já
pensou nisto: somos mesmo programados para viver neste mundo?
Além das
façanhas provocadas diretamente pelo ser humano, incluindo a incrível
introdução no dia a dia do homem bomba, e as catástrofes naturais? Quantos
países estão sendo devastados hoje em dia por terremotos, maremotos, tufões, tornados, tsunamis e outras desgraças da natureza? Insisto na pergunta: somos daqui?
Parece lógico
alguém morrer nas Torres Gêmeas ou em qualquer outro lugar alvo de atos
terroristas, ou em terremotos ocorridos no Haiti, Chile, Itália, Japão? O que
fez o mineiro Jean Charles para ser confundido com terrorista e ser morto
sumariamente dentro de um metrô em Londres quando ia para o trabalho? Tudo por
confusão, julgamentos mal feitos e outras estripulias? Que segurança em
qualquer parte do globo terrestre alguém nos dá?
No tempo
escolar, os julgamentos são intensos e cruéis: é autista? Mongoloide? Tem síndrome
de Down? Inteligentíssimo? Bem procedido? Capetinha? Fora todos os temas de
sondagens sobre o pequerrucho, ele nem fica sabendo que a vida é dura, é cara,
é um desafio. Aparece uma palavra em sua vida que o perseguirá para sempre:
problema. O mundo é um problemão.
Ninguém entende
que o menininho ou menininha, gerado no prazer, nascido sozinho (apenas
empurrado por umas técnicas de expulsão do útero, quando é preciso, ou uma
cesárea) vai ter de enfrentar a vida. Lutar, lutar, lutar, se canta como no
Hino do Clube Atlético Mineiro. E nem sempre vencer, vencer e vencer.
Concorrência
desleal? Tal método não faltará. Bondade falsa ou frívola e relapsa? Tudo será
comum na vida inteira. Escolher a profissão é uma barra pesada. Gostar de
estudar, outro muro à sua frente. Disputas por vagas em concursos, às vezes
sobre a mira de injustiças. Isso tudo é normal em um mundo feito
apropriadamente para se viver nele?
Está na moda a
suprema frivolidade do ser humano. Sorrisos comprados. Cinismo de graça e em
ação. Onde a criança nasceu? Que país é esse? E se for na Síria? Ou dentro da
guerra interminável do Oriente Médio? Quem achou que a vida desse pobre-coitado
seria fácil?
Pior ainda quando
esse filho de Deus é gerado nas sarjetas.
Debaixo de um túnel, sob a inspiração de um desejo incontido e até sob o império
de um mau cheiro assustador. Mas, mesmo assim, se preparado para ele um berço
de ouro estaria garantida sua felicidade?
E que droga é
essa, capaz de despertar o desejo de constituir família um belo casal que, às
vezes, gera um ser infeliz? E quando o sujeito cai no seio de uma família não
apenas pobre de dinheiro, mas de espírito e, acima de tudo, com DNA da quase
incurável depressão?
Uma resposta
simples e incontestável: não somos mesmo desse, apesar de tudo, belo mundo. São
mil provas de que aqui chegamos com toda a pinta de forasteiros. Citei
pouquíssimos exemplos. Tenho-os mais. Deixo para cada um analisar. Por
enquanto, responda quem quiser e puder:
— O que o ser humano veio fazer no
mundo, senão lutar?
— Há alguma conquista senão a
alegria do resultado positivo de lutas?
— Onde está o prazer de viver?
E termino assim:
um casal se une e reúne para gerar alguém que vai sofrer, mas só assim se
processa a regra da evolução? A vontade de ter um filho prova que a nossa
consciência é teleguiada. Contudo, passando por esse caminho se pode concluir
que a vida é bela. Mesmo sendo transcorrida num mundo que não é,
definitivamente não é, o nosso mundo.
P.S.: Engraçado
ou não, ao terminar de rabiscar este texto fiz uma pesquisa e constatei que
muitos cientistas afirmam com as suas provas de que, realmente, este mundo não
é do ser humano que o habita.
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