Faz três meses, acho que sim, não falo com o ET. Ele me atendeu no
início de janeiro deste complicado ano de 2019 para uma entrevista concedida à luz de velas, num beco sem saída
de Itabira. Ele gosta de lugares baldios, pouco frequentados, além de sua
preferência lúgubre por horas avançadas, mais precisamente por volta das meias-noites,
quando os vampiros e as assombrações, segundo Machado de Assis, fazem qualquer
durão das pernas tremer até os pés. Só que hoje as almas do outro mundo sumiram
de nossa imaginação retardada. Pensam que ficamos mais espertos.
Não
aprecio voltar constantemente a temas já focalizados. Tento passar para outros
assuntos, diferentes, mas o meu amigo Extraterrestre é obsessivo, adora bater
nas mesmas teclas. Até que explica o porquê dessa sua até certo ponto chata
insistência. Diz que o homem está na face do Planeta Terra para resolver um monte
de problemas, mas não atinge o seu objetivo pelo fato de fugir do que de sua
real função. Pede que eu escreva com letras maiúsculas: QUESTÃO NÚMERO UM, A
ORIGEM.
Tentei
de várias formas obter dele uma dica sobre a busca deste primeiro desafio. Ele
insistia no seguinte argumento: vocês mesmos, os terrestres, precisam
descobrir, por técnicas próprias, os sintomas e, depois, a realidade desta
questão primeira. Ele permaneceu
assim fazendo insinuações, rodeando as soluções, forçando para que nós,
animais racionais ou mesmo irracionais em determinados momentos, tenhamos a
mínima inteligência para encontrar o fio da meada.
O
ET tomou definitivamente a palavra e, assentado no meio-fio, sem o mínimo
conforto como ele nem liga, começou a falar, vendo que eu gravava até seus
soluços a arrotos: “Vamos à origem. Já me cansei de dizer que enquanto não se
descobrir a origem do ser humano e sua função no lugar onde está, não haverá a
possibilidade do acerto”. Tais palavras nos garantiam o direito de raciocinar,
ou seja, concluir que até agora, decorridos bilhões de anos em que o ser humano
está no Planeta Terra, nós humanos só aprendemos a voltar atrás, ou seja, a
desistir do que sabemos de pouca em pouca passada.
Mas
continuemos ouvindo o morador de outro planeta (não me fala mesmo de onde é,
mas desconfio que seja de Júpiter). Fiz-lhe uma pergunta:
—
Como se chegar ao entendimento da origem da vida, do mundo, do ser humano, de
animais e vegetais?
Resposta
mais que clara do habitante de outros mundos:
—
Você tem de juntar hipóteses diversas, possíveis, observando o que aprendeu na
vida como quebra-cabeça. Com elas, caminhe para estabelecer uma tese. Procure
juntar as teses dentro de lógicas, aproveite muito os conhecimentos adquiridos
em sua jornada até agora. Depois veja se consegue fazer uma proposta para
formulação de leis naturais. Anote no
seu caderno: H (hipóteses) + H + H (o quanto quiser) = T (tese). A Tese lógica
torna-se uma proposta de LN (Lei Natural). A lei, seguida ao pé da letra, leva
você a se descobrir. Toma um senhor susto, mas tudo bem, é bom assim. E vai
colocando à prova as leis que as hipóteses e as teses apresentaram.
—
Você me daria a colher de chá de um exemplo?
—
Sim — palavra extraterrestre — admita que você vive porque quis viver; quis
viver para aprender; aprender para igualar-se a uma inteligência superior. Tudo
isso são hipóteses e delas se forma uma tese; a tese seria, neste caso, o
seguinte: a vida é um período que acontece por nossa opção, temos funções
várias a executar; seremos felizes se descobrirmos se fizermos o que nós
próprios estabelecemos.
—
Obrigado, prezado ET, por hoje. Quer concluir?
—
Sim, quero e preciso: mando um recado aos seres viventes. É o seguinte: se não abrirem os olhos por
amor, por busca incessante, por quebra da preguiça, por coragem, abrirão por
dores atrozes. Vocês terão muitas amarguras, chacinas, desgraças, sofrimentos cruéis, caso prefiram se manter
de braços cruzados. Entendido? Transforme o que acabo de dizer em mais uma lei
natural e pratique a lei. Fim de papo por hoje.
José
Sana
14/03/2019
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