Jamais pensei em escrever algo assim em que se inserisse a
expressão horripilante “desgraça”. Por mais que o mundo nos ofereça e oferece
mesmo panoramas desanimadores, sempre acreditei naquele adágio popular que diz
“depois da tempestade vem a bonança”. Hoje confesso que a expectativa de fatos
desagradáveis nos conduz a um sofrimento maior que enfrentar a fúria de um fato
já consumado.
Neste momento, Barão de
Cocais, cidade de uns 25 mil habitantes, situada a cerca de 60 quilômetros de
Itabira, a menos de 100 de Belo Horizonte, bem aqui pertinho de nós, está com
um aviso pregado na mente do povo que se resume em interrogação sobre o que virá.
A mineração, que nem tanto assim premiou os cofres do município, mais dedicado
à siderurgia, pode decretar pelo menos a metade do fim da cidade e de outras
situadas nas proximidades, além de acabar com nascentes promissoras e rios
caudalosos.
Não vou desfilar
algumas informações sobre Gongo Soco, originário do Cico do Ouro, onde está
armado o front de uma nova guerra ambiental. O sítio tem sua história iniciada em 1745, esteve nas mãos
de ingleses, depois da Mineração Socoimex (leia-se Diogo Bethônico) e,
finalmente, caiu em poder da famosa, poderosa e quase intocável Vale
(ex-Companhia Vale do Rio Doce), tendo sido a mineração transferida em massa
para a extração de minério de ferro, em 1986. Até hoje, o acervo ambiental e
histórico da região continua de pé. Mas não se sabe até quando isso durará porque o fim está sendo anunciado até pela mineradora que era orgulho dos
mineiros.
Vai romper. Não vai romper. Talude cede. Talude não cede. Barragem
idem. Vão-se embora cidades (pelo menos umas três estão mencinadas em relatórios
técnicos). Rios morreram e vão morrer, como sucumbiram vários cursos de água assoreados por lamas. Minas Gerais ameaça sumir do mapa,
pelo menos o nome pode ser mudado. E a Vale age de forma inexplicavelmente
misteriosa. Ela própria, depois dos apertos ocorridos a partir de 26 de janeiro
deste ano, em Brumadinho, resolveu mudar de tática, não nega rompimento de
barragens, nem destruições, nem fim da fauna, flora e até de homens, mulheres e
crianças. Pelo contrário, pratica o que os terroristas do Oriente Médio pregam,
a implosão de tudo. Explicável isto porque a mineradora, estatal ou privada,
não existe, não tem cara, não tem personalidade. O que ela tem: o jeito novo de
ser madastra-bomba, substituta do terror pregado por Bin Laden, que mostrou a
estampa do homem-bomba. E as sirenes tocam como trombetas do Apocalipse.
Barão vive a expectativa do fim, apesar de alguns cocaienses, ingênua
ou sabiamente, acreditarem que tudo não passa de mentiras deslavadas. Imaginem
a cidade invadida por centenas de máquinas, quase milhares de caminhões novos,
que impressionam, nenhum “pé de pomba” dorme mais, bancos fechados, não se
pagam contas nas redes, empréstimos vencem, dobram os preços dos alimentos,
paralisa-se a sua indústria siderúrgica, os políticos ficam cada vez mais
perturbados por informações desencontradas. Cadê a Vale? Já escrevi acima: ela
não existe, está agora, somente, fazendo um novo papel para dizer que tenta
salvar todos, incluindo a antecipação da própria tragédia. Inventou até — e em
toda a região — a chamada “Rota de Fuga”, placas abundam em todas as cidades
mineradoras de Minas Gerais. Em outras palavras, a mineradora, mundialmente
conhecida, tenta socorrer os atletas, somente aqueles que sabem correr, abrindo
mão de crianças, idosos, deficientes físicos e mentais, talvez mais de um terço
dos que pelejam normalmente para sobreviver e vão dar suas vidas pela segunda
maior empresa de mineração do mundo.
Primeira vítima da Vale foi Mariana. Depois chegou a vez de Brumadinho. Barão está na sua rota. Acordem, gente, porque pode chegar a vez de sua cidade-mãe, Itabira.
Primeira vítima da Vale foi Mariana. Depois chegou a vez de Brumadinho. Barão está na sua rota. Acordem, gente, porque pode chegar a vez de sua cidade-mãe, Itabira.
No lugar da seta indicativa que a Vale colocou escrito “ROTA DE
FUGA”, ela deveria rapidamente mudar a conotação para ficar mais autêntica,
menos demagoga e definitivamente ex-covarde: “SALVE-SE QUEM PUDER!”
José Sana
Em 23/05/2019
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