O primeiro
ventilador mecânico foi feito no sustentáculo de leques presos por hastes. Os leques
se moviam de acordo com algumas roldanas. Isso por volta de 1880, nos Estados
Unidos. E em 1882, Philip Diehl inventou, precariamente, o ventilador de teto.
O primeiro aparelho de ar-condicionado foi criado em 1902 por Willis Carrier,
em Buffalo, sempre nos Estados Unidos. Até aí o mundo já era velho de guerra,
com bilhões de anos nas costas. E o calor, hoje quase insuportável, não
queimava o planeta?
Não desejo
discutir os assuntos ventilador e ar-condicionado e o calor de matar com meus
eventuais e pingados leitores. Só pretendo deixar uma pulga nas orelhas de quem
tem ouvidos normais sobre o seguinte tema: será que esse clima infernal vai
continuar desenfreado? Para amenizar, eu era menino rabugento ainda quando
estourou nas bilheterias de cinemas do país, o filme “Rio, 40 graus”. Brasileiríssimo,
de 1955, com roteiro e direção de Nelson Pereira dos Santos, revela algum fato
interessante. Por aí se vê que de 1955 até agora o calor do Rio de Janeiro não
subiu tanto, no máximo até 45 graus, sei lá. E vamos levando o bonde arrastado,
mas levando.
Mas o assunto de
agora não é este. Só faço um preâmbulo
para lembrar o jogo de futebol,
realizado ontem, entre Cruzeiro 0 x Atlético 0, no Mineirão, pelo Campeonato Brasileiro.
Li, vi, ouvi opiniões de vários entendidos das bolas rolando. Criticaram tudo:
diretorias, jogadores, treinadores; até os gandulas eram moles em repor as
redondas; os próprios narradores engoliam mais água que palavras; mas não li,
nem vi, nem ouvi nenhuma crítica ao horário do “derby” — 16 horas, num calor de
fazer galinha pôr ovo cozido. Ouvi também que vários torcedores tiveram
insolação, alguns desmaios, atendimentos com ambulâncias, transporte para o
hospitais. E acrescento: dezenas de outros jogos foram travados na “ex-pátria
das chuteiras” no mesmo horário. Ufaaaa!!!
Não vou me
alongar neste texto e nem é preciso. Se nas arquibancadas os torcedores
desmaiavam, difícil será acreditar que nem um jogador morreu atingido pelo ar
pesado que circulou dentro de campo. Isto eles falaram: que os termômetros
marcavam 34 graus centígrados no gramado. Mas o medidor de temperatura não
correu atrás da bola, não suou, não permaneceu mais de 90 minutos pra lá e pra
cá como cachorros dopados. Só quero dizer que a decisão de marcar a partida
para 16 horas, a imposição do horário (Rede Globo, a tal), o aceite dos clubes
(estão à míngua, de chapéu nas mãos) e a insensibilidade de todos juntos, tudo
merece uma forca com direito a plateia para os (ir) responsáveis.
Infelizmente, o
futebol brasileiro vai mal. Acho que só o Flamengo está bem porque acreditou na
sua imensa torcida e investiu. E além de horroroso, o futebol ficou sem graça,
com um time só. O time da vitória antecipada. E não venham me dizer que
Palmeiras, Santos e Grêmio estão no nível do Urubu, completamente distantes
dele. Mas, pior que o futebol brasileiro são os insensíveis, os brutos, os
cegos que neste verão antecipado jamais deixam sua sala de ar-condicionado. Mas
decidem burrices trágicas.
O futebol morre
e, antes de seu último suspiro, o calor destrói o que sobrava nos pés e cabeças
de jogadores que chamam de mesquinhos, peladeiros, pernas de pau, cabeças de
bagre. Mass também pudera! E antes de concluir deixo uma informação que a
maioria conhece: o Flamengo não joga no sol a pino, não, esse super time é
escolhido para entrar em campo quando cai a tarde e entra a noite. Só faltam
instalar um ventilador na cabeça de cada craque de cem milhões de euros.
Lamentável essas
cabeças secas. Você aí, desconfie que a inteligência humana está indo pro
brejo. Volto ao assunto um dia, se a graça de Deus permitir.
José Sana
Em 10/11/2019
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