terça-feira, 14 de outubro de 2014

UM DIA DE CÃO


Ontem, segunda-feira, 13 de outubro, para mim foi um Dia de Cão. Nada a ver com o filme americano de Dog Day Afternoon, de 1975, drama policial dirigido por Sidney Lumet, e estrelado por Al Pacino, com roteiro baseado em fatos reais. Somente o último detalhe interessa agora porque no contexto as minhas horas foram verdadeiras

Chego à minha casa à noite para dar a última checada no computador e me deparo com um ataque mortífero de um grande amigo. Diria que era uma bomba sobre Hiroshima, pois o meu coração não passa de uma cidade japonesa constantemente atacada por efeitos nucleares. Pior foi que o emissor da bomba atômica é um destacado aliado dos anos em que, por questões fortes e íntimas, me ajudaram a recuperar o atraso escolar que fui obrigado a aceitar por questões físicas. Não vou reprisar fatos, mas apenas garantir a importância dessa pessoa no contexto de minhas conquistas, que agora me atacava exuberantemente. E eu caí inapelavelmente como um Mike Tyson, derrubado por uma direita de Evander Holyfield, numa inesquecível noite de box que terminou com uma orelha arrancada por dentes, muitos se lembram, acredito.

Reintegrei-me à sociedade como que por uma bênção e cheguei, àquela altura, à inevitável conclusão de que a minha história era mais bonita que a de Robinson Crusoé. Mais tarde, começo a proclamar essa história porque descubro, por nova bênção, que todos os seres humanos têm uma história bonita, é preciso descobri-la. Aí morre a falsa modéstia de cada um de nós, considerando que o manipulador do canhão também tem uma história incrível de heroísmo.

Mas, volto a mim e pergunto: o que teria feito eu para ser dinamitado, arrasado, massacrado? Demorei-me para perceber: havia contrariado o pensamento de meu grande amigo na sua página do facebook. Oh, praga de comunicação, hein? Queremos nos integrar, buscar informações, levar dados e acabamos dando com os burros n’água. E tenho que conter, às vezes, a minha elétrica raiva contra certas manias da sociedade intelectualizada. Meu Deus! — exclamo de mim para mim, fechado em botões e fechos ecleres — não seriam os intelectuais os escalados para resolverem os enigmas do mundo? E eles se fecham, se embaralham, se confundem?  Por que se omitem? Acabam dificultando a  solução do problema, fugindo de uma missão que deveria ser sua.

Dezenas de mensagens no Face, WhatsApp, Messenger, Email de amigos dando informações: “Ele está muito bravo mesmo com você!” Outros davam pulos desesperados, como aquele Sapo de Minha Terra que passou um tempo longe de seu habitat preferido para não ser ofendido, e perguntavam: “Você deve tê-lo ofendido até a décima geração, observando as mensagens de última chamada, diretas e indiretas, não?” Calei-me na minha longa missão de ignorante para tomar uma medida qualquer. Não para levar ao conhecimento dele e dos que sentiram dores para mim (grato pela gentileza da divisão de ataques).

Mas desde logo estava estampado na minha testa uma espécie de aviso aos navegantes que mostrava clara a minha decisão de escrever algumas linhas. Não em resposta a ele, jamais, ele é intelectual, inteligente, competente, intocável, um verdadeiro Oscar para os meus limitados conhecimentos, mas seguindo as linhas de minha cardiologista não só fisicamente do coração como intimamente do coração: “Nunca, jamais, deixe de desabafar-se e esse será o seu mais seguro remédio que impedirá um infarto do miocárdio; é o único momento em que a sua pressão arterial vai às nuvens; seus exames laboratoriais e digitais têm ótimos resultados!”

Bem, o leitor deve estar assentado esperando um esclarecimento maior. “Por que, afinal, o seu grande amigo se exasperou contra você?” Para leigos em História não há motivos. Mesmo sendo eu um historiador de meia-tigela, mesmo tendo recebido 90% de notas máximas em todo o curso, incluindo dois de pós-graduação, de acordo com o raciocínio do meu amigo tenho que reconhecer um erro: como colega de profissão (olhem que neste momento não estou exercendo nenhuma atividade de magistério nem de historiador) faltei com a ética. A ética de todas as profissões seria não discutir temas internos dentro das atividades profissionais. Se não deu para entender, não fica bem dois médicos discutirem a saúde de pacientes em público. A comparação nada tem a ver com seriedade, pois entre a medicina e a matéria escolar existem três desertos separando-as.

Mas posso repetir aqui que a ideia do intelectual hoje é ser do contra nas eleições, posição que cognomino como próprio da esquerda caviar, ou festiva, porque esse agrupamento de ideias seria um avanço no entender dos acadêmicos. Dizem avanço e ainda chamam o contrário de retrocesso. Só que o avançar não inclui desenvolvimento econômico e social e o retrocesso seria o fim da inflação. Longe de querer aprender História, o eleitor brasileiro quer é viver bem. Concluindo: se os historiadores  desejam se tornar respeitados tal como um médico, por exemplo, precisam incorporar a ciência à lógica com objetividade. Há um desinteresse escolar muito forte, repito que radical, por matérias como geografia, letras, história. História está em último lugar no interesse do estudante, que não quer mesmo engolir teorias que nada resolvem, que não o estimulam a estudar. Alô, MEC, por que não se atenta para essa questão?

O estudante sabe que tem que engolir um amontoado de intelectuais do passado que, no final, não darão respostas aos seus anseios e arguições. O mundo precisa reencontrar-se, confrontar a sua identidade verdadeira consigo mesmo e não permanecer aí nesses rodeios intermináveis que não satisfazem a ninguém. Seria quem o dono da verdade? Aristóteles? Platão? Karl Marx, Marc Bloch, Lucien Febvre, Auguste Comte, Eric Hobsbawm? Quem mais? Historiadoras mulheres brilhantes ou mulheres qu deixaram seus nomes gravados?

Aí fica o meu desafio. Volto em breve com Avanços, Retrocesso, Esquerda, Direita para, finalmente, chegar a uma nova escola histórica que precisa ser criada, moldada, montada, discutida. A Historiografia, no decorrer de sua própria história, conheceu muitas “escolas históricas”, como Escola Metódica - Positivista, Escola dos Annales, Escola Alemã, Escola Moderna, Nova Escola, Marxismo — cito apenas para lembrar que paramos no tempo.

É preciso, portanto, criar a nossa independência histórica, a fim de que a teoria acompanhe a prática e seja estabelecido um novo paradigma de busca das respostas para as questões seguintes: quem somos? De onde viemos? Para onde vamos? O que fazemos neste mundo maluco e confuso? Só, então, poderemos chegar às definições de Avanço e Retrocesso, bem como de outros termos que ocupam o cérebro do historiador e, particularmente de todos os seres humanos.

E termina aqui o meu Dia de Cão porque dei conta de não ter que ir mais uma vez à minha querida cardiologista que cuida de meus dois corações, o humano, físico, e o tocado a emoções em busca do caminho verdadeiro por meio da ciência.

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