Ontem,
segunda-feira, 13 de outubro, para mim foi um Dia de Cão. Nada a ver com o
filme americano de Dog Day Afternoon, de 1975, drama policial dirigido por
Sidney Lumet, e estrelado por Al Pacino, com roteiro baseado em fatos reais.
Somente o último detalhe interessa agora porque no contexto as minhas horas
foram verdadeiras
Chego à minha
casa à noite para dar a última checada no computador e me deparo com um ataque
mortífero de um grande amigo. Diria que era uma bomba sobre Hiroshima, pois o
meu coração não passa de uma cidade japonesa constantemente atacada por efeitos
nucleares. Pior foi que o emissor da bomba atômica é um destacado aliado dos
anos em que, por questões fortes e íntimas, me ajudaram a recuperar o atraso
escolar que fui obrigado a aceitar por questões físicas. Não vou reprisar
fatos, mas apenas garantir a importância dessa pessoa no contexto de minhas
conquistas, que agora me atacava exuberantemente. E eu caí inapelavelmente como
um Mike Tyson, derrubado por uma direita de Evander Holyfield, numa
inesquecível noite de box que terminou com uma orelha arrancada por dentes,
muitos se lembram, acredito.
Reintegrei-me à
sociedade como que por uma bênção e cheguei, àquela altura, à inevitável
conclusão de que a minha história era mais bonita que a de Robinson Crusoé.
Mais tarde, começo a proclamar essa história porque descubro, por nova bênção,
que todos os seres humanos têm uma história bonita, é preciso descobri-la. Aí
morre a falsa modéstia de cada um de nós, considerando que o manipulador do
canhão também tem uma história incrível de heroísmo.
Mas, volto a mim
e pergunto: o que teria feito eu para ser dinamitado, arrasado, massacrado?
Demorei-me para perceber: havia contrariado o pensamento de meu grande amigo na
sua página do facebook. Oh, praga de comunicação, hein? Queremos nos integrar,
buscar informações, levar dados e acabamos dando com os burros n’água. E tenho
que conter, às vezes, a minha elétrica raiva contra certas manias da sociedade
intelectualizada. Meu Deus! — exclamo de mim para mim, fechado em botões e
fechos ecleres — não seriam os intelectuais os escalados para resolverem os
enigmas do mundo? E eles se fecham, se embaralham, se confundem? Por que se omitem? Acabam dificultando a solução do problema, fugindo de uma missão
que deveria ser sua.
Dezenas de
mensagens no Face, WhatsApp, Messenger, Email de amigos dando informações: “Ele
está muito bravo mesmo com você!” Outros davam pulos desesperados, como aquele
Sapo de Minha Terra que passou um tempo longe de seu habitat preferido para não ser ofendido, e perguntavam: “Você deve
tê-lo ofendido até a décima geração, observando as mensagens de última chamada,
diretas e indiretas, não?” Calei-me na minha longa missão de ignorante para
tomar uma medida qualquer. Não para levar ao conhecimento dele e dos que
sentiram dores para mim (grato pela gentileza da divisão de ataques).
Mas desde logo
estava estampado na minha testa uma espécie de aviso aos navegantes que
mostrava clara a minha decisão de escrever algumas linhas. Não em resposta a
ele, jamais, ele é intelectual, inteligente, competente, intocável, um
verdadeiro Oscar para os meus limitados conhecimentos, mas seguindo as linhas
de minha cardiologista não só fisicamente do coração como intimamente do
coração: “Nunca, jamais, deixe de desabafar-se e esse será o seu mais seguro remédio
que impedirá um infarto do miocárdio; é o único momento em que a sua pressão
arterial vai às nuvens; seus exames laboratoriais e digitais têm ótimos
resultados!”
Bem, o leitor
deve estar assentado esperando um esclarecimento maior. “Por que, afinal, o seu
grande amigo se exasperou contra você?” Para leigos em História não há motivos.
Mesmo sendo eu um historiador de meia-tigela, mesmo tendo recebido 90% de notas
máximas em todo o curso, incluindo dois de pós-graduação, de acordo com o
raciocínio do meu amigo tenho que reconhecer um erro: como colega de profissão
(olhem que neste momento não estou exercendo nenhuma atividade de magistério
nem de historiador) faltei com a ética. A ética de todas as profissões seria
não discutir temas internos dentro das atividades profissionais. Se não deu
para entender, não fica bem dois médicos discutirem a saúde de pacientes em
público. A comparação nada tem a ver com seriedade, pois entre a medicina e a
matéria escolar existem três desertos separando-as.
Mas posso repetir
aqui que a ideia do intelectual hoje é ser do contra nas eleições, posição que
cognomino como próprio da esquerda caviar, ou festiva, porque esse agrupamento
de ideias seria um avanço no entender dos acadêmicos. Dizem avanço e ainda
chamam o contrário de retrocesso. Só que o avançar não inclui desenvolvimento
econômico e social e o retrocesso seria o fim da inflação. Longe de querer
aprender História, o eleitor brasileiro quer é viver bem. Concluindo: se os
historiadores desejam se tornar
respeitados tal como um médico, por exemplo, precisam incorporar a ciência à
lógica com objetividade. Há um desinteresse escolar muito forte, repito que
radical, por matérias como geografia, letras, história. História está em último
lugar no interesse do estudante, que não quer mesmo engolir teorias que nada
resolvem, que não o estimulam a estudar. Alô, MEC, por que não se atenta para
essa questão?
O estudante sabe
que tem que engolir um amontoado de intelectuais do passado que, no final, não
darão respostas aos seus anseios e arguições. O mundo precisa reencontrar-se,
confrontar a sua identidade verdadeira consigo mesmo e não permanecer aí nesses
rodeios intermináveis que não satisfazem a ninguém. Seria quem o dono da
verdade? Aristóteles? Platão? Karl Marx, Marc Bloch, Lucien Febvre, Auguste
Comte, Eric Hobsbawm? Quem mais? Historiadoras mulheres brilhantes ou mulheres
qu deixaram seus nomes gravados?
Aí fica o meu
desafio. Volto em breve com Avanços, Retrocesso, Esquerda, Direita para,
finalmente, chegar a uma nova escola histórica que precisa ser criada, moldada,
montada, discutida. A Historiografia, no decorrer de sua própria história,
conheceu muitas “escolas históricas”, como Escola Metódica - Positivista, Escola dos Annales, Escola Alemã, Escola Moderna, Nova
Escola, Marxismo — cito apenas para lembrar que paramos no tempo.
É
preciso, portanto, criar a nossa independência histórica, a fim de que a teoria
acompanhe a prática e seja estabelecido um novo paradigma de busca das
respostas para as questões seguintes: quem somos? De onde viemos? Para onde
vamos? O que fazemos neste mundo maluco e confuso? Só, então, poderemos chegar
às definições de Avanço e Retrocesso, bem como de outros termos que ocupam o
cérebro do historiador e, particularmente de todos os seres humanos.
E termina aqui o meu Dia de
Cão porque dei conta de não ter que ir mais uma vez à minha querida
cardiologista que cuida de meus dois corações, o humano, físico, e o tocado a
emoções em busca do caminho verdadeiro por meio da ciência.
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