sexta-feira, 28 de setembro de 2018

ESTOU IMPRESSIONADO, ABALADO, COMOVIDO, PERTURBADO

Sou um falsário. Anotem aí:  Falsário, com inicial maiúscula. Em meu último texto aqui no blog escrevi que não falaria mais deste assunto nojento chamado política. Sou um bobo por dizer isso e um traidor por não cumprir a palavra. Expus isso hoje para um eventual leitor e ele me deu uma lição de estarrecer. Enquanto estava aguardando a minha eterna passageira no nosso uber particular, ele me arrastou pelo braço. “Não posso agora!” — argumentei.  Mas ele não ligou e me rasgou na cara uma exigência, lavando-a da testa ao queixo: “Tenho mistérios para te revelar!” Se tem mistérios, aceitei o desafio e me dispus em ouvi-lo. Adoro mistérios.

De pé, na rua, perto do uber particular, ele começou o seu discurso: “Você está tocando o problema pelas veias de todas as questões”, disse. Não entendi. Mas ele ´puxou um maço de papéis do bolso e começou a ler: “Você fala um assunto que me interessa. Sei que ninguém quer ler ninguém. Ou melhor, ninguém tem tempo neste mundo de sufocos e correrias. No entanto, as previsões eleitorais deste ano são mesmo as mais definidas de todos os tempos, como você escreveu: plebiscito, ou A x B. Só dois lados candidatos: o bem contra o mal. Saímos de várias eleições sem rumo porque os candidatos significavam somente caprichos e vaidades. Agora é diferente”. Nossos descendentes entram na jogada: ou sofrerão ou terão a oportunidade de reconstruir o país.  Balbuciou um “nunca antes na história deste país... “, engoliu em seco e parou meio engasgado com tosses (esse rapaz já foi apelidado de “Rei do Cigarro Continental com filtro ou sem filtro”.

Continuou mais ou menos com estas palavras (nem tudo estava escrito): “Foi assim com  Sarney, Collor, Itamar e Fernando Henrique. Mas Lula, não. Entrou com o seu propósito esquerdista, nada deu certo, continuou tocando o bonde (interrompi a sua fala e disse apenas a expressão: “Foro de São Paulo”)”. Ele aquiesceu com a cabeça e continuou: “Chegou a iludir o povo sobre a melhora de vida da pobreza, mas foi apenas uma passagem. 

Entrou Dilma, que deu sequência ao seu plano de governo, recebeu ordens dele, saiu-se mal porque era o plano que nunca  daria certo”. Meu telefone tocou, atendi, era o uber que tinha que funcionar. Ele me deu seu papelório e me ameaçou: “Quero ver tudo publicado hoje mesmo no Zé do Burro”. Saí e comecei a matutar com os meus botões e fechos-ecleres.  Antes de pegar o computador para rabiscar os costumeiros solecismos bárbaros, já em casa, o zap chama de novo. Era ele. Deu novas ordens e me indicou textos da internet. Anotei. E já fui abrindo.

Nas anotações que me passou estava escrito assim: “José Sanna (escreveu com dois enes), por que você construiu sua vida jornalística para enfrentar este problema agora? Fique sabendo que você é responsável por tudo o que vê e, às vezes, nem tenta mudar. Você tem que mexer nos seus pauzinhos para fazer andar o mundo um pouco. Você é um beija-flor que molha o incêndio da floresta”. Falou em analfabetismo técnico-político. Soltou uma crítica aos “doutores” que não enxergam o óbvio e só.




Resolvi deixar um recado que ele mandou para o mundo, que postei nas redes sociais. Ei-lo: “Em 1970, Pelé disse que o brasileiro não sabe votar. O país inteiro, gente velha e nova, de ambos os sexos, caiu na pele do pobre-coitado, mesmo tendo sido tricampeão do mundo. Passados quase 50 anos, está provado que Pelé pode sustentar o que disse. Em plena implantação do comunismo no Brasil, o país no maior buraco econômico de sua história, com 14 milhões de desempregados, 63 milhões de devedores no SPC, ainda há até mais analfabetos funcionais e  políticos, mesmo com cursos superiores, fazendo uma leitura equivocada da desgraça que bate à nossa porta. Com um manancial de informações nos olhos, ainda não têm a coragem de analisar, com frieza, que cavamos a nossa  própria sepultura e de nossos descendentes. Deus, iluminai-nos!”

Concluiu agora por telefone: “O que chamamos de ditadura militar de 64 não era uma ditadura enquanto não chegava ao fim, enquanto não começavam a falar de abertura, anistia, distensão. O povo não foi importunado, não foi afrontado; se houve torturas — e acredito que sim — foi longe de nós.” — justificou que não éramos informados dos fatos. Quis dizer que nem Castelo Branco, nem Costa e Silva, nem Garrastazu Médici, nem Geisel, quanto menos João Figueiredo, foram à TV e ao rádio para dizer: “Povo brasileiro, aqui  vos fala o ditador de vocês”. Não, tudo ocorria na surdina.

O que o nosso interlocutor quer concluir: “Poucos percebem que a arapuca da ditadura bolivariana está praticamente pronta. A esquerda sabe que é agora ou nunca e atracará como um leão avançando à sua presa. Depois de uma vitória, contestada ou não, do esquerdismo, fica concluído o princípio oficial da desgraça brasileira.” 

Fiquei impressionado. Repito: abalado. Reafirmo: comovido. E finalizo: perturbado.

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